Cotas (2)
A Bia fez um comentário sobre o tema das cotas, que merece se tornar um post com autoria da comentarista qualificada.
Vamos a ele e, depois dele, uma nota de rodapé.
Bia deixou um novo comentário sobre a sua postagem "Cotas":
Querido Alencar,
cabe-me ser a voz discordante...rsrsrs...mas, em se tratando de você, eu o faço com tranquilidade e carinho.
As cotas raciais foram o fator que maior "comoção" causou na sociedade "anti-racista" brasileira. Não, não é seu caso, em absoluto.
Sua posição vai encontrar a de outros intelectuais ´sérios e respeitáveis, mas que neste caso, cometem um desvio democrático.
´Do meu lado - ou da minha janelinha - não posso entrender a prevalência dos pretos e pardos em todas as cotas negativas da sociedade: a maioria entre os pobres, entre os indigentes ou entre os analfabetos.
Se isso não se deve à forma cruel como abolimos legalmente a escravidão, jogando os negros porta afora da Casa Grande - quando os escravotadas norteamericanos garantiram aos seus libertos 40 acres de terra e uma mula - e por isso devemos as aç~´oes afirmativas como reparação, aí não sei como vamos tratar a desigualdade social escamoteando a intensa desigualdade racial.
Porque ela - a racial - revela-se sempre mesmo quando queremos apenas enxergar o combate à pobreza como a melhor saída. Ela revela-se no atendimento de quinta classe às mulheres negras no número reduzido de consultas pré-natal em relação às mulheres brancas. e aqui, todas são pobgres.
Revela-se na proporção maior de mortes entre bebês menores de um ano, se negros, comparados aos filhos de mulheres brancas.
E, está presente no ínfimpo número de alunos negros na USP (1,5%), onde ainda que não sejam maioria, os estudantes pobres são bem mais do que esta proporção.
Vamos em frente, querido amigo, que a discussão precisa ser aberta, democrática, e você, mais do que a maioria, é o melhor patrono para isso.
Um abraço fraterno.
Querido Alencar,
cabe-me ser a voz discordante...rsrsrs...mas, em se tratando de você, eu o faço com tranquilidade e carinho.
As cotas raciais foram o fator que maior "comoção" causou na sociedade "anti-racista" brasileira. Não, não é seu caso, em absoluto.
Sua posição vai encontrar a de outros intelectuais ´sérios e respeitáveis, mas que neste caso, cometem um desvio democrático.
´Do meu lado - ou da minha janelinha - não posso entrender a prevalência dos pretos e pardos em todas as cotas negativas da sociedade: a maioria entre os pobres, entre os indigentes ou entre os analfabetos.
Se isso não se deve à forma cruel como abolimos legalmente a escravidão, jogando os negros porta afora da Casa Grande - quando os escravotadas norteamericanos garantiram aos seus libertos 40 acres de terra e uma mula - e por isso devemos as aç~´oes afirmativas como reparação, aí não sei como vamos tratar a desigualdade social escamoteando a intensa desigualdade racial.
Porque ela - a racial - revela-se sempre mesmo quando queremos apenas enxergar o combate à pobreza como a melhor saída. Ela revela-se no atendimento de quinta classe às mulheres negras no número reduzido de consultas pré-natal em relação às mulheres brancas. e aqui, todas são pobgres.
Revela-se na proporção maior de mortes entre bebês menores de um ano, se negros, comparados aos filhos de mulheres brancas.
E, está presente no ínfimpo número de alunos negros na USP (1,5%), onde ainda que não sejam maioria, os estudantes pobres são bem mais do que esta proporção.
Vamos em frente, querido amigo, que a discussão precisa ser aberta, democrática, e você, mais do que a maioria, é o melhor patrono para isso.
Um abraço fraterno.
Postado por Bia no blog Blog do Alencar em Segunda-feira, Novembro 24, 2008 11:57:00 A
RODAPÉ: Não dá para ser contra as cotas, bolsas e todas as ações afirmativas neste país assimétrico, desigual mesmo. Mas dá para ser contra ficar só nisso. E como a promessa implícita dessas ações é ficar só nisso, minha crítica é como Regulador Xavier nº 2: contra a escassez. Eu quero é mais, e não menos. Se não fosse este um país de desigualdades - sociais e regionais, não esqueçamos - isso não seria tema nem de post, quanto mais de lei.
Comentários
desculpe os grosseiros erros de digitação do meu comentário anterior, que dificultam e tornam a leitura uma chatice.
Em nenhum momento pensei que você queria menos do que as cotas...rsrsrs...Mas, brasileiros como você, se não estiverem aliados ao pensamento de que elas não são menos, são necessárias, trarão um enorme prejuízo a esta luta.
Poucos acompanharam o desenvolvimento do programa Raízes como você. E, ainda que nunca eu tivesse lhe dito isso, acho que fazíamos, com o apoio integral dos governos Almir Gabriel e Simão Jatene, uma política de cotas orçamentárias, para privilegiar os mais desiguais. Combatíamos assim o que se chama de racismo institucional.
A minha defesa da política de cotas raciais nas universidades -e para os alunos da rede pública - não é um discurso honesto apenas. É a certeza de uma prática de resultados.
A questão da auto-estima, levada a sério por poucos, é fator importantíssimo. Tanto na questão quilombola, quanto na do acesso de alunos negros às Universidades. O trecho abaixo é uma avaliação que vale a leitura:
"A autodesqualificação que os alunos negros costumam sofrer por conta do racismo os afasta da disputa pelo acesso à universidade. Muitos não se reconhecem com legitimidade, se sentem "fora do lugar" ou sequer cogitam concorrer a uma vaga numa universidade pública já que esta, historicamente, sempre foi um reduto das elites no Brasil. Para reverter esse cenário, o Centro de Convivência Negra da Universidade de Brasília (UnB) – que adotou o sistema de cotas para negros em 2004 – criou, em parceria com a Secretaria Estadual de Educação, o projeto "Cotistas nas escolas": alunos ingressos na UnB pelo sistema de cotas visitam as 57 escolas públicas de ensino médio do Distrito Federal para divulgar esse processo seletivo. Para tanto, recebem bolsas que variam entre R$ 200 e R$ 450, de acordo com o número de horas dedicadas ao projeto."
Há um belíssimo estudo do Ricardo Henriques, ainda que não tão recente, mas atualíssimo (2002) que vou mandar pra você pelo e-mail.
Ali você verá opequeno exemplo que usei sobre os efeitos da universalização - inexistentes - do acesso ao ensino para os negros.
mando também o Manifesto a favor das cotas, onde argumentos bem melhores que os meus merecem ser avaliados.
Um abraço forte.