Guy Veloso e o Caminho de Santiago

Nosso paraensíssimo fotógrafo Guy Veloso participa de mais uma exposição fotográfica.
O tema é o Caminho de Santiago, por ele feito e refeito umas quantas vezes.
Pena que é no Rio de Janeiro.
Mas bem que os Correios poderiam tornar essa uma exposição itinerante. Pensando bem, essa e todas as outras.
Bastaria encontrar um local para expor e agendar a itinerância pelo território nacional.
Seria mais uma excelente contribuição dos Correios, expandindo seu Centro Cultural para além da Visconde de Itaboraí.
Hosanas para Guy e seus companheiros de exposição.
Abaixo, o serviço completo.

Fotógrafos brasileiros e espanhóis reverenciam o 
Caminho de Santiago em exposição no Rio


Foto Guy Veloso


Um pouco da história e dos personagens do Caminho de Santiago podem ser vistos agora no Rio de Janeiro, na exposição de fotografias Itinerarium: Pelo Caminho de Santiago em Castilla e León com curadoria de Amador Griñó e Wilson Lazaro, que inaugura dia 12 de fevereiro [quarta-feira], no Centro Cultural Correios.

Como fotógrafos convidados, Ángel Marco e Eduardo Margareto, da Espanha, e Guy Veloso, Rodrigo Petrella e Vik Muniz representam o Brasil.

Os trabalhos dos cinco artistas reconstituem uma perspectiva singular do olhar sobre o Caminho de Santiago de Compostela: as pessoas que moram ou passam pelo caminho, criando um fascinante Caminho das Pessoas Comuns. Uma homenagem ao Caminho e às pessoas que passaram por ele.

OS ARTISTAS

Ángel Marco nos incita à reflexão sobre o trânsito, os limites. O Caminho, presente em todo o trabalho, nos remete à existência humana que, por sua vez, está profundamente associada ao conceito de passagem, da mobilidade neste mundo. As mudanças de um lugar a outro marcam a forma do movimento da vida, quem viaja daqui ali não é apenas um peregrino ou um viajante, mas também um ser humano em busca de transformações na sua visão de vida; um emigrante que circula entre os diferentes estados físicos ou realidades da existência. Perambulamos até a morte pelo caminho da vida, pelo caminho do ser, neste périplo que vai do nascimento ao fim.

Em seu trabalho, ele investiga as diferentes facetas da realidade em um espaço e tempo determinados, às vezes impossível, em outras, cruel. Uma reflexão sobre a existência de um caminhar que vagueia por caminhos vazios e mutantes, como a vereda pastoril que se espatifa contra a calçada de cimento ou o campo de futebol deserto e florido diante de uma antiga ermida. Não podemos nos subtrair de nossas origens; são séculos de uma cultura concreta, de uma paisagem concreta, que queiramos ou não estão guardados no mais profundo do nosso subconsciente. Os caminhos de Ángel Marco nos dominam, diante deles temos a sensação de que somos nós, os espectadores, aqueles que estão andando, transitando entre duas realidades impossíveis.

Não há caminhos sem caminhantes, e vice-versa. Eduardo Margareto escolheu outra maneira de contar o Caminho: o retrato. Estes rostos familiares e ao mesmo tempo estranhos são como existências em trânsito, almas do caminho, como ele as chama e nos explicará mais adiante: almas que ficaram presas no itinerário e deixam entrever, através de seus rostos, simples compromissos ou fantasias pessoais de destinos crípticos transformadas em histórias de paixão. John Berger afirmava que fotografias não traduzem aparências. Citam-nas. Eduardo, através desta galeria de retratos, nos apresenta todo um leque de histórias variadas. Personagens cujas vidas estão indissociavelmente unidas à peregrinação de Santiago. Se, como acreditavam os platônicos, a alma se manifesta no rosto, estas almas abandonam o anonimato para nos lembrar a parte mais humana do Caminho.

A abordagem do brasileiro Guy Veloso, que peregrinou a Santiago aos 23 anos, é um exercício emocional íntimo, o reflexo surpreendente de uma experiência vivida, a combinação entre um périplo da juventude e uma reflexão posterior.

A íntima mobilidade humana que o impeliu a caminhar desde os Pirineus e atravessar terras duras e pesadas, a surpresa de encontrar os ribeirinhos do Caminho castelhano-leonês, que, assim como os habitantes das margens do Amazonas, desenvolveram uma cultura própria vivendo às margens do imenso caminho-rio de Santiago que flui até o fim do mundo... Isso faz com que suas fotografias, independentemente da técnica usada, acumulem uma magia especial, um sentimento amoroso que ainda o ata à peregrinação.

Rodrigo Petrella escolheu o preto e branco por suas qualidades expressivas especiais. Ao ver seu trabalho, recordamos de alguma maneira a época em que as fotografias eram consideradas um milagre, uma coisa mágica. Muitos fotógrafos, conscientes desta qualidade emocional do branco e preto, iniciaram um longo idílio romântico com essas escalas de cinzas que ainda encerram tantos segredos, e a cujo fascínio ele também sucumbiu.

Este tempo de reflexão que o Caminho de Santiago lhe ofereceu longe da cosmópole nova-iorquina e da maloca amazônica, acrescentam ao seu trabalho uma visão complementar, uma visão onde o ritmo do caminho, afastado da vertigem contemporânea dos arranha-céus e da atemporalidade primitiva da selva, aflora em suas fotografias através de uma poética muito particular, talvez melancólica e certamente nostálgica, transmitindo-nos a sensação de que estamos vendo os restos do esplendor de certa época passada que se nega a desaparecer.

Finalmente, poderemos ver duas fotografias de Vik Muniz, da série chocolate, que pertecem ao Museu de Arte Contemporânea de Castilla e Léon [MUSAC], onde as catedrais de Leon e Burgos pintadas com chocolate, fariam João e Maria salivar. O artista, que constituiu ao longo dos últimos 25 anos uma carreira singular, tem sua trajetória revisitada em exposição no MAM do Rio de Janeiro, onde também exibe peças da série chocolate. Templos de confeitaria que se negam a desaparecer, imortalizados pela câmera do artista. É muito interessante o jogo que ele estabelece com o espectador ao usar materiais perecíveis e aparentemente desprovidos de possibilidades plásticas, realizando um volante criativo entre estas e o artista, e, parafraseando o filósofo José Antonio Marina, elaborando mais uma crônica humorística e metafórica a respeito da arte contemporânea, uma mostra de habilidade inteligente.

Levando a ironia para a pintura, o artista transgride no fundo os conceitos clássicos da obra de arte e da teoria da fotografia. A facilidade que a fotografia possui para se oferecer, para se entregar a tão diferentes amantes, também faz parte de sua natureza. Aos olhos lúbricos dos gulosos, esta agudeza subjetiva e surpreendente acrescentará matizes de desejo similares à apetência sexual suscitada pelo corpo nu, e também, em sua simbologia oculta, poderá nos levar a pensar no fundamento histórico do xocolalt asteca, como símbolo da riqueza do Novo Mundo com que a Espanha pôde construir monumentos tão impressionantes.

Mais textos e fotos em anexo. 

SERVIÇO:

Curadoria: Amador Griñó e Wilson Lazaro (co-curador)

Artistas: Vik Muniz, Guy Veloso, Eduardo Margareto, Ángel Marco e Rodrigo Petrella

Local: Centro Cultural Correios

Endereço: Rua Visconde de Itaboraí, 20 - Centro - Rio de Janeiro

Telefones: 21. 2253 - 1580

Abertura para convidados: 11 de fevereiro [terça feira], às 19 horas 

Período expositivo: de 12 de fevereiro a 29 de março de 2009

Horário: terça a domingo, das 12h às 19h

Entrada gratuita

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