São Luis de Todos os Bois

Cheguei a São Luis no finalzinho da temporada de bois, que este ano, na propaganda oficial, aparece como Bumba meu coração.
Ontem, sábado, fui ao Arraial da Jansen, junto da Lagoa homônima (a Rodrigo de Freitas de São Luis, se me permitem a comparação). Fui assim sem esperar muito e, admito, fui surpreendido já na entrada, com um pórtico muito bem transado, feito de folha de najá trançado (o mesmo trançado dos cofos (cestos, para o resto do Brasil) de camarão seco e dos abanos, que vemos nas feiras daqui de São Luis, de Bragança - PA e de Belém - PA. O Arraial é patrocinado pelo governo estadual e uma récua de empresas, públicas e privadas
No palco, já rolava a apresentação do Boi da Fé em Deus, um boi de sotaque de zabumba (ou de Guimarães), com uma poderosa onça (cuíca)  e fitas cadentes que relembraram-me as comitivas de São Benedito e a marujada de Bragança - PA (onde é inegável a influência da cultura da Baixada Maranhense). A presença de crianças no boi e na platéia - no finalzinho elas invadiriam  o palco para dançar com o boi - é a garantia de que a cultura será mantida e fortalecida. Esse boi tem 73 anos, mas nem por isso deixou de evoluir. Foi o primeiro que topou decorar o couro do boi com figuras feitas com miçangas e canutilhos, uma prática hoje adotada por todos, não só no couro, mas nas roupas, nos saiotes, nos chapéus e nas golas, cada vez mais coloridas e bem elaboradas. Não deixa de ser uma carnavalização, mas isso, penso eu, tem dado ótimos resultados estéticos. O efeito dessa evolução, combinado com a iluminação profissional dos dias atuais, produz belos efeitos, ao vivo e em vídeo. Para ver como é clique aqui.
Em seguida subiu ao palco - com atraso, resmungou o apresentador - o Boi de Axixá, o mais famoso boi de orquestra do Maranhão. É um boi muito mais elaborado, com coreografia de passos marcados e uma evolução primorosa. Vendo estes brincantes e a beleza da dança imagino o resultado que seria do encontro do balé clássico com as nossas danças folclóricas. Na URSS do socialismo real, no Senegal pós-colonialismo e no México dos anos cinquenta isso foi feito, com resultados excepcionais. Lastimo que aqui no Brasil e, em particular, aqui no Pará, essa iniciativa ainda não tenha sido tomada. Nada contra o balé clássico e muito menos contra a ópera, mas se quisermos fazer a diferença temos que optar por um balé folclórico que una a base do balé clássico com a riqueza das nossas danças folclóricas. Fica a sugestão, feita de passagem. Para tirar a prova dos nove - ou real - clique aqui  e veja o que é capaz de dançar o Boi de Axixá (no caso, no Arraial da Jansen de 2011). Concorde comigo: é imperdível.
Para tirar o atraso o apresentador chamou logo o antepenúltimo - para mim o último - boi da noite, o Boi de Santa Fé, um boi de matraca (ou da Ilha, como também é conhecido, por ser originário da Ilha de São Luis) que arrasou do começo ao fim, pois foi acompanhado por muitos expectadores que da platéia marcavam o ritmo com matracas que eram vendidas por um regueiro (a 10 reais o par). Para resumir - e conter o entusiasmo - esse boi é uma maravilha, uma beleza. Para conferir, clique aqui.
Enquanto assistia essas apresentações todas encarei uma porção de sarapatel de bode em uma das barracas armadas - e muito bem armadas - ao redor do arraial, coisa para Anthony Bourdain nenhum botar defeito.
Quando saí, depois das dez da noite, se apresentava um grupo de samba de responsa, o Amigos do Samba (o vocalista era o apresentador e dessa vez não resmungou de atraso nenhum). Ainda deu tempo de assistir um arranjo de Tico-Tico no Fubá muito legal e o começo de uma toada, em ritmo de samba.
Não fiquei para assistir os bois da Maioba (que se diz top de linha e gravou um DVD este ano) e de Maracanã. Não faz mal. Tenho agora um bom pretexto para voltar ano que vem, porque neste domingo terminou a temporada do boi do Maranhão, com o lava-boi em São José de Ribamar (que não encarei para não ter que ter que enfrentar uma muvuca de 100 mil pessoas espremidas na pequena cidade da Ilha, preferindo uma programação mais amena: almoçar no Maracangalha, um restaurante da Confraria da Boa Lembrança, que também é imperdível).

Comentários

Ronaldo Giusti disse…
Que inveja, amigo! Maranhense de São Luís e da Fé em Deus, perdir a grande festa.

Ronaldo Giusti

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