O Uruguay de Tabaré

Bem no centro de Montevideo tem um cubo de vidro que parece - e é - um edifício, que ocupa toda uma plazoleta, na ilharga direita da estátua equestre de Artigas, que nele se reflete. A esquerda de quem o mira de frente, fica o Palácio Salvo, com o encanto de sempre.
Na primeira vez que estive em Montevideo - lá se foram mais de vinte anos - ele era um esqueleto de concreto que enfeiava a praça. Soube que ali seria a nova sede da Suprema Corte, que vinha sendo construída há vinte anos. Pensei que fosse má vontade da ditadura uruguaia, contemporânea da nossa.
Voltei alguns anos depois - já sob a democracia - e lá estava o esqueleto, agora todo revestido de vidro, mas oco por dentro. Me explicaram que como enfeiava a praça, arrumaram uma graninha e anteciparam o acabamento externo, revestindo de vidro. Continuava sendo a futura sede do Poder Judiciário.
Mais umas duas vezes passei por lá e ele continuava impávido cubo de vidro.
Voltei agora no final do ano e alguma coisa mudou. O cubo de vidro oco continua o mesmo, mas agora vai ser a sede do Poder ... Executivo!
Isso mesmo! Acho que cansados de esperar pela conclusao, meus colegas do Poder Judiciário resolveram continuar onde sempre estiveram, em um belo e sólido prédio neoclássico, algumas quadras antes, e deixaram o cubo de vidro para Tabaré.
Que por sua vez preferiu continuar morando em sua casa de classe média alta, em um bairro chique da Capital, transformando a residência oficial em seu escritório de trabalho. E assim as coisas se arrumam no Uruguay de Tabaré.
Mas o cubo de vidro oco continua, pelo menos para mim, o emblema - ou a alegoria - mais completo do Uruguay, que a quarenta anos tenta construir alguma coisa que parece - e é - um edifício envidraçado, que ainda nao se sabe bem o que quer ou vai ser.
Enquanto nao se decide, continua-se fazendo bem o que bem se sabe fazer por aqui: parrilla. Da melhor qualidade, que nao nos leiam los hermanos argentinos. E agora, nesse novo Mercado del Puerto - o Puerto Madero ou a Estaçao das Docas de Montevideo - tem parrilla para todos os gostos e preços. E bem do lado tem o Museu do Carnaval, de postres. Quando tem cruzeiro no porto é uma estiva conseguir um lugar nos restaurantes do Mercado. Mas vale a pena esperar ou, para os mais apressadinhos, encarar um tamborete no balcao dos restaurantes de dentro do Mercado propriamente dito. Em qualquer deles, vale a pena também pedir um Tannat, o varietal que é o orgulho nacional. Gostei do que provei, com o perdao do Malbec de los hermanos, que - justiça se lhe faça - está cada vez melhor.
E assim, entre chinchulines, mollejas, riñones, asados e Tannat, segue a vida no Uruguay de Tabaré.

Comentários

morenocris disse…
Que maravilha, Alencar. Estou viajando com vc.

Beijos.

E a festa aí, de final de ano?

:)
JOSE MARIA disse…
Cris,

Obrigado pela leitura entusiasmada.

Aqui nao tem a tradiçao de um
Reveillon da pesada, como no Rio de Janeiro.

Mas teve pirotecnia e muitos queimados por conta disso. Mas por incrível que pareça a quantidade de queimados nos asados - isso mesmo, nos churrascos - foi maior que a de queimados por fogos de artifício. Estatísticamente faz sentido: argentino gosta mais de asado do que de fogos de artifício.

Mas ficou legal os céus de Buenos Aires com fogos de artifício em todas as direçoes. Faltou luz em muitas partes da cidade. Alguns hotéis ficaram às escuras. Bares também. Mas a moçada encarou legal assim mesmo.
Eu preferi comprar queijos, frios, paes e vinhos na Falabella e umas frutas no quitandeiro da esquina e ficar no apartamento, depois de bater pernas o dia todo.
Valeu.

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