Retrato 3 por 4 de 66


Devidamente autorizado pelo próprio autor, o Economista Edson Roffé Borges, divulgo o seguinte texto de memórias.



Retrato 3 por 4 de 66


Edson ROFFÉ Borges


APRESENTAÇÃO



Com este “Retrato 3 x 4 de 66” pretende-se rememorar alguns acontecimentos, fatos e
atos ocorridos no ano de 1966, no Brasil, no Pará e, especialmente, em Belém, passado 45 anos.
O objetivo fundamental deste “Retrato” é resgatar, com base em pesquisa junto aos jornais
da época que circulavam em Belém (A Província do Pará e Folha do Norte), algumas questões que
marcaram, de alguma forma, a vida de uma parcela da juventude que viveu a “Rota 66” versão
tupiniquim, boa parte dela nascida logo após o fim da II Guerra Mundial. Nessa geração se inclui os
que, ainda bem jovens, ingressaram no CPOR de Belém, para prestar o serviço militar obrigatório,
na condição de alunos do Centro de Preparação de Oficiais da Reserva da 8ª Região Militar, ainda
que todos fossem voluntários, exceto um deles.
Não há, contudo, nenhuma intenção de esgotar o tema, até porque a escolha dos
acontecimentos a serem “retratados” se deu ao sabor da escolha do autor, muito mais por intuição
do que por reflexão.
Fonte: Acervo do IBGE – Belém de 1966.


COISAS DA E NA IMPRENSA


Matéria publicada no início de maio de 66 reproduz declarações do “eminente Ministro do
Superior Tribunal Militar, General Pery Bevilacqua, que acusa o Sr. Roberto Marinho de ter
cometido crime de lesa-pátria”, ao “tentar apontar como seus cúmplices aqueles eminentes
homens públicos e o próprio líder da revolução moralizadora de 31 de março”.
“O vendilhão da Pátria que negociou com um grupo de estrangeiro a exploração de um
canal de televisão que pertence à Nação, insinua que só começaram a chegar os milhões de dólares
do grupo Time-Life dezoito dias depois de ter recebido virtualmente do Presidente da República a luz
verde, na base do provérbio popular: ‘Quem cala consente’. A sua carta ao Presidente Castelo
Branco é de 5 de fevereiro de 1965 e o primeiro recebimento de dólares em 1965 foi no dia 23 do
mesmo mês”, afirmava o General Bevilacqua.
Foi também no primeiro semestre de 1966 que se iniciaram as negociações que resultaram
na compra do falido jornal “O Liberal”, em Belém, até então pertencente ao engenheiro Ocyr
Proença, pelo jornalista Rômulo Maiorama. O jornal antes pertencera ao Partido Social
Democrático, o mesmo PSD que dera sustentação final ao grupo político liderado pelo General
Joaquim Magalhães Barata (“os baratistas”).
Também outro fato marcante para a imprensa local, foi o falecimento, em abril de 66, do
jornalista Paulo Maranhão, dono da Folha do Norte, Folha Vespertina e do Flash, à época o mais
poderoso grupo de comunicação social do Pará e arqui-rival dos “baratistas”.
Com algum destaque os três jornais locais de maior circulação (Folha do Norte, A Província
do Pará e o Liberal), noticiavam no início de maio a eleição da nova diretoria do Grêmio General
Gurjão (o “GGG”), que reunia os alunos do CPOR, cuja posse se deu no dia 21 desse mês, no início
da semana comemorativa do centenário da Batalha de Tuiutí.
Nessa ocasião deu-se a entrega dos distintivos aos novos alunos, ingressos em 13 de
março, após o que jogos esportivos internos e à noite festa dançante no cassino do GGG.
Foram empossados os alunos ANDRÉ, como presidente; MONTEIRO, vice-presidente;
PANTOJA, como 1º secretário; LASSANCE, como 2º secretário; MATOS, como tesoureiro; SILVA,
como diretor de esportes; ROFFÉ, como diretor de relações públicas; GOMES, como diretor de sede;
e PINHO, como orador oficial.

COISAS NA RÁDIO E NA TV

No dia 19 de novembro a programação da TV Marajoara – Canal 2 (única emissora de TV
em Belém) iniciava às 13h00 com um “poupourri” de músicas, onde incluía o grande sucesso da
época: “Disparada”, de Geraldo Vandré e Théo. No horário vespertino era apresentada a série “A
Feiticeira”, patrocinada pela MARCOSA S.A.; Moacyr Franco Show, com patrocínio de Maisena e
Probel; “Chico Anísio Show”, apresentado às 21h30 era considerado o programa imperdível da
época, graças ao patrocínio das Lojas Pernambucanas e da MAPASA.
Um pouco mais cedo começava a programação das emissoras de rádio, com a ZE-20 e ZE-
21, Rádio Marajoara (dos Diários Associados), que iniciava às 07h00, para logo a seguir apresentar o
programa policial de maior sucesso na ocasião: “A Patrulha da Cidade”, que voltava a ser
apresentada em outros horários, inclusive no encerramento, à meia noite. A rádio novela de maior
sucesso era “Tortura de um coração”, em seu 72º capítulo, dentro do Teatro Gessy.
Havia ainda o Teatro de Novelas GELOTEVÊ, às 12h35 horas, com “Amar até morrer”. Tudo
isso para compensar o fato de que a TV na época ainda não apresentava novelas.
Mas nem tudo era novela “água-com-açúcar”. Nessa semana, quando o Marechal Costa e
Silva visitava a TV Excelsior, no Rio de Janeiro, deu autorização ao imitador Geraldo Alves, para fazer
um quadro humorístico sobre ele. O imitador preparou tudo, mas na hora do programa ir para o ar,
a Censura cortou.
Ainda em 1966, no dia do seu aniversário, em 3 de outubro, Costa e Silva foi eleito
presidente da República pelo Congresso Nacional, obtendo 294 votos. Foi candidato único pela
ARENA. O MDB se absteve de votar. Tomou posse, em 15 de março de 1967. Seria o segundo
presidente do ciclo militar iniciado em 31 de março de 1964.
Enquanto isso, a direção da TV Globo decidiu não mais lançar a novela “E o vento levou”.
Motivo: todo mundo já sabia o fim da estória e por isso seria impossível manter o suspense e a
audiência até o final.

NOS PORTOS E AEROPORTOS

A chegada e saída de navios e aviões, nessa época, eram regularmente publicadas na
imprensa de Belém. No dia 19 de novembro de 66, chegavam ao aeroporto internacional de Val-de3
Cans o DC-4 da Paraense Transportes Aéreos (PTA), procedente do Rio; o DC-8 (4 turbinas) jato da
Pan-American, procedente de Nova Iorque, com escalas em Barbados, Port of Spain, Georgetown e
Paramaribo. O super Constelation da VARIG vindo de Manaus, com escala em Santarém, afora o DC-
8 da VASP, vindo de Fortaleza e o DC-3 e o Caravelle da Cruzeiro do Sul.
Eram previstas as saídas dos navios Bernard e Boniface, da Booth Line, para a Europa; o
Valiente, Clement e Veloz para os Estados Unidos. O Lloyd Brasileiro anunciava a chegada de seu
navio “Rosa da Fonseca”, para o dia 27 de novembro, em trânsito para Manaus. A Lamport & Holt
Line Ltd. informava que seu navio “Vamos” carregará em Belém, entre 25 e 27 do novembro, para
depois partir para Nova Iorque. A SNAPP também anunciava a posição de seus navios e a FRONAPE
dava conhecimento de que seu navio petroleiro “Jacuípe” era esperado dia 23 com combustível
para Belém e Macapá.

APURAÇÃO DE ELEIÇÕES

Nesse mesmo dia 19 de novembro ainda se estava apurando os votos da recente eleição
para prefeito dos municípios do interior, já que as capitais e as cidades consideradas em área de
segurança nacional, os seus gestores eram nomeados. Em Muaná vencia o pleito o candidato
Orlando Braga, da ARENA, contra seu adversário da sublegenda do mesmo partido. Em Abaetetuba
a vitória vinha sendo de Hildo Carvalho, também candidato da sublegenda desse partido. De Tomé-
Açu vinha a informação de que a apuração ali apontava a vitória do candidato Jarbas Passarinho,
para o Senado, com 267 votos, enquanto Moura Palha tinha até então 44 votos. Para Deputado
Federal, naquele município, os mais votados eram então Juvêncio Dias, Gabriel Hermes, Camilo
Montenegro Duarte, Armando Carneiro e Haroldo Veloso, todos da ARENA. Pelo MDB tinham sido
votados os candidatos Hélio Queiros, com 3 votos; Lucival Lobato, com 2 e José Maria Chaves, com
2 votos também. Para Deputado Estadual, pela ARENA, os mais votados eram Antônio Amaral,
Alfredo Coelho, Jorge Arbage, Oswaldo Brabo de Carvalho e Gerson Peres. No MDB, Laércio
Barbalho só conseguira um único voto.

AUTORIDADES

O Brasil nessa época tinha como presidente o Marechal Humberto de Alencar Castelo
Branco, primeiro da série dos que ocuparam esse cargo durante o regime militar. Governava o Pará
o Ten. Cel. da R/R Alacid da Silva Nunes, também nomeado pelo sistema e ungido pela Assembléia
Legislativa, e Belém tinha como Prefeito Municipal o Dr. Stélio Maroja, também eleito por via
indireta pela Câmara Municipal.
O Arcebispo Metropolitano de Belém era Dom Alberto Gaudêncio Ramos e o General de
Divisão Isaac Nahon era o Comandante Militar da Amazônia e da 8ª Região Militar.

OPERAÇÃO AMAZÔNIA

Dá-se o lançamento da chamada “Operação Amazônia”, pelo Governo Federal, que, no dia
28.09.66, através da Lei nº 5.122 transforma o então Banco de Crédito da Amazônia S.A. em Banco
da Amazônia S.A.
Logo a seguir, através da Lei nº 5.173, de 27.10.66, foi extinta a Superintendência do Plano
de Valorização Econômica da Amazônia (SPVEA) e criada a Superintendência do Desenvolvimento
da Amazônia (SUDAM). No ano seguinte é instalada a Superintendência da Zona Franca de Manaus
(SUFRAMA), afora uma série de medidas de política econômica que foram adotadas na área fiscal,
creditícia e financeira, que vieram afetar profundamente o desenvolvimento da Região e do Pará.
Guardadas as devidas proporções, outro fato impactante para o Pará em 1966 foi o
desmonte da Estrada de Ferro de Bragança, decretada no ano anterior, que ligava a estação de São
Brás à cidade de Bragança, numa extensão de 222 quilômetros, com três ramais variantes.

FINANÇAS ESTADUAIS E MUNICIPAIS

Do início do mês até o dia 18 de novembro a arrecadação do Estado atingira a cifra de Cr$
1.946 bilhão e, no acumulado do ano, já chegava a Cr$ 27.9 bilhões, o que obrigaria o governo
estadual a recorrer a verbas federais para poder cumprir seus compromissos até o final do
exercício. Isto é, o governo estadual dependia muito da ajuda federal para sobreviver.
Enquanto isso, também no acumulado do ano, a Prefeitura Municipal de Belém arrecadara
Cr$ 11.4 bilhões, o que comparativamente com a receita estadual lhe daria folgadas condições de
trabalho.

ECONOMIA EXTRATIVISTA E COMÉRCIO INTERNO

Nove embarques de borracha foram feitos no dia 18.10.66 pela Belém-Brasília. Dos 23
“passes” fornecidos pela Recebedoria de Rendas do Estado, foram embarcados para São Paulo
cerca de 17 toneladas de castanha do Pará, em 350 sacas e 70 toneladas de borracha, sendo
embarcadores o Banco da Amazônia (que recém perdera o monopólio do comércio dessa matériaprima),
a Pirelli S.A. e a São Paulo Alpargatas. Também seguiram para Uberlândia (MG), 350 caixas
de perfumes da Phebo.

ESPORTIVAS

No dia 19 de novembro era anunciada com destaque a partida entre Santos e Náutico, que
no dia seguinte iriam decidir um lugar na Taça Brasil de Futebol. Nesse mesmo dia em Belém, no
estádio da Curuzu, o jogo era entre Paissandu e Júlio César.
E também se anunciava que o presidente do Vasco da Gama do Rio, João Silva, e o diretor
Antônio Calçada, já decidiram dispensar os serviços do macumbeiro Paulista, que trabalhou nos dois
últimos jogos desse clube e deu uma despesa acima de Cr$ 5 milhões, sem resultado positivo.
No Maracanã, nesse dia 19 de novembro, deu-se o “clássico das multidões”, com o jogo
entre Flamengo e Vasco da Gama, este já sem a assistência espiritual de seu auxiliar recémdispensado.

ASPIRANTES

Por fim nesse dia 19 de novembro, Dia da Bandeira, deu-se em frente à Basílica de Nazaré,
na Praça Justo Chermont, a solenidade de formatura da penúltima turma de Aspirantes a Oficial da
arma de Infantaria do CPOR.
Era a turma “Conquista da Amazônia”, que tinha como patrono Pedro Teixeira e reunia 35
novos aspirantes, dos quais dois do Corpo Municipal de Bombeiros e um da Polícia Rodoviária
Estadual.
Originalmente a turma era composta de 45 alunos, um dos quais foi desligado e nove
tiveram que repetir o curso no ano seguinte.
Os 35 novos aspirantes:
01 - Antônio José Lamarão CORRÊA
02 - WALTER Santos de Santana
03 - Francisco Brasil MONTEIRO
5
04 - Edmar Benedito de Lima LASSANCE Cunha
05 - Felipe José Nascimento GILLET
06 - WALDIR Duarte Teixeira
07 - Carlos Lima CHAMIÉ
08 - Wilde de Azevedo BENTES
09 - Francisco José Teles TEIXEIRA +
10 - OSCAR da Silva Araújo
11 - Francisco José Guimarães CARDOSO
12 - José do Carmo MARQUES da Silva
13 - Geraldo Leal Alves Do Ó
14 - ANDRÉ Luiz Rangel Gomes
15 - Ronaldo Rocha MATOS
16 - Francisco de Assis MENEZES +
17 - José de Mendonça LÉDO +
18 - Edson Benedito ROFFÉ Borges
19 - Moacir da Cruz ROCHA
20 - Manoel José Martins VELOSO
21 - Raimundo NONATO da Costa
22 - Paulo Castro de PINHO
23 - Edvaldo Carvalho MARTINS
24 - Pedro Ferreira MAIA
25 - Antônio da Silva DIAS +
26 - José Maria do Nascimento PASTANA
27 - Salomão LEVY Filho
28 - Carlos Rebelo SEQUEIRA +
29 - Antônio Carlos Marçal CAVALCANTE
30 - Luiz Gonzaga Furtado MIRANDA
31 - José RIBAMAR Matos
32 - Sávio Raimundo Lemos PRADO
33 - Trajano José Lopes de OLIVEIRA
34 - Benedito José dos Santos VASCONCELLOS
35 - Juvenal de Jesus Matos COSTA +
Desses 45, passados 45 anos, “deram baixa” nove saudosos amigos: Antônio da Silva DIAS,
Juvenal de Jesus Matos COSTA, Carlos Alberto Rebelo SEQUEIRA, Rafael Ferreira GOMES, João
Paulo da SILVA, Francisco de Assis MENEZES, José de Mendonça LÉDO, Emanuel e Francisco José
Teles TEIXEIRA.
A eles mossa inesquecível lembrança dos grandes e marcantes momentos que passamos
juntos, num período importante de nossa vida.
Aos demais, a certeza de que a nossa amizade é incondicional e eterna.

Belém (PA), 19 de novembro de 2011.

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(91) 3223-1708 – fone/fax.

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