Mãe, Quero Ser Boi!

O advogado Sobral Pinto, católico conservador, defendia comunistas. E explicou em livro porque fazia isso. Ele é homenageado com seu nome em uma esquina - isso mesmo, esquina - do Largo da Carioca.
No século passado, em uma das esquinas da vida ele cruzou com Carlos Prestes, que estava encarcerado pela ditadura Vargas em um socavão de escada, onde ele não podia ficar de pé, nem de cócoras, nem deitado. Tinha que ficar inclinado, vergado. Era para humilhar mesmo.
Sobral Pinto requereu que fosse aplicado ao caso de seu cliente a Lei de Proteção aos Animais. E as condições carcerárias do líder comunista melhoraram.
Já neste século, as folhas noticiam que o governo, os fazendeiros e os frigoríficos brasileiros vão cumprir uma diretiva da União Européia sobre sanidade animal. Soberania relativa é isso aí, bicho.
A vida - e a saúde - bovina vai melhorar cada vez mais, com vacinações, vermifugações, rastreamento por chip e condições ambientais excelentes. Saúde não vai ser coisa só de vaca premiada.
Entrementes, para peão do trecho, continuam valendo as regras de tratamento degradante de sempre, com direito a febre amarela, tifóide, malária, tuberculose e o vasto rol de doenças da pobreza.
Logo logo o Ministério Público e os advogados dos peões vão requerer a aplicação dessa diretiva européia de saúde animal para seus clientes.
Antigamente, lá em Bragança, quando as mães perguntavam para as crianças o que elas queriam ser quando ficassem grandes, a resposta, sempre na ponta da língua era: funcionário do Banco do Brasil.
Dia chegará em que os filhos dos peões do trecho responderão às mães:
- Mãe, eu quero ser boi!

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