A Lenda do Galo de Santo Domingo de La Calzada

Finalmente vou contar a lenda do galo de Santo Domingo de La Calzada, o grande construtor de pontes e estradas do Caminho de Santiago, ao lado de San Juan de Ortega, o patrono dos Engenheiros e, como dizem eles em Espanha, o Primeiro Companheiro.
Diz a lenda que um casal de peregrinos alemães, de Colônia, peregrinava com seu jovem filho (um guapo, como dizem as espanholas), em direção a Santiago de Compostela. Na hospedaria do burgo onde hoje é Santo Domingo de La Calzada, a garçonete (camarera) tomou-se de amores pelo guapo. Mas para azar dela - e dele - o guapo não correspondeu. Assim repudiada, a paixão converteu-se em ódio e do ódio fez-se a trama. Ela escondeu uma peça de prata na mochila do guapo jovem e deu o alarme, forjando um crime de furto, que na época era punido com a pena de morte.
O jovem foi rapidamente levado a um juiz, celeremente julgado e executado na forca, como era de direito naqueles tempos. Inconsoláveis, os pais prosseguiram na peregrinação, cumpriram todo o restante do percurso e regressavam para casa (naqueles tempos a peregrinação era de ida-e-volta, como fazem alguns ainda hoje). Passando de regresso por Santo Domingo de La Calzada ouviram a voz de seu filho, concluindo que ele estava vivo e atribuindo esse milagre ao Santo. Procuraram o mesmo juiz que havia condenado o rapaz à forca. O magistrado se preparava para almoçar um galo e uma galinha, devidamente assados. Desdenhando do casal, o juiz gracejou dizendo-lhes que seu filho estava tão vivo quanto aquele galo e aquela galinha que ele iria comer em seguida. Mal o juiz acabou de falar galo e galinha ressuscitaram e começaram a cantar, como fazem galos e galinhas vivas. O milagre foi atribuído ao Santo e correu mundo. Não sei se foi devidamente homologado pelo Ofício correspondente, mas com certeza o foi pela fé dos crentes.
E tanto assim o é que cuidaram de mandar fazer um galinheiro gótico na Catedral - é o único galinheiro gótico que conheço e, creio, o único que fica em lugar de destaque em uma Catedral - e lá colocaram o galo e a galinha ressuscitado.
A tradição se mantém até os dias de hoje. O galo e a galinha são substituídos a cada trinta dias. São criados em um galinheiro mantido pela mesma cofradia que mantém o Albergue de Peregrinos de Santo Domingo de La Calzada (aquele que foi visitado pela Rainha Sofia em 1993), que também custodia os restos da forca utilizada para executar o jovem que depois ressuscitou como o galo e a galinha.
Por isso de Santo Domingo de La Calzada diz-se ser a cidade donde el gallo ha cantado mismo despues de asado.
Não sei o que é feito nos dias de hoje com os galos e galinhas que são substituídos a cada trinta dias. Suspeito que são assados e dados para o juiz da comarca almoçar. Mas é só uma suspeita, pois não tive ânimo de indagar.
Qualquer semelhança com a lenda do Galo de Barcelos, aquele de Portugal, não é mera coincidência. A estória é a mesma, com a só diferença de ser o peregrino galego.
Dívida quitada para com os leitores, ainda não ponho um ponto final nestas notas porque preciso fazer uns agradecimentos.
Que ficam para depois.

Comentários

Ronaldo Giusti disse…
Meu caro,

Amanhã Marabá será a capital do Estado: será palco da Plenária do Orçamento Territorial Participativo da região do denominado pólo Carajás (cerca de 12 municípios). A iniciativa faz parte do projeto do Governo do Estado de consagrar a participação popular. Sinto nos companheiros e tecnicos do governo sinceridade de propósitos e acredito na proposta. Araceli poderia estar aqui com agente. Você também. Contribuições sei que têm, os dois. Mas devem aprticipar da Plenária da Região Metropolitana.
Anônimo disse…
Alencar,
Ainda de férias? Volte e atualize o blog. Não o esqueça, nem o deixe de lado!
Abraços.
JOSE MARIA disse…
Meu caro Francisco.

Obrigado pela leitura e pelo incentivo.
Voltei à atividade só agora, segunda-feira. Estou em aquecimento na margem do gramado para voltar a atualizar o Blog.
Anônimo disse…
Caro Alencar

Ontem, por volta das 10h da manhã, no ponto de ônibus localizado na Av Tamandaré, próximo a Pe. Eutiquio (ao lado da loja Esplanada), um jóvem cadeirante de nome Paulo (portador de necessidade especial - paraplégico), estava padecendo, sob o sol, na beira do asfalto (as calçada, por serem altas e não possuírem rampas, não dando condições à sua locomoçã). Ele estava tentando apanhar, sem sucesso, um ônibus da linha Jibóia Branca, pois já haviam passado dois ônibus da linha e não pararam, foi quando as pessoas em volta perceberam a lamentável situação e num ato misto de indignação, preocupação e solidariedade se aproximaram (inclusive eu e minha companheira) ao rapaz. Ficamos em sua volta e indignados com o fato comentávamos a falta de respeito. Enquanto isso, nem sinal do próximo coletivo. O sol ardia em nossas cabeças e costas (não há abrigo no ponto) e já éramos cerca de cinco pessoas, mas ninguém arredou o pé. Foi quando já se passavam quase uma hora, que surge o terceiro ônibus (nº de ordem AF 96811). Finalmente o veículo parou, carregamos o jovem em sua cadeira e o colocamos no veículo, pois não se tem notícia que existam ônibus adaptados na RMB. Em seguida descemos e ficamos observando o aceno de agradecimento do rapaz.
Naquele momento pude perceber que, apesar das agruras sofridas no dia-a-dia para locomover-se, ele poderia sempre contar com a anônima solidariedade humana.
Enquanto isso a prefeitura faz ouvido de mercadora, as políticas públicas passam longe dessa realidade, os motoristas desforram seus estresses nos passageiros e os empresários continuam ávidos de reajustes tarifários.
JOSE MARIA disse…
Meu caro Denis.

É impressionante o que está acontecendo em Belém. Grupos específicos - motoristas de ônibus, perueiros, camelôs, taxistas et caterva - sob o olhar bovinamente complacente das autoridades, nos tratam como batráquios. Vai chegar o dia em que pretenderão que fiquemos todos de cócoras, com eles. Regredindo na escala humana, brevemente progrediremos para a barbárie.
Felizmente, quando chegamos nesses extremos, a reação acontece e nossa condição humana rebrota, como ocorreu nesse caso, exemplar e animador.
É um abuso que não tenhamos parte da frota ou toda ela rebaixada e com rampas para portadores de necessidades. O que me irrita é saber que a solução existe, não é tão cara assim, já está implantada em outros lugares, e só aqui continuamos tratando seres humanos como animais inferiores.
Dia chegará que bois, frangos e porcos terão melhor tratamento que seres humanos. O sistema sanitário animal brevemente, pressionado pelo mercado externo, superará em qualidade e quantidade o sistema sanitário humano, nosso SUS velho de guerra.
Continue mandando, meu caro. Bem, como sempre.
Anônimo disse…
Voltou...

Tô esperano livro sobre Santiago!

Postagens mais visitadas