Direitos Humanos e classes sociais
A ideologia dos Direitos Humanos - sim, isso é uma ideologia mesmo - tem na sua natureza transclassista uma de suas vertentes mais generosas. Todos, de qualquer classe social ou categoria profissional, são titulares de direitos humanos fundamentais. Isso na teoria.
Na prática, bom, na prática, como bem o sabemos, a teoria é outra. Via de regra, em todos os quadrantes, uns são mais iguais que outros. Por isso a igualdade é - continua sendo - um dos problemas insolúveis e preocupação alta e constante de filósofos, juristas e políticos, de Rawls a Dworkin, para ficar só com os norte-americanos.
E o Brasil, também como é sabido, é campeão mundial na modalidade desigualdade, mas com algum requinte. Assim, e por exemplo, na partilha dos recursos públicos o tratamento desigual é feito com sofisticação, seja para favorecer alguns, seja para prejudicar outros.
Dependendo da quadra, se faz escolhas públicas que levam em conta, quase milimetricamente, os interesses grupais e até mesmo particulares. Quando convém, se procura agradar certas classes e categorias. E quando não, se as desagrada.
A classe média, voadora contumaz, agora paga sua pena com a degradação do sistema aeroviário. Enquanto pagava apenas com desconforto, não emocionava e não gerava maiores sobressaltos, inclusive porque isso não repercutia negativamente nas pesquisas de opinião que orientam as escolhas públicas.
Agora a classe média começa pagar a conta com vidas humanas, conta que estratos inferiores da sociedade já estavam acostumados a pagar, sob a complacência - bovina? - das classes média e alta. Igualados pela morte, é de se supor que agora todos se importem pela sorte de todos e de seus direitos humanos, sem corte de classe, que a morte não se compadece disso.
Comentários
graça campagnolo
Obrigado pela leitura e pelo comentário, com o qual, no que ele tem de essencial, estou de acordo, ressalvado apenas o "referido de forma pejorativa", "falar de barriga cheia" e "cheira ao mesmo deboche que a ministra".