Direito à Vida

Estava em uma lojinha aqui na Cidade do Panamá quando o noticiário internacional de uma emissora local mostra o vídeo e o áudio - precários - das lesoes corporais que os kaiapós provocaram no engenheiro da ELETROBRAS.
Havia lido o relato do André Nunes no Blog Xipaya, do Lafayette.
Impossível nao ficar impactado. E indignado, como ficou Marcio Meira, Presidente da FUNAI.
O crime, em si mesmo considerado, vai ser apurado e um juiz julgará, conforme as leis da sociedade envolvente e nao da etnia envolvida. Claro que o juiz levará em conta a friccao interétnica e os laudos que forem apresentados. O episódio nao desatará uma guerra tribal e as instituicoes jurídicas funcionarao a tempo e a hora. Pelo menos é o que se espera. Para que o caso nao venha dar com os costados na Corte de San José de Costa Rica.
O ruim da história é que o sangue vai toldar o debate que precisa ser feito.
Tao importante quanto a autoria e co-autoria do crime, é trazer o debate para um eixo que considere outras questoes.
De minha parte estou convencido da viabilidade tecnológica da hidrelétrica de Belo Monte, com as ressalvas já conhecidas e postas para o debate por Lúcio Flávio Pinto: a usina nao tem potencia firme o ano todo e precisa ter reservatórios à montante, tema sobre o qual a ELETROBRAS, a ELETRONORTE e o Governo nao se pronunciam claramente, para afirmar ou para negar (embora nos inventários mais antigos esses outros aproveitamentos aparecessem).
Mas ainda nao estou convencido da viabilidade ambiental, economica, social e política da usina. Só um bom EIA-RIMA e um relatório específico sobre a sustentabilidade do empreendimento - de preferencia nos moldes do GRI - permitiriam um convencimento seguro.
Para além do sangue que tinge o debate, é preciso nele introduzir outras questoes sobre Belomonte: por que, para quem, como, quando e - também - quanto.
É preciso ouvir os stakeholders, o que no jargao corporativês significa partes interessadas. E isso inclui dos kaipós ao Bispo Prelado do Xingu. Mas inclui nós todos, paraenses e amazônidas, que nao podemos aceitar ser província - mineral, energética, madeireira etc - e que esse seja nosso destino manifesto.

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