Teletrabalhando

Há quase dois anos sou um teletrabalhador a tempo parcial.
Quem tiver o bate-papo do Gmail e quiser me adicionar vai saber pelo meu status se eu estou trabalhando (no Tribunal) ou teletrabalhando (em casa ou em qualquer outro lugar do mundo).
Para me tornar um teletrabalhador a tempo parcial precisei apenas de um bom computador pessoal ou de um notebook razoável, um acesso rápido à Internet e um software chamado Citrix. O computador pessoal eu comprei, o notebook e o Citrix são do Tribunal Regional do Trabalho da Oitava Região (Pará e Amapá), que também é proprietário da placa de mobilidade da Vivo que uso quando não estou em casa ou quando falha a conexão da Velox. A bem da verdade, a cópia do Citrix que uso foi doada pelo Tribunal Superior do Trabalho para ser experimentada por alguns juízes Brasil afora e eu me tornei cobaia dessa experiência vitoriosa.
Como moro em Ananindeua, na Região Metropolitana de Belém, o teletrabalho a tempo parcial foi a maneira encontrada para me livrar do inferno que é passar naquela coisa que dizem ser uma passagem de nível ali no Entroncamento nos horários de rush. Saio mais cedo de casa e volto mais cedo para casa, para continuar trabalhando (teletrabalhando). Ganhei qualidade de vida e minha produtividade aumentou.
O teletrabalho, disso me convenci, é parte (pequena) da solução para os problemas (grandes) desta desgraçada Região Metropolitana e de tantas outras metrópoles que cresceram além do que podiam e se tornaram inadministráveis.
A revolução ocorrida no mundo do trabalho tem reproduzido alguns dos males do trabalho industrial, com a infoproletarização, pois as megafábricas e megaescritórios foram substituídos por gigantescos call centers onde as condições de trabalho são - mudando o que deve ser mudado - quase tão ruins quanto as de seus antepassados.
Mas uma e-topia é possível.
Veja como e porque nesta entrevista (parte dela) com Sílvio Meira, o mítico cientista-chefe do C.E.S.A.R., do Porto Digital do Recife, Pernambuco, publicada na HSM que está nas bancas.

ASG: As conversas da hora do cafezinho nas empresas giram, na maioria, em torno do sonho de trabalhar de maneira diferente. Isso é utopia? Ou faz sentido?

SRLM: É e-topia, mas factível [risos]. Esse é o título de um livrinho brilhante do arquiteto William Mitchell, que todos os interessados no futuro do trabalho e das cidades deveriam ler. Eu tenho certeza de que vamos redesenhar o modus vivendi e o modus operandi. Precisamos viver e trabalhar de forma diferente. Não há como manter o jeito atual. O modo de trabalhar ainda tem a ver com uma época em que os meios de produção eram caros e escassos, e era preciso levar as pessoas até eles. Construíram- se cidades para juntar gente, primeiro para abastecer os workshops [oficinas], depois as fábricas, porque, sem massa crítica de trabalhadores, não fazia sentido o investimento na infraestrutura para produzir algo. Mas isso está mudando rapidamente. Em uma economia contemporânea típica, entre 80% e 85% das pessoas já trabalham em serviços, e apenas 15% a 20%, em produção agropecuária ou fabril. À medida que se automatizam as máquinas e que se pode controlá-las de longe, como vem acontecendo, há umadiminuição significativa do número de
pessoas necessárias à produção fabril ou agropecuária. E os meios de produção, no caso dos serviços, intensivos em informação, não são nem caros nem escassos, o que faz com que eles possam ser “deslocalizados”, em vez de serem centralizadores –e ordenadores– do processo de produção.

ASG: O meio de produção vai às pessoas…

SRLM: Sim, tanto aos clientes como aos funcionários. Exemplo corrente são os restaurantes nos diversos bairros de uma cidade, contratando e servindo a quem está por perto. Tal tipo de “deslocalização”, além de mudar as cidades, modifica a essência de uma organização de negócios.

ASG: Como isso mudou? Tecnologia?

SRLM: A infraestrutura digital disponível em larga escala quase no mundo inteiro nos permite discutir de forma muito mais séria como reordenar o trabalho e as cidades que foram montadas nos últimos 150 anos. Temos de fazê-lo, porque o custo de transação para uma pessoa ir de onde mora aonde trabalha é astronômico, tanto em preço absoluto, por conta dos preços de estacionamento, combustível etc., como em preço
de tempo.

ASG: O que vai acontecer?

SRLM: Provavelmente, em vez de 6 mil pessoas irem trabalhar em um megaprédio em um lugar, a empresa se dividirá em 12 espaços de trabalho espalhados pela cidade ou região, cada qual com capacidade para 500 pessoas, para o pessoal se movimentar menos… [continua na revista…]image


Comentários

Dr. Alencar, eu "tb"(para usar o vernáculo da net) sou grande adepto do uso da tecnologia como meio de driblar os entraves causados por uma cidade cujo trânsito já em estado terminal. Para nós advogados, não há coisa melhor do que o peticionamento eletronico do TRT, principalmente nos processos em Ananindeua, Castanhal e Sta Izabel e etc, já que trabalho e moro em Belém. Tive a prova concreta disso quando certo dia tive que enfrentar esse trânsito(aquele complexo viário que só serve para complicar) para protocolizar uma contestação no Fórum de Ananindeua...E na véspera eu tinha feito protocolo eletrônico em um processo da 1a VT de Ananindeua... Bastaram alguns cliques e pronto!! Sem trânsito, poluição e estresse!
Além disso, o TRT facilita muito a vida do advogado ao disponibilizar todas as peças online...Ajuizar Contra-razões de recurso com o recurso disponibilizado online e o peticionamento eletrônico é muito menos trabalhoso do que duas viagens (uma para obter a cópia do recurso e outra para protocolizar as contra-razões, como acontece na Justiça Estadual)
O único problema para nós advogados é que não temos como driblar o trânsito quando a nossa presença é indispensável (audiências, sustentações orais e diligência)... Dia desses cheguei 8:15 na Praça Brasil, para participar em uma audiência às 08:45... Não havia mais lugar algum para estacionar! O que compensa é o convívio com os colegas advogados e com servidores e juízes, com os quais criamos uma relação de amizade profissional pelo convívio cotidiano...
JOSE MARIA disse…
Prezado Doutor Kauê,

Muito obrigado pelo estimulante comentário.
Vou transformá-lo em um segundo post sobre o mesmo tema.
Vá mandando.
E peticionando eletronicamente.
Consuelo disse…
Oi Dr.Alencar, o seu texto é ótimo. Entretanto,são poucos os que podem dispor do mundo da tecnologia ou ocuparem o status de "teletrabalhador"como o senhor denominou.O que escreveu me fez pensar quantos mundos existem dentro da nossa cidade,se começarmos por estudar apenas as formas/instrumentos de trabalho,considerando as possibilidades e os cohecimentos de cada trabalhador até como ferramenta para acessar a tal tecnologia.Por exemplo,no meu convívio de trabalho muitos profissionais( com formação superior) tem dificuldades de interpretar o mundo por desconhecerem conceitos,que entendo como que sejam simples...Já aconteceu situação que falei que encontrei um determinado material interessante na net e percebi que não sabem nem como iniciar a busca.
Mas,vale dizer que adorei o seu teletrabalhando.Bom domingo!
Abraços,
Consuelo.
JOSE MARIA disse…
Caríssima Consuelo,

Muito obrigado por sua leitura e comentário.
Continue insistindo para que seus colegas de trabalho um dia possam também se tornar teletrabalhadores...
Abraços
Dr. Alencar, graças ao peticionamento eletrônico pude ajuizar um regimental no dia que tive conhecimento de um despacho do sr, que por sua vez, no dia seguinte já levou o recurso para julgamento (aquele do bloqueio de renda dos jogos do Clube do Remo) pela especializada...
Lembro tb de um caso em um processo meu que tramitava na 10a VT... A sentença foi publicada em um dia e neste mesmo dia já opus ED (eletronicamente, obviamente). No dia seguinte, já chegou em meu "PUSH" não só a comunicação de que o recurso havia sido protocolizado, como também que já estava julgado pelo Dr. Zahlouth!
Nesse mesmo dia, eu tive que visitar o Juizado Especial de Ananindeua para chegar se havia sido julgado um processo (tive que ir lá, pois além de não disponibilizarem a sentença na internet, ainda se recusam dar informações pelo telefone), só para ter a notícia que não havia sido julgado e que além disso, eles não sabiam quando e quem iria assumir o Juizado...
Veja as realidades que o advogado tem que conviver! O abismo é enorme! O TJE deveria aprender com o TRT! Obirgado pela referência sobre meu post! Abraços!
Só uma correção ao meu post anterior... Onde consta " para chegar", leia-se: "para checar"... Abraços!
JOSE MARIA disse…
Prezado Doutor Kauê,

Mais uma vez muito obrigado pela leitura e pelo comentário.
E também pela defesa do processo eletrônico (afinal, é disso que se trata).

Postagens mais visitadas