Viva Benedito Nunes
Benedito Nunes morreu!
Benedito Nunes vive!
Para sempre!
Tudo o que disser daqui por diante é desnecessário ser dito. É leitura dispensável. Indispensável é ler Benedito Nunes. Agora e sempre.
Acompanhei Bené de longe, mas era um longe perto. Nos anos setenta, como aluno de Introdução a Filosofia cheguei a ele por um monitor, Ernani Chaves, agora doutor. Depois, pela imprensa, pelo Lúcio Flávio Pinto e pelo Zé Carlos Castro, meu professor no Mestrado de Direito (que não terminei, para variar) que era amigo e frequentador da casa-fortaleza de Bené. Nos últimos tempos, por minha conta mesmo. É que não resisti e voltei aos bancos escolares para assistir as aulas de Bené Nunes - de filosofia, literatura e cinema - no Centro de Cultura e Formação Cristã - CCFC, sempre aos sábados. Divulgava as aulas aqui mesmo neste blog. Sempre que dava, ia às aulas. Bené me parecia, visto de longe, um monstro sagrado. Visto de perto, era maior ainda. Eu e Araceli começamos a prestar atenção, muita atenção, no seu discípulo Vitor Pinheiro, filho de um colega de turma, Pedro Bentes Pinheiro, o Pedrinho. Telefonei hoje ao Pedrinho para transmitir minha solidariedade ao Vitor, que veio do Rio para visitar o preceptor e terminou acompanhando seus últimos dias. Vitor Pinheiro tem a responsabilidade de dar continuidade a obra de Bené Nunes e, mais adiante, sucedê-lo. Superá-lo, quem sabe. Bené Nunes, claramente, visivelmente, escolheu Vitor Pinheiro para ser seu pupilo e sucessor. Vou acompanhar Vitor com muita atenção e cuidado. Não o perderei de vista, como não perdi o Bené.
Nos últimos meses a vida me deu uma oportunidade rara, raríssima. Graças à Simone Neno - que me deu a triste notícia da morte hoje - e ao Magnífico Reitor Maneschy, fui aceito como integrante externo do Conselho Editorial da Editora da UFPA. O Presidente era Benedito Nunes. A mim coube muitas vezes levá-lo de volta para casa, na Travessa da Estrella - ele recusava a mudança de nome para Mariz e Barros e manteve até agora o nome antigo, em uma placa de esmalte daquelas antigas, entre as heras - uma fortaleza do saber. A força da sabedoria impulsionava Bené, que sabia de tudo. Sabia da igreja evangélica que ficava nos fundos de sua casa (reclamava do barulho, com resignação aparente). Sabia do semáforo da esquina, que já vai fazer um ano de instalado sem funcionar (irresignado). E sabia de sabedoria, que comunicava em cada gesto, em cada palavra. Dei-lhe notícias da Europeana - tem link aí do lado - e a simples menção ao conteúdo foi bastante para atrair seu interesse com juvenil vivacidade. Prometi voltar para mostrar-lhe como ter acesso a ela na Internet. Fiquei devendo essa.
Paulo Chaves, outro pupilo, disse-me dias atrás que iria procurá-lo para ouvir o que ele tinha a dizer - ele sempre tinha muito o que dizer - sobre a memória do Pará, mais especificamente, sobre o Arquivo Público. Não deu tempo, presumo. Paulo Chaves vai ter que descobrir o que Bené pensaria lendo e relendo o filósofo da Travessa da Estrella.
Dizer que o Pará fica mais pobre é lugar comum. Todos dirão. Mas todos dirão a verdade.
Agora, só me resta fazer o que não gostaria de fazer nunca: ir à Igreja de Santo Alexandre e prestar homenagens póstumas a Bené Nunes.
Que viverá para sempre em cada um de nós.
Bené vive!
Viva Bené!
Benedito Nunes vive!
Para sempre!
Tudo o que disser daqui por diante é desnecessário ser dito. É leitura dispensável. Indispensável é ler Benedito Nunes. Agora e sempre.
Acompanhei Bené de longe, mas era um longe perto. Nos anos setenta, como aluno de Introdução a Filosofia cheguei a ele por um monitor, Ernani Chaves, agora doutor. Depois, pela imprensa, pelo Lúcio Flávio Pinto e pelo Zé Carlos Castro, meu professor no Mestrado de Direito (que não terminei, para variar) que era amigo e frequentador da casa-fortaleza de Bené. Nos últimos tempos, por minha conta mesmo. É que não resisti e voltei aos bancos escolares para assistir as aulas de Bené Nunes - de filosofia, literatura e cinema - no Centro de Cultura e Formação Cristã - CCFC, sempre aos sábados. Divulgava as aulas aqui mesmo neste blog. Sempre que dava, ia às aulas. Bené me parecia, visto de longe, um monstro sagrado. Visto de perto, era maior ainda. Eu e Araceli começamos a prestar atenção, muita atenção, no seu discípulo Vitor Pinheiro, filho de um colega de turma, Pedro Bentes Pinheiro, o Pedrinho. Telefonei hoje ao Pedrinho para transmitir minha solidariedade ao Vitor, que veio do Rio para visitar o preceptor e terminou acompanhando seus últimos dias. Vitor Pinheiro tem a responsabilidade de dar continuidade a obra de Bené Nunes e, mais adiante, sucedê-lo. Superá-lo, quem sabe. Bené Nunes, claramente, visivelmente, escolheu Vitor Pinheiro para ser seu pupilo e sucessor. Vou acompanhar Vitor com muita atenção e cuidado. Não o perderei de vista, como não perdi o Bené.
Nos últimos meses a vida me deu uma oportunidade rara, raríssima. Graças à Simone Neno - que me deu a triste notícia da morte hoje - e ao Magnífico Reitor Maneschy, fui aceito como integrante externo do Conselho Editorial da Editora da UFPA. O Presidente era Benedito Nunes. A mim coube muitas vezes levá-lo de volta para casa, na Travessa da Estrella - ele recusava a mudança de nome para Mariz e Barros e manteve até agora o nome antigo, em uma placa de esmalte daquelas antigas, entre as heras - uma fortaleza do saber. A força da sabedoria impulsionava Bené, que sabia de tudo. Sabia da igreja evangélica que ficava nos fundos de sua casa (reclamava do barulho, com resignação aparente). Sabia do semáforo da esquina, que já vai fazer um ano de instalado sem funcionar (irresignado). E sabia de sabedoria, que comunicava em cada gesto, em cada palavra. Dei-lhe notícias da Europeana - tem link aí do lado - e a simples menção ao conteúdo foi bastante para atrair seu interesse com juvenil vivacidade. Prometi voltar para mostrar-lhe como ter acesso a ela na Internet. Fiquei devendo essa.
Paulo Chaves, outro pupilo, disse-me dias atrás que iria procurá-lo para ouvir o que ele tinha a dizer - ele sempre tinha muito o que dizer - sobre a memória do Pará, mais especificamente, sobre o Arquivo Público. Não deu tempo, presumo. Paulo Chaves vai ter que descobrir o que Bené pensaria lendo e relendo o filósofo da Travessa da Estrella.
Dizer que o Pará fica mais pobre é lugar comum. Todos dirão. Mas todos dirão a verdade.
Agora, só me resta fazer o que não gostaria de fazer nunca: ir à Igreja de Santo Alexandre e prestar homenagens póstumas a Bené Nunes.
Que viverá para sempre em cada um de nós.
Bené vive!
Viva Bené!
Comentários
Li com muita emoção o seu post. No domingo, ao ler o Flávio Nasar, que tinha colocado um video com uma entrevbista com o Bené, fiquei tão incomodado com o que aquilo significava que me recusei a ler qualquer notícia nos jornais paraenses. Sei que em nada alteraria os triste fatos, mas, em compensação, burra compensação, poderia ficar a ilusória ficção de sua continuidade física. Mais tarde, depois de pensar um pouco mais, aceitei aquele fato, pois,como diz o povo, o que não tem remédio, remediado está.
Hoje, sei que o Bené há muito faz parte de mim, desde os tempos em que no científico dava as primeiras noções de Filosofia e que se consolidou com a amizade surgida pelo convívio no Grupo de Central Café, onde conversávamos sobre tudo. Foi com ele que, mesmo discordando do que lia, reforcei o meu conhecimento sobre o Idealismo e suas modernas manifestações. Lembro até um dia em que ao devolver o "A Study of History", ele me perguntou se eu tinha gostado, agradeci o empréstimo e disse que gostei tanto que o li duas vezes. Como ele me preguntou porque duas vezes, disse que uma foi para tentar aprender alguma coisa e a segunda por mera satisfação de quem lê uma excelente ficção. Foi o bastante para uma boa discussão, divertida e amiga, pois, sem esses dois ingredientes jamais teríamos mantido o Grupo e a amizade que nos unia. E assim me sinto até hoje.