A Desterceirização

Olhando para o chamado Milagre Japonês e nele tomando a nuvem por Juno, a partir da segunda metade da década de oitenta do Século XX as empresas brasileiras usaram e - sobretudo - abusaram da terceirização, com um propósito ostensivo - reduzir custos - e outro oculto - embaralhar a situação sindical - e parecia que tiveram êxito em ambos.
Consultores japoneses olharam para a coisa e prognosticaram que ia dar errado, pois no original o objetivo era bem outro: concentrar a empresa na atividade-fim, no hard core. A eventual redução de custos seria decorrência da melhoria de desepenho da empresa.
Não passava pela cabeça dos japoneses fazer desligamentos em massa e terceirizar com salários reduzidos, como foi feito aqui no Brasil.
Agora, quase duas décadas depois, a terceirização começa a refluir e grandes corporações - Vale do Rio Doce e Telemar, por exemplo - estão, digamos desterceirizando.
Esse movimento de - vá lá - desterceirização já foi captado pelas consultorias (http://www.relatoriorh.com.br/Noticias/2007012403.htm).
Logo logo vão aparecer consultorias especializadas em desterceirização.
Menos mal.
E antes tarde do que nunca.

Comentários

Anônimo disse…
Penso que nem se pode ir ao inferno, nem morar eternamento no céu.

A terceirização é remédio que salva, mas mata em doses erradas, ou melhor dizendo, doses mal-dosadas.

Pensando como estão as coisas, e não-como-elas-deveriam-estar, entendo que a desterceirização pode ocorrer num ambiente de "robotização", "informatização", "maquinização", enfim, substituição dos métodos tradicionais de serviço e de produção do serviço, por novos métodos automáticos (o que os "consultores geniais" apelidaram de otimização - argh! - do serviço).

Percebo, portanto, que a desterceirização, em verdade, poderá representar a perda de postos de emprego pelos robôs (lato).

Exemplo: Hoje uma empresa terceiriza 100 postos de emprego para ser realizada uma determinada tarefa. Tal tarefa, por força de um método tecnológico, pode ser feita por 10 postos de emprego. Neste ambiente, até acho que a empresa pensaria em abrir, internamente, tais 10 postos de emprego.

Porém, é claro e até mesmo natural, os demais 90 postos vão para o espaço!
JOSE MARIA disse…
Meu caro Lafayette.

Obrigado pelo comentário.

Mas nesse caso seria o tal do desemprego tecnológico, para o qual, em tese, a Constituição da República assegura a proteção de suas vítimas, o que seria - teria sido - um avanço, em relação aos sucessivos desastres pós-Revolução Industrial.

O problema é que no Brasil a terceirização foi feita mesmo para reduzir custos e estraçalhar a organização sindical, sem qualquer melhoria tecnológica.

Os métodos e a organização do trabalho continuaram os mesmos, nenhuma inovação tecnológica era introduzida. Assim, nem esse álibi as empresas tinham. Era, no popular, maldade pura mesmo.

Agora a rosca está dando a volta e, o que pode ser pior, combinada, como você mesmo alerta, com melhorias tecnológicas que reduzem a quantidade de postos de trabalho.

É por essas - e por outras - que o crescimento brasileiro não é sustentável.
Anônimo disse…
E ainda tem um "peor" (como diria a moda linguística atual).

É a terceirização do serviço público. Tal vem sendo, aos poucos, inaugurada no Brasil há muito.

O FHC foi um dos maiores incentivadores, e o Lula, se não incentiva, também não a atrapalha (o que seria um freio).

Tenho uma tese nesta questão da relação trabalho versus capital, e que já foi aplicada com sucesso(Ps.: nem sei se é minha a tese, pois foi "cantada" no meu ouvido pelo meu pai na época. Ps. do ps.: acho que ele fez foi um laboratório comigo! rsrsrs)

A tese é: EMPREGADO QUER SER É PATRÃO!

Em 1989, sem passar no vestibular, abri uma papelaria, com 8 empregados. Carteiras assinadas, etc., etc.

Pois bem. O horário era das 07 às 20 ou 21 ou 22 horas (dependia do Cearense, um colégio que ficava bem em frente e a necessidade dos alunos).

Dois blocos de 4 empregados: Um pegava das 07 e ia até às 14 ou 15, o outro pegava às 14 e ia até um daqueles horários finais, ali citados.

Só que os grupos se alternavam nos meses.

Nos meses de Janeiro, Fevereiro, março e agosto, se assim eles quisessem, TODOS iam trabalhar na hora e jornada que quisessem, e como são os meses de maiores venda de uma papelaria, quase todos iam trabalhar de 07 até o final.

Na carteira, 1 salário mínimo e só. E só também para fins de fiscalização, pois a legislação brasileira não está preparada para socialização do capital feita pelo capitalista!

O negócio era o seguinte: TODOS, na verdade eram meus sócios. No final do mês, pagavamos as contas e dividiamos o resultado.

E mais, estipulávamos meta de venda para o mês, caso fosse superada, o tanto superado era dividido entre eles somente.

Recolhi, religiosamente, com base na CTPS, as obrigações. E antes que você comente, mas porque você não procurou a DRT para regularizar isso num acordo e tal.

Procurei, mas me disseram que não ia dar certo! (e a gente sabe que, mesmo sendo o emprego da vida deles, na justiça eu estava ferrado!)

Detalhe, os empregados eram TODOS novos como eu, e 1º Emprego (sim, eu me antecipo aos Programas Governamentais), assim, penso, não atrapalhei a vida de ninguém.

Por motivos pessoais a papelaria durou pouco mais de 3 anos(não sou comerciante - o que dei de livro, cadernos, canetas para carentes não foi no gibi e ainda banquei uma bolsa no colégio Christus, perto da papelaria na época a uma aluno carente que me procurou na papelaria, indicado por outros que ajudava, e o cidadão passou em primeiro lugar em Matemática na UFPA e hoje ele é Doutor e dá aula na UFRJ).

Ninguém foi à Justiça. Lamentaram a decisão de fechar as portas. Ganhamos um dinheiro bom, levando-se em conta que TODOS tinhamos, em média, 19/20 anos.

Sei que corri riscos, mas, se alguns empresários dividissem mais seus lucros (não na forma bruta e absurda que fiz - até porque a legislação não está preparada, com falei), teríamos uma sociedade melhor.
JOSE MARIA disse…
Meu caro Lafayette.

Obrigado por mais um comentário.

O senso comum - seu e de seu pai - é confirmado pelas pesquisas, digamos, científicas.

É que, de fato, o Brasil tem uma das mais altas taxas de empreendedorismo. E uma das mais altas taxas de mortalidade infantil empresarial.

Por isso o circuito não se fecha e não forma um círculo virtuoso de prosperidade, que fez a roda da fortuna girar a favor de outros povos (do hemisfério Norte sobretudo).

Otimista, creio que neste Milênio será nossa vez...

É que nós temos outra coisa muito apreciada, que é a criatividade, a capacidade de adaptação, resiliência, para usar o conceito da moda. Flexibilidade, para usar outro.

E, mais ainda, temos uma capacidade única, que é fazer do trabalho uma festa, um carnaval.

Esse é um atributo que já está sendo cada vez mais valorizado.

Acredite: nossa vez chegará. E será neste Milênio, com certeza...

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