Instituições versus Barbárie

Não melhoraram as coisas por aqui.
Cada volta de viagem por uns dias fora do Estado é esse suplício de ver a cidade e o Estado, digamos, sangrando, literalmente.
Acompanhei à distância os acontecimentos que abalaram a cidade e o Estado em abril. Fiquei impactado. Relutei em escrever alguma coisa aqui. Mas sabia que teria de fazê-lo, mais dia menos dia.
Faço-o agora, enfocando o fracasso das instituições jurídicas e democráticas em proteger os mais elementares direitos humanos - vida, no caso - e concluir pelo óbvio: a necessidade de fortalecê-las. Fora disso, a saída será institucionalizar a barbárie. Estamos chegando perigosamente perto disso. Alguns sinais são perceptíveis até mesmo para o senso comum. Criminosos se conhecem em gabinete de um (agora ex) Deputado Estadual. Grupos de extermínio são formados recrutando seus membros em corporações militares estaduais. Empresas são montadas para institucionalizar a deliqüência. E por aí vai.
Aos doutrinadores americanos de direito financeiro agrada a expressão votar com os pés, para designar as escolhas que supostamente os contribuintes fazem quando mudam de domicílio para fugir de impostos.
Aqui está acontecendo isso, por motivos outros e em sentido contrário: a escória está votando com os pés e nos escolhendo, Belém principalmente. O que tem de pior no mundo chega, senta praça, logo logo vai para as colunas sociais e muitas vezes terminam nas colunas policiais. Querem fazer desta uma terra de batráquios e que fiquemos todos de cócoras. Tudo sob o olhar bovinamente complacente de uma classe média aparentemente descerebrada e elites - pensantes, dirigentes e governantes - que parecem anencéfalas.
A decadência atrai decadência, a desigualdade pare monstros - e monstrengos - e a democracia se estiola. Se prosseguirmos nessa marcha, mais adiante teremos, a cada eleição, que escolher entre o pior e o menos ruim. Os talentos - que existem - são sufocados. Ou corrompidos.
Nossa história se tornará a história de nossas desgraças.
A reversão desse quadro exige, em uma das pontas, a participação cidadã, e na outra, o fortalecimento das instituições jurídicas e democráticas. Essa é parte da receita para vencer a barbárie. Nessa batalha cada qual tem que escolher um lado e se alistar nas hostes correspondentes.
Eu me alisto nas hostes das instituições jurídicas e democráticas.
E você?

Comentários

Anônimo disse…
É, caro Alencar, a coisa té braba!!!

O meu pai tem andado muito pelas bandas da Venezuela... dizem que mais um pouco, vira amigo do Comandante! rsrsrs

O que ele me relata de lá, fico cada vez mais na certeza que estamos precisando de um Hugo por estas plagas e pragas, e porqque não dizer pregas.
JOSE MARIA disse…
Meu caro Lafayette.

Faz tempo que não vou à Venezuela.

Mas quando lá estive, a coisa não estava boa por lá também.

Não pelo que aqui dizem, interessadamente, de Chávez, de cujo passado golpista ainda não se redimiu. E de quem o gosto pelo espalhafato não perdôo (o tipo atrasa por longas horas seus compromissos oficiais e quando chega tem que ser saudado pela execução da Cavalaria Rusticana, além de ter retirado a espada do Libertador de um Museu e andar com ela para cima e para baixo, desembainhando-a e embainhando-a, histrionismo ridículo).


A oposição a ele não é flor que se cheire.

E Chávez só foi viável politicamente porque o povo venezuelano penou anos a fio nas mãos de democratas-cristãos e falsos sociais-democratas que se revezavam na corrupção e favorecimento, graças aos petrodólares (que agora pelo menos estão chegando à patuléia).

Em tempo: Chávez jámais será o herdeiro de Fidel, por mais que queira apresentar-se como tal.
Anônimo disse…
Caro José Alencar,

É a primeira vez que entro em um blog. Nenhuma intimidade. Sequer com o idioma. Chulo(?), cybersperanto, ou apenas moderno e jovem. Esta última hipótese é a que mais me atrai. Agora que embarquei nessa canoa aguardem-me!
Horrível, expressão de velho - Me aguardem! Do alto dos meus sessenta e sete anos, bem vividos aos trancos e barrancos decidí. Não vou envelhecer. Minha idade será sempre a do neto mais novo.
Millor Fernandes, hoje aos 80 e picos decidiu, ainda aos 20, que velhos seriam todas as pessoas que tivessem 10 anos mais do que ele. Ainda pense assim. Eu também.
Mas o que queria mesmo era comentar tua resposta ao Lafayette sobre a Venezuela e o Hugo Chaves.

Tenho ido ultimamente àquele País com reletiva freqüência. A trabalho, mas com olhos de ver. Força do hábito.

Estava lá, e comparecí, de gaiato, aquando das últimas manifestações pro e contra o fechamento da RCTV.

Foi uma apoteose Chavista, até porque, a bandeira da reação (meia dúzia de gatos-pingados estudantes mauricinhos) raiava o ridículo: Defesa de um conglomerado de comunicação(?) manipulador, comprometido com interesses extra-nacionais e, principalmente nada democrático.
Hás de convir que na absoluta falta de uma bandeira mais justa e consequente de oposição, agarrau-se à uma causa menor. Flâmula rôta.

Agora, vamos à figura do presidente.

Luto desesperadamente contra todo tipo de preconceito que ainda teima em permear meu espírito pequenoburgês. É difícil para todos nós, mas há que ser vigilante. Principalmente quando se é julgador, quando se tem o destino de gente nas mãos.
Quem de nós, alguma vez, nunca ouviu ou mesmo disse "foi só olhar para a cara desse filho da puta, e logo ví que ele não era boa bisca". Inconscientemente. Principalmente se o "êle" for preto, gordo, vestido ou penteado com extravagância, tatuado etc..

Pois bem, tenho preconceito com a figura física do Chaves. Com a postura cênica, ídem. Às vezes, analizando a realidade do momento histórico venezuelano, me flagro concordando com tese e mensagem do presidente, mas aquela figura...
Até concordo com a mensagem, mas o mensageiro remonta a um passado distante, da primeira metade do século passado. Trijillo, Barata, Strossner, Batista e outros menos votados, só para ficar pela vizinhança. O século vinte e um pede,de um governante, pelo menos uma pitada de estadista.

Pede, mesmo?
O que é ser um Estadista?
A quem aproveita um Fernando Henrique, unanemente considerado um grande estadista?

Não sei. O que me move e até me excita é ter dúvidas. Todas as dúvidas do mundo. Desconfio naturalmente do "dono da verdade". Principalmente a verdade de almanaque. Da palavra-de-ordem, embarcar na canoa sem estudar mínimante a tese. Contentar-se com o "é, faz sentido". Faz sentido é o Sol girar em torno da Terra. Eu vejo.

Por essas e outras é que preciso de algum tempo para analizar o "case" Venezuela. Inclusive rever se a antipatia por ventura existente não é fruto de preconceito, até racial. A postura das pessoas, repito, inclusive a minha, não seria outra se em vez daquela figura "feia" de povo menor, indio, atarracado, fosse um guapo ariano ou mesmo gallego moreno, carismático, roliudiano, um Tarcísio Meira? ou mesmo até um trato do Duda Mendonça?

Quando ví os cartazes da propaganda eleitoral, "Chaves mas 6 años. Por ahora!", me deu arrepio. Talvez resquício da burguesia, mas qualquer projeto de ditadura me causa urticária.

Claro que são observações inconclusivas, aliás, creio, serão sempre, senão corro o risco de ser o tal "dono da verdade".

abrs (viu? estou aprendendo),
andre
Anônimo disse…
Até que enfim, Seu André!

A estréia não poderia ser em melhor palco!

Quanto a oposição na Venezuela, Alencar, ela não é flor que se cheire, que se coma, aplique-se...

...aliás, ela é tudo, menos flor!

rsrsrsrs
JOSE MARIA disse…
Meu caro André Nunes, jovem comunista.

1 Seja bem-vindo à blogosfera.

2 Agradeço seus comentários e a honra de sua leitura.

3 Suas informações e sentimentos sobre a Venezuela bolivariana - e semi-chavista, dividida que está entre chavistas e antichavistas - nos atualizam e melhoram nossas próprias percepções e sentimentos.

4 A cobertura da mídia brasileira é interessada e interesseira. Na verdade cada um que pode usa Chávez para mandar recado para o Governo e para o Estado brasileiro. É visível a diferença entre as coberturas da Globo e da Bandeirantes. E qualquer um mais atilado pouquinha coisa percebe quem está botando barbas de molho e roupas no quaradouro.

5 Como nem tudo está perdido, tem jornalistas no Brasil. E Jânio de Freitas cuidou de nos informar pelos jornais que publicam sua coluna, que nos Isteites também concessões de televisão são negadas.

6 Não creio que Chávez leve à classe operária venezuelana ao Paraíso. Não creio nem que possa fazê-lo, depois de tantos anos de rodízio democrata-cristão/social-democrata e corrupção movida a petrodólares. Nesse banquete os pobres venezuelanos ficavam à ver navios. Peetroleros, por supuesto. A burguesia - sobretudo a caraquenha - ficava no bem bom, fabricando suas misses (produto de exportação tão importante quanto o petróleo). Com Chávez pelo menos alguma coisa começou a pingar no prato dos pobres venezuelanos (índios inclusive). O que não é pouco. Mas o suficiente para irritar os até então favorecidos.

7 E como Chávez perde o amigo mas não perde a "broma" - Lula e Sarney que o digam - dá no que dá.

Volte sempre, jovem comunista André. Qualquer coisa, peça ajuda ao Lafayette.

Abraços do

Alencar

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