Notícias do Caminho - de Hontanas a Boadilla del Camino

30 de abril de 2010, sexta-feira. Já passamos da metade do Caminho de Santiago.


Acordo cedo, estiro os músculos e vou ao minúsculo bar-supermercado Asun, anexo do albergue privado que ocupa um casarao imenso que vai da igreja até a esquina. Cuida dele um cubano de La Habana, com inconfundível sotaque habanero, cheio de gingas, compadres, putamadres e coños. O dono do albergue e do bar-supermercado é um antigo peregrino que resolveu investir 350 mil euros para atender os caminhantes. Meu compadre diz que a ordem aqui é satisfazer os peregrinos para que todos se sintam bem. Passo no anexo do albergue municipal para deixar bananas - uma raçao diaria ajuda a repor o potássio perdido - e acertar a partida e o reencontro em Boadilla del Camino. Uma lua cheia se espreme entre nuvens e dois casaroes. A luz já dá para caminhar com segurança, mas aqui nao tem o que errar. Atravessamos o rio e caminhamos pela estradinha de terra margenando-o em meio a trigais. Logo passo pelas ruinas de San Miguel, quase um obelisco. O sol nasce meio escondido entre nuvens escuras. Os moinhos de vento giram lentamente e nao parecem brancos. O Caminho agora coincide com uma estradinha asfaltada, entre choupos e trigais, que me leva diretamente às ruínas do Convento de Santo Antón. A estradinha passa pelas arcadas. Este convento fez fama no Século XI porque os antonianos tinham fama de cuidar do fuego de San Antón, uma doença parecida com a hanseníase. E também porque cuidavam bem dos peregrinos. Hoje funciona aqui um albergue. Antes das oito da manha já estou a caminho de Castrojériz.
Caminho entre trigais e logo chegou a Castrojériz.
Entro no bar de Toñi, amigo de Guy Veloso que já esteve em Belém. Ele me serve a melhor tortilla do Caminho. Mostra um livro de peregrinos brasileiros onde isso é dito. Concordo. Oferece-me queijo de ovelha curado com azeite espanhol de verdade. Quase verde. Nada parecido com os que compramos no Brasil. Faço uma foto com ele na frente do bar e me marcho para Boadilla. Uma dura caminhada até o Alto de Mostelares mostra para nós, homens, nosso verdadeiro tamanho diante da natureza.
Desço em direçao a Boadilla del Camino. No caminho avisto peregrinos ao longe. Em um alto encontro um grupo nutrido de peregrinos e um ônibus que parece esperá-los. E uma raridade: duas monjas peregrinando. Outra raridade: uma mae peregrina com o filhinho em um carrinho de bebe. Anda rápido. Fotografo a Puente Fitero. Ela fala rapidamente com os passageiros de um automóvel, atravessa ponte e para na área de descando. Caminho até Itero de la Vega, onde estiro os músculos e aperto o passo mara Boadilla.
Antes de uma e meia da tarde estou no fantástico albergue de Dudu Merino, ontro amigo de Guy Veloso. Ele lembrou de mim e de Araceli. Sem maiores perguntas levou-me ao alojamento, onde guardei camas para meus amigos e me instalei. Almocei enquanto a mae de Dudu cuidava de minhas roupas. A credencial foi selada depois.
Agora estou esperando meus amigos e reprogramando as etapas, pois temos que chegar a Santiago dia 15 de maio de 2010.
Vai dar.

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