Juridiquês (6)

O juridiquês caiu na vida e ninguém mais - nem nós juristas - aguenta a barra dele, que ficou pesada demais.
Dia desses li um recurso em que era dito que a sentença claudicava. Claro que só podia ser um recurso manco. Com todo o respeito aos portadores de necessidades especiais.
Nesse mesmo recurso outro ponto alto do juridiquês, agora cruzado com engenheirês: espessura salarial. Espessura salarial, imagino, é a dimensão vertical da pilha de cédulas quando do pagamento do salário em dinheiro, variável conforme o valor de face de cada uma delas. A metáfora é de escassa utilidade para o discurso jurídico e não consegue ser nem mesmo um arabesco agradável de se ler.
Nesse e em tantos outros escritos jurídicos é comum encontrar a expressão fundiário para se referir ao Fundo de Garantia do Tempo de Serviço - FGTS, quando na verdade ela se refere a terreno ou terra. Assim, quando os coleguinhas dizem depósitos fundiários não querem dizer depósitos de terra como pode parecer, mas sim depósitos do FGTS. Aliás, seria muito engraçado se um dia algum office-boy chegasse no banco com um ou alguns sacos de terra para fazer o tal do depósito fundiário.
Proponho um pacto para os coleguinhas operadores do direito de todos os ramos: vamos largar todos juntos - eu inclusive - o juridiquês e começar a escrever nossos textos em linguagem de gente.

Comentários

Anônimo disse…
Vc é mesmo um grande.
Espessura salarial e seu significado foram bons demais , agora por favor :
quando vc planta uma árvore e coloca a terra de volta em torno da raiz é também um depósito fundiário?????
Abração
Tadeu
JOSE MARIA disse…
Meu caro Tadeu.

Obrigado pela leitura e pelo entusiasmado comentário.
Você acertou na mosca.
Em latim, uma das acepções de "fundus" é exatamente essa, pois designa os chamados bens de raiz. Raiz fica no - e vai cada vez mais - fundo.
Por isso seria mesmo muito engraçado mandar um office-boy ao banco para depositar um bem de raiz na conta vinculada do FGTS.
Mais engraçado ainda seria tentar fazer a mesma coisa por via eletrônica (a tal da conectividade social da Caixa Econômica).
Valeu, Tadeu.
Caro Alencar,

Está aceita, desde já, a proposta. Também sou absolutamente contra o juridiquês, que com o português tem somente mera semelhança.
Quer ver uma pérola, no meu entender? Essa conversa de desafiar recurso. Além de incorreto, é feio de doer.
O triste é que o juridiquês tem grandes aliados. Os ministros do Supremo - e alguns muito mais que outros - são os principais detratores da simplicidade da linguagem.
Abraço.
JOSE MARIA disse…
Caríssimo Francisco,

Obrigado pela leitura e pela adesão.
Essa de "desafiar recurso" deve ser uma incitação a que as partes recorram em versos tipo martelo agalopado. Nesses casos as contrarrazões seriam necessariamente em galope à beira-mar.
É um alento a sua opinião. Cada vez mais, as petições se parecem, fenômeno surgido pela facilidade do copiar/colar. E o juridiquês impera, pretensamente solene e com verniz doutrinário. Sem falar naquelas peças com dezenas de páginas repletas de pura linguiça, que só dá para ler em "l". Quem escreve espessura salarial deve ter no mínimo aplainado o próprio cérebro - de alface.
JOSE MARIA disse…
Prezada Franssinete,

Muito obrigado pela leitura e pelo comentário, que é igualmente alentador, pois vem de uma jurista que também é jornalista (ou vice-versa).
Tenho insistido para que a OAB faça cursos práticos de redação forense eficaz.
Essas petições enlinguiçadas, definitivamente, não são eficazes, pois nos obrigam a sair catando no meio da gordura o que elas tem de razões propriamente ditas. O tempo e energia gastos com essa tarefa é desperdiçado, pois durante essa catação deixamos de fazer o exame ou reexame da questão.
Quem ainda pensa que juridiquês serve para alguma coisa, aviso ao desavisado: está redondamente enganado.
Sem contar que ninguém entende esse juridiquês, exceto seus próprios praticantes, que vão ficando cada vez mais isolados do resto das pessoas normais, que falam e escrevem em linguagem de gente e não esse patois incompreensível. Tem casos extremos que fica-se com a impressão que nem o redator vai entender o que escreveu.
Felizmente, há uma campanha das associações de magistrados contra o juridiquês.
Falta agora a campanha da OAB e das associações de advogados.
Anônimo disse…
Franssinete , Francisco e José de Alencar,
Para reforçar a postagem ou o poste?? rsrsrs.
Uma vez fui vítima de um sequestro
relâmpago e os bandidos foram preso , o processo durou uns 3 anos e no final recebí uma cópia do processo com a sentença do juiz , lí umas quantas vezes o processo a até hj não conseguí entender se os caras foram presos ou soltos por serem primários e apesar de não ser nenhum luminar da língua portuguesa , também estou longe de ser um completo analfabeto.
abraços
Tadeu
Unknown disse…
Caro José de Alencar.

Acabo de entrar na academia e portanto considero-me uma "bebê" na área. Poderia me dizer de forma clara o significado de "Juridiquês"?

Obrigada.
Unknown disse…
Bom dia, me chamo Andressa, estou escrevendo um trabalho sobre. Gostaria de mais informações. Meu email para contato:adjaramos@gmail.com

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