Caminhando Sobre o Glaciar Perito Moreno
É isso aí!
Passei quase duas horas caminhando sobre o Glaciar Perito Moreno.
Digo como foi.
Saimos de El Calafate. Oitenta quilômetros depois estávamos de cara com o Glaciar Perito Moreno, na Península de Magallanes. Na passagem, topamos com uma hosteria de 1.000 dólares a diária, já dentro do Parque Nacional. Soube que Lula, Lagos e Kirchner estiveram aqui alguns anos atrás, para uns dias de trabalho. Depois foram as copas, como se diz aqui, que ninguèm é de ferro. Conversa de um ex-empregado dessa hosteria de mil dólares a diària, que agora faz turismo receptivo aqui. Fica de frente para o Glaciar. Coisa de louco.
O Glaciar, visto assim de frente, é mesmo coisa de louco. Quilômetros de largura e uns trinta quilômetros de comprimento. Azul esbranquiçado. Branco Azulado. Escolham um gradiente e todas as milhares de possibilidades vamos encontrar. O Glaciar está em fase de crescimento. Esparrama-se contra a Pensínsula de Magallanes. De vez em quando um estampido, como de escopeta. É uma lasca enorme de gelo que despenca de alturas - quarenta, sessenta e mais metros - e se precipita na água. Quando ouvimos o estampido, a lascona já está caindo (a luz é mais veloz que o som, remember). Um muuuuuunnnnndo de gelo. Espera-se que este ano tenha uma ruptura, o grande fenômeno deste Glaciar. É assim. Ele se move, se derrama sobre a Península, fecha o Brazo Rico, forma uma represa imensa. Com os anos, a água vai passando por baixo e vai derrocando o glaciar. Começam a cair pedaços, como agora, que vao formar témpanos (icebergs). Até ficar um arco. Imenso. Um belo dia de março de um ano qualquer o arco desaba. Tenho um vídeo que documenta a última ruptura, em 2004. Talvez tenha outra agora, em março de 2008.
Depois de uma hora vendo essa maravilha, nosso guia - um tucumano simpático - nos leva ao porto do Brazo Rico. Navegamos uma hora pelo costado Sul do Glaciar. Só essa viagem já valia o dia. Chegamos no atracadouro, passamos uma hora no refúgio. Como levamos nosso pic-nic e o fizemos de cara para o Glaciar, ficamos só apreciado a paisagem do glaciar. Depois caminhamos por uma pequna praia pedregosa e recebemos uma liçao basica de glaciologia. Agora somos quase especialistas no tema. Caminhamos mais um pouco e nos colocam grampos nos pés (grampones). E nos ensinam a caminhar no gelo. A aventura começa aí. Treinamos e caminhamos quase duas horas sobre o Glaciar Perito Moreno. Nunca pensei viver o suficiente para fazer isso. Nao é água congelada, é neve compactada. O glaciar se move dois metros e meio por dia. Nas margens, onde caminhamos, quinze centímetros por dia. As tonalidades de azul sao incríveis. Pequenos riachos descem pela linha de menor resistência. Onde tem uma rocha escura, por mínima que seja, o sol aquece e vira um furo no gelo. Quanto mais antiga, maior o furo. E mais profundo. Cheio de água pura. Cristalina. Azul. Quando mais fundo, mais azul. Uma gruta aparece à esquerda da trilha. Azul claro na entrada, azul escuro no fundo. Caminhar exige cuidados. Pernas abertas para nao tropeçar. Subidas com passadas curtas. Descidas quase de cócoras. Com o passar do tempo nos acostumamos. Os guias sao experientes e extremamente profissionais. Identificam os que precisam de cuidados. Sao três guias. Um na frente, um no meio e outro no final do grupo, de dezessete pessoas. É uma caminhada fantástica, subindo e descendo o glaciar. Quase caio em um buraco. O guia percebe e marca o lugar com uma dessas picaretas de alpinistas.
Araceli recebeu cuidados especiais dos guias. Saiu-se bem, no final das contas. Em uma das gretas, um dos guias faz uma demonstraçao de como subir uma parede vertical de gelo, com duas dessas picaretas.
E no final aparece uma mesa. Como surgindo do nada, aparecem copos e uma garrafa de uísque. Um dos guias quebra gelo em um balde. Gelo puro. Da melhor qualidade. Derrama pedaços nos copos. E serve generosas doses de uísque. Com gelo da melhor qualidade. Festa. Em todas as línguas. Eles e todos se divertem.
Mais uns passos e voltamos a granpoñera, onde tiramos os grampos dos pés e caminhamos pelo bosque até o refúgio.
Do refúgio mais uma hora de pura contemplaçao do Glaciar Perito Moreno, agora íntimos dele. E com a esperança de que ele fique sempre aqui, crescendo, derramando-se sobre a península, até que voltemos. Nós é todos.
Pegamos o barco de volta, com a certeza de que voltarei a este lugar que deve ser a oitava maravilha do mundo, sem nenhum favor.
Passei quase duas horas caminhando sobre o Glaciar Perito Moreno.
Digo como foi.
Saimos de El Calafate. Oitenta quilômetros depois estávamos de cara com o Glaciar Perito Moreno, na Península de Magallanes. Na passagem, topamos com uma hosteria de 1.000 dólares a diária, já dentro do Parque Nacional. Soube que Lula, Lagos e Kirchner estiveram aqui alguns anos atrás, para uns dias de trabalho. Depois foram as copas, como se diz aqui, que ninguèm é de ferro. Conversa de um ex-empregado dessa hosteria de mil dólares a diària, que agora faz turismo receptivo aqui. Fica de frente para o Glaciar. Coisa de louco.
O Glaciar, visto assim de frente, é mesmo coisa de louco. Quilômetros de largura e uns trinta quilômetros de comprimento. Azul esbranquiçado. Branco Azulado. Escolham um gradiente e todas as milhares de possibilidades vamos encontrar. O Glaciar está em fase de crescimento. Esparrama-se contra a Pensínsula de Magallanes. De vez em quando um estampido, como de escopeta. É uma lasca enorme de gelo que despenca de alturas - quarenta, sessenta e mais metros - e se precipita na água. Quando ouvimos o estampido, a lascona já está caindo (a luz é mais veloz que o som, remember). Um muuuuuunnnnndo de gelo. Espera-se que este ano tenha uma ruptura, o grande fenômeno deste Glaciar. É assim. Ele se move, se derrama sobre a Península, fecha o Brazo Rico, forma uma represa imensa. Com os anos, a água vai passando por baixo e vai derrocando o glaciar. Começam a cair pedaços, como agora, que vao formar témpanos (icebergs). Até ficar um arco. Imenso. Um belo dia de março de um ano qualquer o arco desaba. Tenho um vídeo que documenta a última ruptura, em 2004. Talvez tenha outra agora, em março de 2008.
Depois de uma hora vendo essa maravilha, nosso guia - um tucumano simpático - nos leva ao porto do Brazo Rico. Navegamos uma hora pelo costado Sul do Glaciar. Só essa viagem já valia o dia. Chegamos no atracadouro, passamos uma hora no refúgio. Como levamos nosso pic-nic e o fizemos de cara para o Glaciar, ficamos só apreciado a paisagem do glaciar. Depois caminhamos por uma pequna praia pedregosa e recebemos uma liçao basica de glaciologia. Agora somos quase especialistas no tema. Caminhamos mais um pouco e nos colocam grampos nos pés (grampones). E nos ensinam a caminhar no gelo. A aventura começa aí. Treinamos e caminhamos quase duas horas sobre o Glaciar Perito Moreno. Nunca pensei viver o suficiente para fazer isso. Nao é água congelada, é neve compactada. O glaciar se move dois metros e meio por dia. Nas margens, onde caminhamos, quinze centímetros por dia. As tonalidades de azul sao incríveis. Pequenos riachos descem pela linha de menor resistência. Onde tem uma rocha escura, por mínima que seja, o sol aquece e vira um furo no gelo. Quanto mais antiga, maior o furo. E mais profundo. Cheio de água pura. Cristalina. Azul. Quando mais fundo, mais azul. Uma gruta aparece à esquerda da trilha. Azul claro na entrada, azul escuro no fundo. Caminhar exige cuidados. Pernas abertas para nao tropeçar. Subidas com passadas curtas. Descidas quase de cócoras. Com o passar do tempo nos acostumamos. Os guias sao experientes e extremamente profissionais. Identificam os que precisam de cuidados. Sao três guias. Um na frente, um no meio e outro no final do grupo, de dezessete pessoas. É uma caminhada fantástica, subindo e descendo o glaciar. Quase caio em um buraco. O guia percebe e marca o lugar com uma dessas picaretas de alpinistas.
Araceli recebeu cuidados especiais dos guias. Saiu-se bem, no final das contas. Em uma das gretas, um dos guias faz uma demonstraçao de como subir uma parede vertical de gelo, com duas dessas picaretas.
E no final aparece uma mesa. Como surgindo do nada, aparecem copos e uma garrafa de uísque. Um dos guias quebra gelo em um balde. Gelo puro. Da melhor qualidade. Derrama pedaços nos copos. E serve generosas doses de uísque. Com gelo da melhor qualidade. Festa. Em todas as línguas. Eles e todos se divertem.
Mais uns passos e voltamos a granpoñera, onde tiramos os grampos dos pés e caminhamos pelo bosque até o refúgio.
Do refúgio mais uma hora de pura contemplaçao do Glaciar Perito Moreno, agora íntimos dele. E com a esperança de que ele fique sempre aqui, crescendo, derramando-se sobre a península, até que voltemos. Nós é todos.
Pegamos o barco de volta, com a certeza de que voltarei a este lugar que deve ser a oitava maravilha do mundo, sem nenhum favor.
Comentários
Caramba, vocês dois estiveram no gelo e não nas nuvens!...legal !
Isso é muito louco mesmo!
Beijos.