Pará e Amazonas (2)

O orçamento geral do Estado do Pará para este ano de 2009, que está terminando, é de exatos R$10.859.396.377,00. O do Amazonas é, para este mesmo ano, R$8.016.719.000,00.
Considerando as respectivas populações (7,4 milhões de habitantes para o Pará e 3,4 milhões de habitantes para o Amazonas), tem-se que a receita pública do Pará é R$1.461,36 por habitante/ano , enquanto a do Amazonas é R$2.399,43 por habitante/ano.
O Produto Interno Bruto - PIB per capita do Amazonas é R$13.043,00 e o do Pará é R$7.007,00.
Os números são eloquentes.
Comparado com o do Pará, o governo do Amazonas dispõe de 64% a mais de recursos públicos para gastar com cada um de seus 3,3 milhões de habitantes. Não é de espantar que as escolas de Tabatinga estejam bem pintadas, tenham jardins bem cuidados, os seus alunos usem uniformes com as marcas de um programa estadual (aliás, a SEDUC do Amazonas é de educação e qualidade do ensino) e os barcos para transporte escolar sejam encontrados com muita frequência ao longo do rio Solimões. Os recursos são bastante e suficientes para cuidar bem de Manaus - a cidade está construindo seu décimo elevado, enquanto Belém tem apenas um e meio e mais aquela coisa ali no Entroncamento - e o cobertor não fica curto para atender também a metade da população do Estado que vive nos demais Municípios.
O PIB per capita do Amazonas é 86% maior que o do Pará, o que não é pouca coisa. E os resultados disso não podem ser negligenciados, embora isso não signifique que o Amazonas é um mar de rosa. Mas significa que o Pará está bem mais empobrecido que o Amazonas.
Não espanta, assim, a desenvoltura do governo do Amazonas em certos temas, inclusive os relacionados ao desenvolvimento sustentável. Vis-à-vis, enquanto o Amazonas tem a seu dispor um elenco de soluções para seus problemas, o Pará tem um elenco de problemas a desafiar soluções, cada vez mais impossíveis enquanto se mantiver essas relações adversas (baixa receita pública per capita e baixo PIB per capita).
Para agravar essas comparações adversas ao Pará, este tem ainda a seu desfavor um modelo neoextrativista centrado em minérios destinados ao mercado externo, que gera escassos efeitos econômicos internos - e abundantes efeitos social e ambientalmente adversos - enquanto no Amazonas nem mesmo a extração de madeira produz os mesmos efeitos adversos e o gás de Urucú é em boa parte destinado ao mercado interno e isso gera efeitos econômicos positivos.
Também por isso não espanta que sucessivos governos paraenses não consigam encontrar soluções para os graves problemas do Pará e que estes dados aqui mostrados sejam cuidadosamente evitados por todos os candidados, nas épocas eleitorais, e pelos governantes, depois delas.
O resultado disso tudo é que os paraenses nos tornamos prisioneiros da nostalgia e da esperança, renovadas a cada dois anos nas eleições gerais e municipais, quando o marketing eleitoral nos oferece soluções. Mágicas, pois não enfrentam o problema do raquitismo da receita pública e da pobreza do PIB per capita. Não por acaso temos um marketing político muito bem sucedido e premiado. E o orçamento apenas da Secretaria de Comunicação Social do Governo do Estado (62,7 milhões de reais) representa quase 0,6% da despesa pública total (a Constituição do Estado limita esses gastos ao máximo de 1% da respectiva dotação orçamentária de cada Poder).
Ao que parecem indicar esses números, romper com a nostalgia e com a esperança - e com a apatia - é o primeiro passo a dar se quisermos mesmo começar a resolver os problemas nossos, sem precisar esticar olhos compridos para o vizinho Amazonas, com ele aprendendo a transformar problemas em soluções.

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