Notícias de Lima (6)
Ontem resolvi passar o dia no Centro de Lima, revisitando a Plaza Mayor, a Catedral, o Convento de San Francisco e por aí.
Os terremotos que açoitam Lima com regularidade fazem com que suas construçoes mais antigas e importantes sejam do Século XVII em diante. A atarracada Catedral é exemplo disso. Francizco Pizarro está enterrado aqui. Seus restos foram examinados por uma equipe de cientistas e legistas. Tudo para autenticar o esqueleto. Ainda há controvérsias.
Neste momento a Catedral e a Plaza Mayor sao vítimas de dois terremotos de mau gosto. Uma árvore de Natal tao alta quanto desgraciosa e a infame Cow Parade, estas vaquinhas tao simpáticas quanto idiotas que infestam algumas capitais do mundo (a que aparece na página de abertura está na frente da Casa de Gobierno). Sinceramente, no começo até que tinha alguma graça. Agora, pela repetiçao ad nauseam as vaquinhas deram no saco, embora tenham lá seu humor e sua graça. As autoridades - o onipresente alcalde Luis Castañeda Lossio inclusive -deveriam ter poupado a Plaza Maior das duas coisas (vacas e árvore de Natal). Simplesmente nao combinou, nao deu liga. Nao bateram os santos de umas com os das outras.
Visitei com toda a calma o Convento de San Francisco. Visita guiada e tudo mais. A Santa Ceia com seus cuyes e keros é o equivalente a Mona Lisa para os visitantes. E as catacumbas! Para quem sofre de claustrofobia ou nao gosta de ambientes lúgubres, é melhor nao encarar. Este velho cemitério continua em alta entre os visitantes. Agora só os frades sao enterrados aqui. Mas no passado a elite limenha pagava caro aos fransciscanos - voto de pobreza a parte - para serem enterrados embaixo do altar-mor, para abreviar sua chegada aos céus. Se é que chegavam lá mesmo.
O Centro de Lima continua com o velho encanto de sempre, com seus balcoes e suas multidoes. Mas a decadência bateu firme. Qualquer semelhança com Belém nao é mera coincidência. Belém tem muita coisa - errada - que aprender com Lima. Muita coisa que era boa está se perdendo. Velhos bares e restaurantes estao ficando decadentes, inexoravelmente. Mas o Hotel Maury, onde foi inventado o Pisco Sour em 1930, continua firme e forte, com o mesmo charme de sempre. E o drinque é até mais barato que em outros lugares (algo como sete reais). O Maury está para o Pisco Sour como o Floridita está para o Daiquiri. Aliás, outra simetria de Lima com Havana é o Barrio Chino. Aqui como em Cuba, abolida a escravidao foram trazidos chineses aos montes para substituir a mao-de-obra negra. Em Cuba eles deixaram marcas profundas, pois participaram inclusive das lutas pela Independência (no Vedado tem um obelisco de granito negro em homenagen aos chineses). Além da comida, deixaram de herança as mulatas chinas, as cubanas mestiças de negros e chineses, lindíssimas (Célia Cruz, por exemplo). Aqui no Peru quando terminaram os contratos os chineses se mudaram para Lima e se estabeleceram nas cercanias da Calle Capón, onde um portao marca o início do Barrio Chino (como a Liberdade em S. Paulo ou Chinatown e tantos outros lugares do mundo). A fusao da gastronomia chinesa com a peruana deu origem aos chifas, os restaurantes chineses. Fui almoçar no Chifa Capón, um dos mais populares (e melhores). Encarei meio pato pequinês, sem nada além disso. Foi parada, mas deixei só os ossos. E fiquei caminhando o resto do dia pelo centro e pelas margens do Rimac que, para nao variar, agora tem uma ponte estaiada para pedestres. Uma urbanizaçao modernosa melhorou as margens do Rimac. A segurança nem tanto e todo cuidado é pouco.
Junto do Barrio Chino tem um imenso mercado, com frutas, verduras, cereais, carne, peixe, frutos do mar, ervas, flores e tudo o que se possa imaginar. Inclusive chineses vendendo roupas baratíssimas. Na seçao de menudencias descubro que eles importam vísceras bovinas do Brasil. Sao brancas como nunca tinha visto. Acho que foram lavadas com Omo. Ou cloro, o que é mais provável. Sei que fazem o maior sucesso aqui.
Caminho pelo Jirón Unión até a Plaza San Martin e daí, antes que escureça, volto para Miraflores.
Jantar nem pensar.
Comentários