Noticias da Guatemala e de Honduras: Copan, Quirigua e Tikal

Foram tres dias de imersao profunda na cultura maia, visitando os sitios arquelogicos de Copan (em Honduras), Quirigua e Tikal.
Para ser economico nas palavras: impressionante.
Impressiona o tamanho das piramides, embora sejam menores que as de Chichen Itza' e Teotihuacan. Mas impressiona sobretudo o conhecimento, a ciencia, a sabedoria acumulada pelos maias, construtores de uma verdadeira civilizacao, que decaiu - misteriosamente - por volta do Seculo X (a etnia sobreviveu ate' hoje). As evidencias mais compreensiveis apontam para um colapso resultante da superexploracao dos recursos naturais por uma superpopulacao. O mais provavel e que tenha faltado agua para atender as necessidades dessa gente toda. Se for verdade isso, serve de licao para os devastadores atuais, de qualquer latitude (e longitude tambem). Esse colapso maia parece nos sussurrar, desde aqueles distantes tempos, ser dificil compatibilizar a brutalidade da politica com a aparente suavidade da natureza. A suave natureza se vinga e derrota os aparentes vencedores. Os que causaram a demissao da Ministra Marina bem que poderiam parar para pensar um pouco sobre isso.
O conhecimento que os maias acumularam sobre o tempo e o dominio que tinham desse tema impressionam tambem. Tempo, astronomia, religiao e poder politico caminhavam juntos. Quem conhecia o tempo, dominava. Como nao era viavel que todos conhecessem tudo, so' uma elite sabia das coisas e cuidava para que tudo continuasse assim. Por isso eram elites dominantes e dirigentes, talqualmente hoje em dia, aqui e alhures. Elites que faziam pelos rituais a comunicacao com os dominados, o marketing, enfim. Com a lata cheia de peyote e outros alucinogenos, subiam ao alto das piramides e, entre nuvens de incenso de copal, entravam em transe e na volta anunciavam a chuva e o sol, mandavam plantar e colher, faziam e aconteciam. As palavras dos reis e chamanes eram lei (qualquer semelhanca com um atual chamanismo economico de certos oraculos que estabeleceram seus templos nas cercanias de Wall Street e sucursais pelo resto do mundo, e mera coincidencia).
As estelas e a incrivel Escadaria Hieroglifica de Copan contam historias ainda nao de todo decifradas. Mas a qualidade estetica dos relevos resistiu a seculos de abandono e ataques da selva e das intemperies. E como se fosse um barroco maia. Vendo essas estelas - ou as de Quirigua, maiores que todas - e facil compreender o gosto dos mexicanos e mesoamericanos em geral pelo carregado barroco churrigueresco. Era escrita e arte. Perto destas estelas maias a Pedra de Roseta mais parece um relatorio burocratico de um escriba sem gosto. Talvez por isso mesmo decifrar as estelas maias nao e tarefa para um Champollion qualquer.
Copan, Quirigua e Tikal nao viveram em harmonia. Antes pelo contrario, sempre que podiam iam a guerra e uma dominava outra. Um dos reis de Quirigua capturou e sacrificou o rei de Copan, Dieciocho Conejo, desestabilizando-a por muito tempo. Assim divididos, foi facil para os espanhois conquista-los. Na verdade nao houve uma conquista, houve uma entrega, pois bastou uma alianca dos ditos conquistadores com um dos grupos contendores para submeter os demais. Igualzinho no Peru com os incas e no Mexico com os aztecas.
Essa licao nem os maias aprenderam, pois continuam divididos ate' hoje. Sao 23 grupos - 65% da populacao - divididos o bastante para fazer com que nem mesmo Rigoberta Menchu os represente a todos. Ela e' quiche', grupo rival de outros que por isso mesmo nao se sentem representados por ela. Sua candidatura a Presidencia foi um rotundo fracasso (o voto nao e obrigatorio e a abstencao e' alta entre os maias). Agora sei que um certo bom-mocismo da midia internacional e a mare montante do politicamente correto filtram as coisas que nao nos chegam como verdadeiramente sao. Mas a verdade e essa mesmo. Rigoberta aqui e' uma quiche' que dirige uma rede de farmacias de genericos, criada supostamente para vende-los mais barato aos guatemaltecos, o que atrai mais desconfianca que aplausos.
Sei que e' duro dizer isso, mas assim e'.

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