A Amazônia no Fundo

Na edição de hoje do Diário Oficial da União foi publicado o Decreto Nº 6.527, de 1º de agosto de 2008, que dispõe sobre o estabelecimento do Fundo Amazônia pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social - BNDES.
Correndo o risco de ser chato, e sem abrir mão do direito de sê-lo todas as vezes em que estiver em causa os interesses da Amazônia e dos amazônidas, proponho algumas questões.
Se existe um Banco da Amazônia, por que a União autorizou o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social - BNDES a adotar as providências necessárias ao estabelecimento e gestão do Fundo Amazônia, destinado a captar doações para investimentos não reembolsáveis em ações de prevenção, monitoramento e combate ao desmatamento e de promoção da conservação e do uso sustentável das florestas no bioma amazônico?
Como questão gera questão, engato outra: se a União, que é acionista controladora dos dois bancos, com esse ato deixou implícito que o Banco da Amazônia não serve para adotar tais providências, não seria melhor então incorporar o Banco da Amazônia ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social - BNDES e neste criar uma Diretoria - com sede aqui mesmo em Belém - PA - para administrar esse e outros Fundos relacionados com a Amazônia? Ah, sim, e de quebra não dava matar com essa única cacetada outro coelho, o problema crônico da CAPAF, a entidade de previdência privada complementar dos empregados do Banco, que de tão grande um dia vai engolir o Banco da Amazônia inteiro?
Será que no multitudinário Comitê Orientador - COFA desse Fundo não caberia pelo menos uma entidade da sociedade civil sediada na Amazônia? E não dava para nele manter a paridade entre empresários e trabalhadores, por suas respectivas confederações?
Para não chatear muito, fico por aqui.
Mas a caixa de comentários está aberta, inclusive para bordoadas, nestas questões ou no decreto, conforme o gosto do freguês.

Comentários

Hiroshi Bogéa disse…
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse…
Prezado Alencar,
parabéns pela lucidez da glosa ao decreto 6527, que subscrevo quase integralmente. Não na parte relativa à incorporação do BASA pelo BNDES (ou pelo BB, que de há muito o cobiça mas Vc. não referiu). Vade retro!
Que eu saiba, é o único alerta a respeito publicado até agora.Faço votos para que a sua iniciativa ganhe a repercussão que merece e colha mais manifestações do que o Fórum do Corecon-PA sobre a PEC da reforma tributária. Este,em mais de um mês de exposição captou apenas um comentário desidratado de apoio. E já foi discretamente retirado do site do Conselho.
O que está acontecendo com as nossas... 'lideranças' políticas e sociais?
Grande abraço. ADM
JOSE MARIA disse…
Caríssimo Professor Armando Mendes.

Fico honrado com seu prestigioso comentário e com sua crítica.

Vale a pena viver - e ter blog - para merecer tão qualificada repercussão. É, com certeza, mais do que mereço e menos do que merece o tema, que não suscitou mínimo alvoroço por aqui, mem mesmo por quem deveria fazê-lo de ofício.

Fiz a provocação da fusão porque essa mobiliza. Ou mobilizava.

Mas mesmo assim e apesar de ter havido repercussão no prestigiado blog 5ª Emenda, o silêncio continua. É como se a placidez da água deste imenso lago não pudesse ser perturbada com assuntos incômodos.

Não quero desalentar e muito menos desalentá-lo, pois o senhor continua sendo fonte permanente de inspiração, inclusive porque não desalenta nunca.

Mas hei de convir que estamos vivendo um momendo difícil em termos de mobilização da sociedade civil.

O alinhamento entre os governos - central e local - e deles com as instâncias da sociedade civil - entidades sindicais e ONGs principalmente - produziu, ao que parece, essa placidez que não admite perturbação.

Além do mais, parece que está sendo muito difícil fazer a defesa do fortalecimento do Banco da Amazônia na atual quadra, em que parte de sua Diretoria foi, digamos, terceirizada para o Banco do Brasil.

Muito obrigado pela leitura, pelo comentário e pela crítica.

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