Glorioso

Ontem foi dia do Glorioso São Benedito em Bragança, onde estive para o reencontro ancestral com as origens não negadas ou renegadas.
No dia anterior, Natal, dei-me ao cuidado, com Araceli, de visitar o Juiz da Festa, o Dário, historiador também, e a Juíza da Festa, Luana, filha do chef Ofir Oliveira e Telma Oliveira, amigos de infância. Foi durante o almoço que eles ofereceram no Lions Club, como manda a tradição. Nesse dia a marujada veste azul.
Como sempre, tem marujos e marujos de todas as idades. As crianças, em boa quantidade, garantem o vigor e o futuro da tradição, cada vez mais forte.
Reencontrei Benedito Padilha, o magrelo colega de infância que - muitas cervejas depois - ostenta uma proeminente barriguinha. Relembrou histórias antigas e contou-me uma nova: ele organizou uma associação que cuida de manter a tradição da fabricação de rabecas, que corria o risco de se perder. Felizmente, escapou da morte morrida graças aos esforços do último luthier e do filho que seguiu a tradição do velho mestre. Hoje Bragança fabrica e até exporta rabecas. Até os arcos são feitos pelos mestres locais, com fibra de manilha (é como se chama o sisal em Bragança).
Depois do almoço, com direito a discurso do Prefeito Edson Oliveira - outro colega de infância - e da Deputada Estadual Simone Morgado, uma ladainha cantada no mais puro cantochão caboclo, herança européia entranhada lá no fundão das melhores tradições do Glorioso São Benedito. Uma oração do Padre Gerenaldo deixa claro que os tempos em que a Santa Madre litigava com a Irmandade do Glorioso São Benedito pela posse da Igreja ficaram para trás (a Igreja ganhou direito de propriedade da Igreja depois de uma batalha judicial que terminou no Supremo).
O Presidente da Irmandade é João Batista (o Careca), outro colega de infância, que sucedeu seu irmão Lúcio (Caju), que sucedeu o pai Arsênio Pinheiro, Presidente vitalício da Irmandade, onde pelo menos nos últimos cinqüenta anos a sucessão tem sido hereditária. Digam o que disserem, graças a essa família e seus apoiadores a Irmandade se manteve e segue firme e forte, Século XXI adentro. E a julgar pelo ânimo com que as crianças se vestem de marujos e marujas e pela atenção que prestam nas danças, essa é tradição que será eterna, nessa mescla rija de tradições de Açores, África e Bragança.
Depois do almoço a Marujada dançou no Barracão e seguiu para a Cavalhada, que agora é em um descampado perto do Campo de Aviação (em Bragança Aeroporto é campo de aviação e ponto final).
A Cavalhada, outra tradição herdada dos portugueses - na origem, um torneio medieval - também está revitalizada, com adolescentes competindo e até crianças (em pôneis) dando os primeiros passos. Reencontrei Benedito Padilha distribuindo os números dos cavaleiros vestidos de azul (os opositores se vestem de vermelho, as duas cores básicas da Marujada).
Terminada a Cavalhada, a Marujada voltou para a Igreja, para os rituais religiosos e mais uma noite de dança.
Ontem, vestidos de vermelho, marujas e marujos carregaram o andor do Glorioso São Benedito pelas ruas de Bragança. 
Pela televisão soube que a procissão já é maior que a do Círio.
Viva o Glorioso São Benedito de Bragança!
Vida longa para a Marujada!

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