Cenários e Rumos

A abertura do 34º Congresso Nacional sobre Gestão de Pessoas - CONARH, como sempre tem alguma coisa surpreendente e emocionante. Este ano foi a execução do Hino Nacional pelo ex-pianista João Carlos Martins, que perdeu os movimentos da mão direita depois de ser ferido em um assalto. Reinventando-se, ele agora é regente de orquestra. Superando-se, voltou ao piano para executar um Hino Nacional com um arranjo diferente, tocado com apenas o polegar da mão direita e a mão esquerda. E muita emoção. Foi aplaudido de pé. Merecidamente. Nesse caso não foi gafe aplaudir a execução do Hino.
Em seguida falou o economista Ricardo Amorim, do Banco WestLB, que também é apresentador do Manhattan Conection.
Como é do gosto dos economistas, começou pelas más notícias (os economistas são os culpados, segundo ele), para criar expectativa favorável para as boas notícias que deu em seguida.
Começou falando da década perdida para imediatamente afirmar que na verdade foi perdida uma geração (a nossa). E depois deu as boas notícias. Um resumo delas.
O Brasil está parando de submergir, com as mudanças havidas a Ásia está dando as cartas e isso é uma oportunidade única para o Brasil. O mito de que EUA e Europa serão eternamente dominantes não passa de mito mesmo. Os emergentes estão emergindo e deixando os desenvolvidos para trás: o crescimento mundial não vem mais dos desenvolvidos e os emergentes já mandam na economia mundial. A Índia está faminta por commodities (e por ouro para os dotes das donzelas casadoiras). A China - prá frente e avante! - desconta o atraso (como a Índia). Cauteloso, alerta que a bonança das commodities pode ser uma bolha, mas a tendência de alta pode durar décadas (essas bolhas são menos voláteis que outras).
E - tchan tchan tchan! - a América Latina é beneficiária da nova ordem mundial. O Brasil - tchan tchan tchan para ele também! - é mais beneficiado que todos: maior área agricultável e com espaço para grande ampliação da produção (Amazônia de fora!).
Voltou a falar do domínio asiático: a dominância chinesa só seria contrastada pela das empresas de petróleo.
E revisitou as más notícias para falar da recessão americana: calotes nas hipotecas e vendas despencando, arrasando balanços de bancos. Nessa batida logo logo o Brasil vai estar resgatando bancos americanos do fundo do poço. A sinuca americana passa pelo excesso de consumo, fragilidade que, somada a termos de troca piorados, exigem baixo crescimento e desvalorização do dólar. Pergunta ele se EUA estariam repetindo a trajetória japonesa dos anos 90 e responde: os mercados acionários dizem que sim.
Dá um pulo para o outro lado do Atlântico para dar outra má notícia: Europa e Inglaterra seriam as bolas da vez, isto é, as próximas casas (mercado hipotecário) e moedas a ruírem.
O contraponto fica por conta do descolamento da economia mundial e do risco inflacionário, pois enquanto os EUA desaceleram, os emergente aceleram, reequilibrando a balança. O risco de inflação agora viria da China, pois metade do mundo está com inflação de dois dígitos e o Brasil está entre os casos menos sérios porque alimentos e gasolina pesam menos aqui.
Brasil está surfando a onda global: a economia brasileira melhora em seu contexto, ou seja, na América Latina, aproveitando a chance (de zona de risco tornou-se pilar da estabilidade econômica global), diminuindo a distância para nuestros hermanos. E ganhando mercado com aumento da participação no mercado mundial e altas taxas de juros levando à valorização cambial.
Falou também de um Brasil menos miserável: crédito com espaço para crescer, miséria e pobreza em queda, distribuição de renda péssima - mas melhorando - e, claro, popularidade presidencial em alta. Segundo ele o Brasil melhorou muito e não está mais sujeito à crises econômicas, anotando que o peso do setor público (Previdência sobretudo) limita o crescimento.
E conclui, mais otimista que economista chapa branca, reafirmando que a mudança de eixo da economia mundial para Ásia e países emergentes cria oportunidade única de desenvolvimento para o Brasil. E que os riscos para a economia mundial vêm dos EUA e Europa, mas o elo de transmissão deles para o Brasil está na China.
Arremata que crescimento sustentado é impulsionado pela renda.
A julgar pelos aplausos que recebeu, parece que disse o que o auditório queria ouvir.
Em um dia que começou com o massacre do escrete canarinho pelos argentinos em Pequim, boas notícias mereciam todos os aplausos. Se houvesse alguma relação de causa-efeito na ordem inverso, o escrete canarinho bem que poderia continuar perdendo todas. Se for para o bem do Brasil...

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