Algo Errado

Mais ou menos dez anos atrás eu ganhei umas mudas de cedro da ALBRAS, ao visitar seu horto em Barcarena. Plantei duas delas no quintal de casa, em Ananindeua. Uma ficou intanguida e não passou de uma vara. Está assim até hoje. Um engenheiro florestal amigo meu - Osmar, um desses excelentes doutores da EMBRAPA, pós-graduado em França - explicou-me que as touceiras de bambu que eu havia plantado anos antes não permitiam o crescimento do cedro, seja porque barravam o sol, seja porque lançavam uma enzima potente contra ele. Dei-lhe razão, pois dois pés de jambo e uma jaqueira que concorrem com as touceiras de bambu são também afetados (simplesmente não nascem folhas do lado que fica exposto aos bambus). Uma touceira de açaí que já existia também é prejudicada pelos bambus. Até um pé de abiu, que fica metros distante, também intanguiu. E um pé de acerola definhou até virar um graveto. Só uma figueira brava segura a onda dos bambus e continua lá, mas não chega a ser um impávido colosso também.
Mas a outra muda de cedro deu-se bem e hoje é uma portentosa árvore de mais de dez metros de altura e uns sessenta centímetros de diâmetro. Favorecida pelo acesso ao sol e sem concorrentes, o cedro cresceu rapidamente. Logo começou a lançar sementes, umas aletas amarronzadas que parecem asa de cupim (daqueles que voam no inverno e fazem a festa das andorinhas e bem-te-vis). A estratégia de disseminação de sementes do cedro é pelo vento. Assim foi que muitas delas caíram no telhado de casa e com a chuva desciam pela biqueira. Nasceram muitos filhos de cedro e duas dessas mudas naturais se deram bem. Deixei crescer, para ver no que ia dar, apesar de estar na direção do beiral da casa. Agora elas já estão com quase dez metros de altura também (e já espalham suas próprias sementes).
Em maio passado, quando eu estava em plena rota maia, fiquei sabendo que a raiz de uma dessas duas árvores de cedro havia destruído boa parte da rede hidráulica. Tivemos que ir em busca de solução do problema. Alguns dos técnicos consultados recomendaram o corte raso, porque um dia o estrago poderia ser maior. As empresas especializadas que foram consultadas nos cobraram um bom preço para cortar e remover a árvore de cedro. E, por ser cedro, nos exigiram uma licença do IBAMA. Isso mesmo, licença do IBAMA para cortar uma árvore de cedro plantada em um quintal em plena Região Metropolitana. Decidimos manter de pé o cedro e refazer a parte da rede hidráulica afetada, e esperar até a próxima crise. Retornei das férias com o problema já resolvido. E descobri que as raízes da outra árvore de cedro estavam simplesmente levantando um dos esteios do alpendre da casa. Decidi pagar para ver até encontrar uma solução para esse outro problema. Certo é que não vamos derrubar nenhuma das nossas quatro árvores de cedro e esperar que nenhuma delas caia sobre nossa casa ou comprometa suas fundações. Assim não preciso de licença do IBAMA.
Já quem passa na BR-316, alguns quilômetros - não muitos - adiante de minha casa, vai ver que a floresta que pertence à AMAFRUTAS - onde 40 milhões de reais (35 do Banco da Amazônia e 5 do Estado do Pará) viraram suco - foi invadida e, claro, as derrubadas se sucedem, para surgir casas e mais casas. Uma delas já está no segundo andar (pareceu-me ser de alvenaria). Suponho que os invasores derrubadores não precisaram de licença do IBAMA.
Tem algo errado.
E não está lá no quintal da minha casa.

Comentários

Anônimo disse…
A vontade é dizer que a história da derrocada da AMAFRUTAS é a mesma história da decorrocada da ética petista que hoje dita as diretrizes do IBAMA... mas não quero falar nada disso... queria apenas ficar feliz com a votória do leão relembrando as emoções do estádio... mas a imagem dos bebês sendo enterrados em caixotes de madeira não me permite. Ah, parece necessário se fazer aqui um link. Ao identificar a mesma irresponsabilidade com a coisa pública que joga no lixo (sem coleta seletiva e tratamento adequado) e sem misericórdia, o santo nome da nossa centenária maternidade que ao ser chamada de santa casa expressava exatamente o termo.
mas, eu não quero falar de nada disso.

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