Fricção
A proposta de alteração do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal, assinada por sete de seus respeitáveis membros, para que os Ministros só recebessem os advogados de todas as partes, como era de se esperar, provocou fricção.
A primeira delas foi interna, pois o Ministro Marco Aurélio divergiu e externou surpresa com a proposição.
A segunda foi com os próprios interessados, os advogados.
Uma visita do Presidente do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil Cezar Britto ao Ministro Carlos Ayres Britto - não é mera coincidência, este é tio daquele - foi um bom começo para reduzir o atrito. Depois dela o Ministro resolveu retirar sua assinatura da proposição.
O tema causou debates também na mídia (e fora dela, inclusive entre magistrados). O tema é delicado porque alguns advogados que atuam no Supremo são ex-ministros.
De minha parte resolvi o problema muitos anos atrás, quando adotei o sistema de portas abertas.
Simplesmente mantinha aberta a porta de meu gabinete, permanentemente.
Depois radicalizei de vez e retirei a porta. Mais adiante retirei a própria divisória, mantendo apenas uma divisória baixa, como é a regra nos escritórios contemporâneos.
Depois que saí da Corregedoria Regional - onde mantive o sistema - retirei a porta do gabinete que passei a ocupar e só não retiro a divisória porque ela é uma estante.
Advogado que recebo sabe previamente que vai falar comigo a qualquer hora, sem precisar marcar audiência, livremente.
Aqui é como gosta o chef novaiorquino Anthony Bourdain: sem reservas.
Comentários
Ah, se esta regra pegar, em alguns casos, o juiz vai ter que chamar a segurança para desatracar os advogados.
Acho que os Ministros do STF (digo, algum deles) acabaram dando um tiro no próprio pé.
Essa regra, Não vai pegar!!!
Ano passado, em viagem de trabalho pelo interior, aproveitei para visitar um magistrado trabalhista no para expresar-lhe minha admiração. Recebeu-me de portas abertas, inclusive a que dava acesso à sala de seus assessores diretos, que participaram da conversa.
Ao sair, apresentou-me para todos os servidores de sua Vara.
Achei correta e simpática a atitude.
Honram-me seus comentários.
É incentivo para prosseguir assim.
É bom saber que há seguidores.
A bem da verdade, é melhor assim. Portas abertas para todos.
É bom para todos.
E ajuda a construir uma outra imagem da magistratura, tida e havida como distante, acima de tudo. Como diria um adepto do juridiquês: vivendo em torre ebúrnea.