Notícias do Caminho de Santiago - de Puente La Reina a Estella

Dia 20 de abril de 2010 caiu em uma terça-feira, mas para mim foi feriado, pois fiquei o dia inteiro descansando em Puente La Reina e esperando meus amigos que finalmente chegaram, depois de pernoitarem em Zariquiegui e vencerem o Alto del Perdón.
No dia 21 de abril de 2010, quarta-feira, tomamos nosso café da manha cedinho na cozinha do albergue Jakue e caminhamos pela Calle Mayor e pela puente, que estava lindíssima, refletida nas águas do Rio Arga.
Subimos - agora estou em um ritmo suave, para acompanhar meus amigos - até perto de 500 m de altitude e a torrente de peregrinos faz a diferença da Rota Francesa nesta retomada até Mañeru, entre trigais verdes e vinhedos em rebrota. Os tufos de tomilho e romero (alecrim) começam a aparecer com mais frequência. Passam por nós duas crianças de quase dez anos, acompanhdas da mae e da avó, que estimo está perto ou passando dos setenta. Seguem animados todos. A mae veste uma camiseta do Rio de Janeiro, daquelas que vendem nas praias. Percebe que falamos português e pergunta de onde somos. Voltamos a cruzar com essa família mais umas duas ou três vezes. A presença de jovens e crianças no Caminho dao a certeza que ele vai continuar crescendo neste novo século.
No topo de um cerro divisamos Cirauqui, onde chegamos por volta de 10:00 h. Paramos no mesmo bar onde estive em 2007, El Portal, e experimentei o yogurte da regiao, o Señorio de Sarria, fabricado perto de Puente La Reina. Logo depois de Cirauqui caminhamos sobre trechos da milenar calzada (via) romana. Os engenheiros romanos continuam fazendo inveja aos nossos.
Sobre uma ponte medieval vencemos o Rio Salado, onde - segundo Aymeric Picaud - os navarros deixavam os peregrinos dar água aos animais para que eles morressem e fossem por eles (navarros) estripados. Picaud nao tinha os navarros em boa conta. Mas hoje em dia os navarros tratam os peregrinos muito bem. Era quase uma hora da tarde quando passamos por Lorca. Caminhamos até agora 13 km.
Quase 5 km mais adiante passamos por Villatuerta.
O frenesi de construçoes que encontrei três anos passados arrefeceu e agora muitas casas estao desabitadas e à venda. A bolha imobiliária daqui fez estragos nestas cidades. E um de seus principais personagens, Enrique Bañuelos, agora é candidato a milionário no... Brasil! Soube por aqui que ele comprou a Agre, associou-se com a Accor para construir cerca de 5.000 apartamentos de hoteis para atender as Olimpíadas, vai comprar Sauípe e investir pesado em hidrelétricas e créditos de carbono. Aqui na Espanha ele é, para dizer o mínimo, um personagem controvertido. Mas graças ao seu sucesso no Brasil ele já é um dos dez mais ricos da Espanha.
Mais quatro quilômetros de caminhada e nos aproximamos do Rio Ega e de Estella, uma das cidades mais encantadoras do Caminho. Gosto muito dela, inclusive porque lembra minha neta que tem o mesmo nome, sem o primeiro E.
Desta vez conseguimos ficar na instalaçao principal do albergue, que é muito bom e acolhedor.
Chegamos por volta de 5 h da tarde, com tempo ainda suficiente para fazer compras e jantar no Casanova (Calle Fray Wenceslao de Oñate, perto da Plaza de Los Fueros). O menu do dia nos ofereceu salada, sopa de cozido, coelho com champignons, pimentoes recheados, frutas, sorvete, pao, vinho e água (€25,00 para duas pessoas). Na mesa ao lado um casal coreano, que meus amigos conheceram em Roncesvalles.
No albergue os italianos e franceses, como sempre, haviam dominado a cozinha e faziam a festa de sempre, com suas saladas e massas.
Regressamos rapidamente para o albergue antes das dez da noite. Pelas regras da casa, quem chegar depois desse horário vai ficar do lado de fora.
Amanha partimos para Los Arcos e a meteorologia promete chuva.

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