Notícias do Panamá (2)

Como fazem todos, fui visitar o Canal (Interoceanico) do Panamá, mais precisamente, as eclusas de Miraflores, a Ponte Centenário (novíssima e estaiada) e a Ponte das Américas (antiga e de ferro).
As eclusas e vao fazer cem anos agora em 2014. As comportas ainda sao as mesmas. Mudou só o acionamento, que agora é hidráulico. Continua sendo uma impressionante obra de engenharia.
O que parecia ser o final de uma longa história que comecou com Carlos V e terminou com Roosevelt, passando por Ferdinand Lesseps e mais de vinte mil franceses (franceses mesmos, mas sobretudo antilhanos) mortos, tem um epílogo. Aqui tem um cemitério só para franceses, parecido com aqueles que tem na Franca para os que morreram nas Guerras Mundiais. Depois disso vieram os anos de construcao e dominacao norte-americana (que acabou depois de muita luta dos panamenhos, onde jogaram importante papel os estudantes, viu, dona UNE?). Parecia que tudo estava terminado com o Tratado Carter-Torrijos e a devolucao do Canal ao Panama em 2000.
Mas nao terminou, pois a história do canal vai continuar.
Vao construir mais eclusas ao lado das atuais (aproveitando o Canal Culebra e o lago artificial já existentes). Isso vai permitir passar mais (sao 14.000 navios por ano atualmente) e maiores navios (atualmente os maiores que podem passar sao os da classe Panamax, que navegam a escassas seis polegadas da borda das eclusas). Em lugar das locomotivas elétricas - que seguram os navios na distancia correta da borda - vao ser usados dois rebocadores (de vante e ré). Os práticos do Canal - estudam dez anos para receber a habilitacao - vao ter mais trabalho ainda.
Os trabalhos de ampliacao já comecaram. Toca a obra um mega-consórcio internacional (tao grande que nele coube até a brasileira Odebretch). As novas eclusas economizam água, reaproveitando a que é usada para encher cada uma delas, com um inteligente sistema de reservatórios que se enchem e esvaziam por gravidade, com base no velho princípio dos vasos comunicantes.
O projeto seguiu as novas regras de respeito ao meio ambiente - daí a economia de água, que atualmente vai toda para o mar depois de encher as eclusas - e foi aprovado em um referendo popular. Veja detalhes aqui e aqui, no excelente portal da Autoridad del Canal de Panamá (tem até webcam, que neste exato momento mostra fotos noturnas das eclusas, uma delas de alta resolucao).
O Canal - e a geografia do istmo - parece condicionar tudo por aqui, até a maneira de pensar. Como ele é a grande riqueza nacional, tudo gira em torno dele. A vida cotidiana das pessoas está ligada ao Canal. A história recente do Panamá é, em grande medida, a história do Canal.
Este é um lugar de passagem. Por aqui passam as mercadorias, as rotas comerciais marítimas e aéreas e, ao que parece, toda a esperteza do mundo. Os capitais voláteis também passam. E, como sempre, nao deixam muito para os nativos. Mas pelo menos a cidade de 1,5 milhao de habitantes - menor que Belém - tem uma infra-estrutura urbana bem razoável. Metade da populacao do país vive na capital. Neste momento nela sao construídos cerca de 500 edifícios. Pelo menos para um caboclo um pouco desconfiado parece uma clara bolha imobiliária que se estourar vai levar muita gente boa de roldao, inclusive astros de cinema que estao investindo aqui.
Aliás, o primeiro mico já estourou na praca. Um inversionista espanhol ia construir um espigao de cem andares, o Palácio da Baía. Deu com os burros nágua. Mas parece que nao abalou o boom imobiliário que está mudando o skyline da cidade.
Ah, sim, vai ter eleicoes presidenciais aqui. Cinco candidatos. O atual Presidente, filho de Omar Torrijos, apóia Balbina Herrera, que em debate hoje de manha me pareceu bem articulada.
Sorte ao povo panamenho, sao meus votos.

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