Direitos Humanos e classes sociais

A ideologia dos Direitos Humanos - sim, isso é uma ideologia mesmo - tem na sua natureza transclassista uma de suas vertentes mais generosas. Todos, de qualquer classe social ou categoria profissional, são titulares de direitos humanos fundamentais. Isso na teoria.
Na prática, bom, na prática, como bem o sabemos, a teoria é outra. Via de regra, em todos os quadrantes, uns são mais iguais que outros. Por isso a igualdade é - continua sendo - um dos problemas insolúveis e preocupação alta e constante de filósofos, juristas e políticos, de Rawls a Dworkin, para ficar só com os norte-americanos.
E o Brasil, também como é sabido, é campeão mundial na modalidade desigualdade, mas com algum requinte. Assim, e por exemplo, na partilha dos recursos públicos o tratamento desigual é feito com sofisticação, seja para favorecer alguns, seja para prejudicar outros.
Dependendo da quadra, se faz escolhas públicas que levam em conta, quase milimetricamente, os interesses grupais e até mesmo particulares. Quando convém, se procura agradar certas classes e categorias. E quando não, se as desagrada.
A classe média, voadora contumaz, agora paga sua pena com a degradação do sistema aeroviário. Enquanto pagava apenas com desconforto, não emocionava e não gerava maiores sobressaltos, inclusive porque isso não repercutia negativamente nas pesquisas de opinião que orientam as escolhas públicas.
Agora a classe média começa pagar a conta com vidas humanas, conta que estratos inferiores da sociedade já estavam acostumados a pagar, sob a complacência - bovina? - das classes média e alta. Igualados pela morte, é de se supor que agora todos se importem pela sorte de todos e de seus direitos humanos, sem corte de classe, que a morte não se compadece disso.

Comentários

Anônimo disse…
O evento mencionado ultrapassa a questão relativa às classes sociais. Mesmo assim, a "classe média" referida deforma pejorativa pelo Blogger, por vezes é vítima de distorções e incongruências inaceitáveis. Por exemplo: Weber(eco e sociedade vol. II)mostrou que o judiciário é uma organização burocrática que se forma, na nossa modernidade a partir da cntralidade emprestada à idéia de Lei, e a própria centralização e especialização de setores do aparato estatal.è b-u-r-o-c-r-a-c-i-a. Destarte, vemos nas nossas s universidades,doutores e pós -doutorse com seus contra-cheques mal chegando aos 8,000 reais, apesar da transmissão do conhecimento, do saber ,enfim todos os atributos que um pós doutorado confere aoser humano, já um juiz ,um promotor, basta decorar leis e fazer o exame de admissão na carreira e iniciar avida profissional ganhando quase 20.000, e pior sendo chamado d doutor sem nunca ter sido( chama de falsidade ideológica isso?) Portanto , falar de barriga cheia da "classe média "quando amparado pela vergonha que são os salários da maior parte das profissões jurídicas estatais cheira ao mesmo deboche que a ministra que anda de jatinho, manda , a nós da classe média esclarecida,que por vezes , anda de avião, fala línguas estrangeiras, conhece a europa,mas sem as mordomias estatais , relaxar e gozar.
graça campagnolo
JOSE MARIA disse…
Prezada Graça.

Obrigado pela leitura e pelo comentário, com o qual, no que ele tem de essencial, estou de acordo, ressalvado apenas o "referido de forma pejorativa", "falar de barriga cheia" e "cheira ao mesmo deboche que a ministra".

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