Crônica de algumas mortes anunciadas

Marcelo Costa é um jovem e talentoso advogado, combatente dos direitos humanos, tema no qual especializou-se e ao qual dedica o melhor de sua vida.
É dele o texto abaixo:
Acampamento “Cangaia” – Cumarú do Norte, em 2 anos, 12 mortos pela pistolagem.
Marcelo Costa

No Município de Cumarú do Norte está para ocorrer um novo “Eldorado dos Carajás”, é o que se verifica quando assistimos de um lado 400 famílias que há dois anos ocupam a área conhecida como Cangaia, e de outro o a Empresa Fortec Engenharia proprietária da Fazenda Estrela de Maceió de propriedade da Família Farias do Estado de Alagoas que dentre os seus familiares, conta com um Deputado Federal e um histórico de grilagem de terras, trabalho escravo e violência contra trabalhadores rurais no sul do Pará.
Em 2005, o latifúndio improdutivo da Fazenda Estrela de Maceió, já condenado há quatro anos atrás a pagar R$ 5 milhões ao Fundo de Amparo ao Trabalhador por danos morais coletivos por manter trabalhadores em regime de escravidão, foi ocupado e nele criado o Acampamento ‘Brilhante’ organizado pela Fetagri e pela Fetraf, sendo desde então alvo de constantes investidas de pistoleiros da fazenda, além da suspeita de participação de policiais militares. Relatam os trabalhadores que nunca puderam contar com o poder público estadual, já que o Município de Cumarú do Norte, com 15 mil habitantes não possui delegacia e o Delegado do Município de Redenção Dr. Luiz Antônio, sempre fez vista grossa às ocorrências de violência e morte que assolam a área ‘Cangaia’, além de já ter sido presenteado com caminhonetes pelo preposto da Fazenda, Sr. Gérson Araújo.
Ao longo desses dois anos o cálculo da luta pela terra na área ‘Cangaia’ é macabro, já somam, na conta do Sindicato de Trabalhadores Rurais, doze mortos por crimes de pistolagem, sem que até o presente momento um único procedimento policial sequer tenha sido instaurado par apurar os fatos.
Os acampados, que sempre dependeram de cestas básicas do INCRA, que quase sempre demoram muito, resolveram fazer um roçado para garantir o próprio sustento, o que se mostrou um novo motivo para mais atrocidades. Na última sexta feira (22/06) vários pistoleiros prenderam na área de roçado nove trabalhadores rurais, entre homens, mulheres e jovens e os mantiveram em cárcere privado, sem água, comida e sob intenso espancamento, além de queimarem o roçado que haviam feito.
A situação de terror em que se encontram os trabalhadores rurais do Acampamento ‘Brilhante’, há muito tempo já atingiu níveis alarmantes, grave violação de direitos humanos, acentuada com a omissão do poder público que nada faz para conter a onda de violência instalada na região. Enfim, restam presentes todos os ingredientes para uma grande tragédia.
Nenhum desses fatos constitui novidade, já foram amplamente divulgados e devidamente registrados junto aos órgãos públicos, tanto os atos de violência, quanto às denúncias de corrupção e omissão da polícia, mas nada foi feito, verdadeira crônica de uma morte anunciada. No Pará a violência no campo opera com total descaro: sabe-se quem vai matar, quem vai morrer e quem vai ficar olhando.
Resta saber em que lugar você vai ficar!
Façamos um pedido conjunto à todas as organizações nacionais e internacionais de Direitos Humanos, autoridades e demais personalidades a tomarem uma posição firme diante desse fato.
É fundamental que esse fato seja amplamente noticiado, que as autoridades sejam compelidas a tomar atitudes severas contra os arautos da grilagem e da morte. Não precisamos de um outro “Eldorado dos Carajás”

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