Notícias do Caminho de Santiago - de Jaca a Arrés
Passar a noite em uma cidade medieval com todos os atributos de uma cidade moderna, em um albergue de peregrinos, é mesmo uma experiência única. Muita gente conhece Toledo e gosta dela. O que ficamos sabendo no Caminho é que existem muitas outras cidades parecidas, algumas pouco mais que aldeias, que receberam um sopro de vida com o Caminho. Jaca é uma dessas.
Cedinho, depois de terminar o post anterior, saio do albergue para a jornada até Arrés. O café da manha foi no albergue mesmo, na melhor tradiçao jacobea. O leite foi dividido com um peregrino de 74 anos.
Alguns metros adiante, um senhor me ajuda a encontrar as setas para sair da cidade. Preferi caminhar pelo parque, muito charmoso e florido. Encontro o primeiro canteiro de romero, o nosso alecrim, que com o tomilho e o erva doce, vao me acompanhar estes dias todos.
A caminhada nesta etapa continua de descida dos Pirineos. Na saída, mas já na trilha, recebo uma ligaçao de meus amigos que saíram ontem de Saint-Jean e deslumbrados com a beleza dos bosques pirenaicos resolveram passar direto por Orisson e ir para Roncesvalles, onde chegaram onze horas da noite, caminhando mais ou menos três horas sem luz natural, se orientando com lanternas. Foi, reconheço, uma loucura que nao recomendo e eu mesmo nao faria. Mas estavam felizes e um deles aniversariava. Fiquei feliz com eles.
De Jaca a Santa Cilia de Jaca é um estirao muito bonito, com os Pirineus nevados ao fundo. Fui o primeiro a chegar a Santa Cilia, um encantador pueblo. O albergue estava fechado e o bar também. Só a padaria estava aberta, mas nao tinha mais paes pequenos. Cuidei dos pés e assisti a chegada de um peregrino espanhol de 74 anos, que encontrada em Jaca na noite anterior. Ele chamou a hospitalera. Logo chegaram dois irmaos zaragozanos, Miguel e Luis. Compraram um pao imenso e dividiram comigo na pracinha. Agora sei o que é ser companheiro de compartir o pao.
Sigo adiante e 4 km depois passo por um camping que tem um bom restaurante, com Menu do Peregrino. Tem boa cara, mas preferi passar batido.
Logo depois passei triscando por Puente La Reina de Jaca. A velha ponte serve até hoje ao pesado tráfego moderno, fazendo inveja para nossos empreiteiros.
No final da tarde chego a Arrés, uma aldeia medieval com um hospital de peregrinos que nestes dias tem dois franceses - Jean e Jorge - como hospitaleros. Fica em um casa reabilitada e se mantém com donativos. Deixei 10 euros. O espírito jacobeo preside o albergue, que pede apenas um sorriso de retribuiçao. Lá encontrei Jane, uma peregrina dinamarquesa. Logo depois chegaram os irmaos zaragozanos Miguel e Luis. Durante o jantar chegou o inglês John. E depois vi que chegara um peregrino de fala espanhola.
A aldeia está sendo reabilitada e tem um bar que também ó pousada. Quem mora aqui, mora bem e fica perto de Puente La Reina. Nao tem Internet e sinal de celular.
Seis da tarde Jorje nos leva para visitar a igrejinha com um acervo surpreendente de pinturas e retábulos. Jorge faz-nos rezar uma oraçao de S. Francisco, cada um na sua língua. Em seguida nos leva para contemplar o horizonte em frente a uma mesa de orientaçao, que sao comuns no Caminho. Nos indica o Caminho para sair pela manha. Quando o sol se poe, pede que nos voltemos para ele e façamos um minuto de silêncio.
Na passagem de volta par ao albergue e para o jantar, compro um bom vinho da Rioja e os zaragozanos compram cervejas no bar.
Ajudamos a preparar o jantar. Salada, salsichao e um gratinado de beringelas que é simplesmente espetacular. A gastronomia do Caminho quando fica a cargo de franceses é sem erro. Nesse caso um prato simples: uma camada de beringela, uma camada de tomate, uma camada de massa parecida com penne e uma camada de cebola (tudo frito ou cozido) gratinado. Sai do forno para a mesa. A cebola - por cima - fica crocante e o restante bem macio. Combinou com o pao e o vinho. Fantástico. A sobremesa é uma compota caseira de maça. Um dedo de prosa e o sono dos justos.
Buen Camino é isso.
O café da manha foi simples e adequado para quem vai começar uma empreitada dura, pois resolvi antecipar minha chegada a Puente La Reina e para isso resolvi caminhar até Ruesta.
Ao sair aumentei o donativo, completando 15 euros, pois o Hospital de Peregrinos de Arrés merece esse apoio.
Afasto-me e vou vendo a silhueta de Arrés se diluir no horizonte.
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Allez!