Lattes e Leite
Arquivo aberto
Publicado em 22/10/2010
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Alegria e tristeza para os historiadores da ciência: arquivos de Cesar Lattes serão abertos para os pesquisadores. Já os documentos José Leite Lopes continuam espalhados e pouco organizados.
Cesar Lattes e José Leite Lopes nos anos 1950: ícones da física brasileira que tiveram a memória guardada com cuidados distintos (foto: reprodução / Ciência e Cultura - SBPC).
O nome de Jonas Federman, professor da Escola de Comunicação (ECO) da Universidade Federal do Rio de Janeiro, acaba de entrar – merecidamente – para a história da ciência no Brasil – mais especificamente, para a da física neste país.
O primeiro passo para isso foi anunciado agora pela Comissão Nacional de Arquivos(Conarq). “Foi aprovado o Parecer da Comissão Técnica de Avaliação, referente ao reconhecimento como de interesse público e social do acervo do Físico Cesar Lattes.”, trecho retirado de um resumo das resoluções tomadas na 57ª e 58ª reuniões do órgão, vinculado ao Arquivo Nacional.
A documentação segue agora para a Casa Civil, em Brasília, e, segundo fonte entrevistada pela CH, em mais ou menos um mês deve receber a assinatura do presidente Lula.
O arquivo de Lattes – parte dele no Instituto de Física Gleb Wataghin da Universidade Estadual de Campinas (IFGW/Unicamp) e parte no Sistema de Arquivos daquela universidade, em São Paulo (SP) – poderá agora ganhar unidade.
Lá, nos cerca de 5,5 mil metros de altitude do monte Chacaltaya, a probabilidade de capturar novos fenômenos da natureza é maior, pois se ‘fotografa’ o chuveiro de partículas antes que ele comece a se dissipar.
A Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) também deu seu sinal verde para que o arquivo, lá depositado, ganhe esse novo estatuto.
Este signatário demonstra especial felicidade em dar esta nota, por dois motivos:
i) acompanhou o trabalho minucioso de Federman desde o início. O projeto inicial era parte do pós-doutorado desse professor da ECO, cuja tese avaliou a ‘tensão’ entre ciência e patrimônio histórico na reforma da Museu Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro (RJ). Federman acabou optando pelo pós-doc em uma área em que atua e faz pesquisa, ciência e arte digital, mas o trâmite junto ao Conarq – para o bem da história da ciência neste país – prosseguiu e agora praticamente se finaliza;
Por falar em preservação, deve-se fazer jus à pessoa do físico Edison Shibuya, do IFGW/Unicamp, incansável guerreiro na preservação da memória de Lattes. Shibuya foi quem, depois da morte de seu mestre e amigo, se responsabilizou pelo material deixado pelo físico brasileiro, acolhendo pedido da família de Lattes. Nos últimos anos, conseguiu trazer as chapas fotográficas que ainda estavam no Japão e no Rio de Janeiro, reunindo-as no ex-laboratório de Lattes no IFGW.
Leite, como era conhecido, foi ‘o’ grande articulador político da fundação do CBPF. Reuniu, em torno dele, militares, intelectuais, artistas, empresários e outros atores sociais. Grande orador, convenceu a todos a se unirem em prol da pesquisa em física no Brasil. Soube o momento certo de usar a fama e as descobertas de seu amigo Lattes para fundar o CBPF, em 1949. E, a reboque daquele centro, veio toda a estrutura político-administrativa que hoje faz do Brasil o que o Brasil é em ciência.
Pena, pena mesmo, que o CBPF não tenha mantido intacta a sala de Leite naquela instituição. Se há um fundador do CBPF, ele se chama José Leite Lopes. A instituição poderia ter feito isso por aquele que certamente é – e sempre será – o nome mais importante de sua história.
Cássio Leite Vieira
Ciência Hoje / RJ
Arquivos de Cesar Lattes será declarado de interesse público por decreto presidencial
Foi dele a ideia de iniciar um trâmite que em breve – provavelmente, ainda este ano – declarará o arquivo do físico brasileiro Cesar Lattes (1924-2005) de interesse público e social por meio de um decreto presidencial.O primeiro passo para isso foi anunciado agora pela Comissão Nacional de Arquivos(Conarq). “Foi aprovado o Parecer da Comissão Técnica de Avaliação, referente ao reconhecimento como de interesse público e social do acervo do Físico Cesar Lattes.”, trecho retirado de um resumo das resoluções tomadas na 57ª e 58ª reuniões do órgão, vinculado ao Arquivo Nacional.
A documentação segue agora para a Casa Civil, em Brasília, e, segundo fonte entrevistada pela CH, em mais ou menos um mês deve receber a assinatura do presidente Lula.
O arquivo de Lattes – parte dele no Instituto de Física Gleb Wataghin da Universidade Estadual de Campinas (IFGW/Unicamp) e parte no Sistema de Arquivos daquela universidade, em São Paulo (SP) – poderá agora ganhar unidade.
O conteúdo
- Cesar Lattes em momento de descontração: em breve, o publico poderá conhecer mais sobre a vida do maior físico brasileiro de todos os tempos (foto: reprodução / CBPF).
Lá, nos cerca de 5,5 mil metros de altitude do monte Chacaltaya, a probabilidade de capturar novos fenômenos da natureza é maior, pois se ‘fotografa’ o chuveiro de partículas antes que ele comece a se dissipar.
A Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) também deu seu sinal verde para que o arquivo, lá depositado, ganhe esse novo estatuto.
Este signatário demonstra especial felicidade em dar esta nota, por dois motivos:
i) acompanhou o trabalho minucioso de Federman desde o início. O projeto inicial era parte do pós-doutorado desse professor da ECO, cuja tese avaliou a ‘tensão’ entre ciência e patrimônio histórico na reforma da Museu Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro (RJ). Federman acabou optando pelo pós-doc em uma área em que atua e faz pesquisa, ciência e arte digital, mas o trâmite junto ao Conarq – para o bem da história da ciência neste país – prosseguiu e agora praticamente se finaliza;
Deve-se fazer jus à pessoa do físico Edison Shibuya, do IFGW/Unicamp, incansável guerreiro na preservação da memória de Lattes
ii) este signatário teve o prazer de doar documentação para o arquivo que agora está prestes a ser declarado de interesse público e social. São fotos, documentos inéditos, gravações da última longa entrevista dada pelo físico brasileiro e, tão importante quanto, cópias dos cadernos de laboratório usados por Lattes em suas famosas descobertas em Bristol (Inglaterra), em 1947, e no ano seguinte, em Berkeley (EUA), todos reunidos nos últimos cerca de 15 anos. Dá prazer saber que esse material estará protegido por um decreto presidencial e pela Unicamp. E que a universidade, com o fato de o arquivo ganhar esse novo estatuto, terá mais facilidades para angariar verbas para sua preservação.Por falar em preservação, deve-se fazer jus à pessoa do físico Edison Shibuya, do IFGW/Unicamp, incansável guerreiro na preservação da memória de Lattes. Shibuya foi quem, depois da morte de seu mestre e amigo, se responsabilizou pelo material deixado pelo físico brasileiro, acolhendo pedido da família de Lattes. Nos últimos anos, conseguiu trazer as chapas fotográficas que ainda estavam no Japão e no Rio de Janeiro, reunindo-as no ex-laboratório de Lattes no IFGW.
O que não são flores
A boa notícia ocorre justamente quando acaba de ser desmontado, no Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), no Rio de Janeiro (RJ), o arquivo de outro grande físico brasileiro, José Leite Lopes (1918-2006).Sobre José Leite Lopes: perdeu-se a coesão de algo que poderia ser o arquivo mais importante para a história da física neste país
Cartas e fotos ficaram com a família; livros e outros materiais foram para a biblioteca do CBPF. Perdeu-se a coesão de algo que poderia ser o arquivo mais importante para a história da física neste país. Cheguei a ver rapidamente o arquivo de cartas de Leite em uma entrevista longa com ele da qual tive o prazer de participar. O volume de correspondência me pareceu impressionante.Leite, como era conhecido, foi ‘o’ grande articulador político da fundação do CBPF. Reuniu, em torno dele, militares, intelectuais, artistas, empresários e outros atores sociais. Grande orador, convenceu a todos a se unirem em prol da pesquisa em física no Brasil. Soube o momento certo de usar a fama e as descobertas de seu amigo Lattes para fundar o CBPF, em 1949. E, a reboque daquele centro, veio toda a estrutura político-administrativa que hoje faz do Brasil o que o Brasil é em ciência.
Pena, pena mesmo, que o CBPF não tenha mantido intacta a sala de Leite naquela instituição. Se há um fundador do CBPF, ele se chama José Leite Lopes. A instituição poderia ter feito isso por aquele que certamente é – e sempre será – o nome mais importante de sua história.
Cássio Leite Vieira
Ciência Hoje / RJ
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