Adega Pérola

Em outros tempos a Rua Siqueira Campos, aqui em Copacabana, era mais conhecida porque nela funcionava o lendário Teatro Opinião, em um shopping que existe até hoje. O célebre show homônimo, com Zé Ketti, João do Vale e Nara Leão, tornou-se a primeira manifestação pública contra a ditadura militar (Carcará, pega mata e come).
Hoje, famosa mesmo é a vizinha Ladeira dos Tabajaras, que logo depois do Natal foi ocupada pela Polícia Militar. É a sexta favela ocupada por uma Unidade de Polícia Pacificadora. É, os tempos mudaram. E muito.
Na forquilha da Siqueira Campos com a Tabajaras, de frente para o shopping, fica a Adega Pérola, no número 138-A. Desde os tempos do Opinião ela já estava ali. Por isso mesmo tornou-se ponto de encontro e artistas e testemunha da história.
Se isso tudo não fosse pouco, a Adega Pérola é o único boteco do Rio de Janeiro mais parecido com um bar de tapas. No balcão envidraçado ficam expostos mais de cinquenta espécies de petiscos. No final do balcão está a torneira do chopp, que não é o forte da casa, mas não faz feio. Nas prateleiras, vinhos e bebidas fortes. Espalhados por todo o ambiente, cartazes de cartolina colorida com os nomes dos petiscos e os preços. E reproduções de reportagens sobre a casa. Até poucos meses - estive aqui na Semana Santa - seu Antônio ainda dava expediente na Adega. Ele desfalcou o time da casa em outubro. Eu pensava que ele era eterno. Não deu, pelo menos nesta encarnação.
Mas os petiscos da Adega Pérola, agora que a Tabajara vai perder a fama - Kyrie, eleison! - vão se tornar mais famosos ainda, pelo menos no que depender de opiniões como a do chef Checho Gonzales (ex-Zazá Bistrô) e da minha, que não conta muito, mas ajuda. Afinal, mais que um cliente, eu sou um peregrino da Adega Pérola.
Meu petisco preferido é o escandinavo roll mops, arenque cru marinado em vinagre, enrolado e preso com palitos, coberto com tiras finas de cebola, partner mais que perfeito para o chopp, claro ou escuro. Como o arenque ficou caro, foi substituído pela nossa sardinha, que não decepciona, mas não é a mesma coisa, claro. Minha segunda escolha é a morcela, um tributo que pago sempre a minha ascendência ibérica.
Outro petiscos imperdíveis: xerelete no escabeche, sardinha no escabeche, truta no escabeche, polvo no vinagrete e sardinha frita. Esticando um pouco o tamanho da porção, vira almoço. Ou jantar. Foi o que fizemos eu e Araceli sábado passado, depois de bater perna a manhã inteira pela praia e pelas ruas do bairro, procurando uma maçaneta colonial - encontramos exatamente na Siqueira Campos (em Copacabana tem de tudo) - e fazendo as últimas compras do final de ano.
Para quem precisa montar uma ceia para o Reveillon, recomendo encomendar os bolhinhos de bacalhau da Adega, um dos melhores do bairro, e outros petiscos bem votados para tais ocasiões.
Como o repertório da Adega não pode ser esgotado em poucas investidas, voltei hoje lá, para conferir o roll mops de sardinha. Estava perfeito.
Na próxima vou de camarão grelhado, outro clássico da casa, que não fica exposto no balcão.

Comentários

OCTAVIO PESSOA disse…
É isso aí, Alencar, você me falou ao vivo e a cores, em nossa estada conjunta aqui no Rio e em Paraty, onde passamos o Ano Novo, sobre os sabores da Adega Pérola. Celeste e eu vamos conferir, nesses dias que ainda ficaremos aqui no Rio. Nosso abraço em você e na Aracely.
Octavio
JOSE MARIA disse…
Meu caro Octavio.

Nos petiscos da Adega Pérola tem também morcela...
Anônimo disse…
Caro Alencar ,
Como diria minha Dona patroa , vc é do babado!!!! , rsrsrs
mencionaste dois dos meus favoritos no Rio e falando nisso domingo almoçei na Adega Portugalia no largo do Machado , perto do Majórica e constatei que a tradição está mantida : comida boa , farta e deliciosa e o banheiro ; o dos homens pelo menos : imundo . Seu Manoel não muda.
Abs e batendo por Sampa entra em contacto pois poderemos nos presentar com boas dicas e bons momentos , certamente.
tadeu@francargo.com.br
Tadeu
Abs
Tadeu
JOSE MARIA disse…
Meu caro Tadeu.

Muito obrigado pela leitura e comentário.
Desejo felicidades para você e sua família, neste ano de 2010 e sempre.
Antes de decidir pela Majórica dei um bordejo na Portugália, que estava lotada no dia de Natal.
Araceli preferiu voltar a Majórica, o que para nós já é peregrinação, sem risco de pecado e com certeza de indulgência plenária pelo pecado da gula, sempre venial, pois moderamos nas porções.
Majórica para nós é templo.
Vou aceitar com muito gosto sua proposta para Sampa.

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