Pará e Amazonas

Quem tiver passado por Manaus nos últimos quinze anos, em momentos diversos, acompanhou a notável melhoria da capital amazonense. Eu, por motivos variados - profissionais e de lazer - tenho vivido essa experiência. E a cada volta noto essa melhoria.
Como no mesmo período, apesar dos esforços, Belém não conseguiu a mesma façanha, penso ter utilidade fazer algumas comparações e reflexões.
Manaus tinha conseguido resolver o problema do comércio de rua, que desgraça Belém, tornando-a uma cidade, para ser complacente, com um centro (downtown, como dizem os guias de viagem) medíocre. Em Manaus o problema está voltando, nas imediações do porto principalmente, que está mais ou menos como a calçada em frente ao Seminário Teológico Batista Equatorial daqui de Belém (para quem não consegue mais ler o letreiro ou dele não se lembra, fica ao lado do Shopping Castanheira, na saída - ou entrada - da cidade que já foi a Metrópole da Amazônia, embora o saudoso Juvêncio Arruda, no seu vivíssimo Quinta Emenda, registre outro apodo, Merdópolis). Nesse quesito as duas estão empatadas ou empatando. Pior para as duas.
Alguns anos atrás, quando Manaus começou a concentrar a população do Amazonas, teve quem fizesse cara de horror. Atualmente, Manaus concentra cerca de 51% da população do Amazonas e Belém tem apenas algo como 19% da população do Pará. Desse simples dado puramente demográfico resulta uma consequência política importante, pois o eleitorado varia na ordem direta da população (os eleitores correspondem mais ou menos a metade da população total). Vai daí que Manaus tem um peso político relativo - em termos eleitorais pelo menos - 2,7 vezes maior que o de Belém, e isso faz uma grande diferença. Assim, o que parecia um problema - a concentração da população do Amazonas em Manaus - tornou-se uma solução. E que solução. Concentrando a população em Manaus, graças ao sucesso do Polo Industrial - o único que vingou da Zona Franca de Manaus, pois o Polo Agropecuário e a Zona Franca propriamente são quase virtuais - a pressão sobre o bioma amazônico no Amazonas é mínima, comparado com o que acontece no Pará. Dir-se-á que é uma solução artificial e dependente exclusivamente do Polo Industrial, o que é verdade. Quando o Polo Industrial gripa - como agora, na crise - Manaus tem pneumonia. Por isso o empenho sincero e quase desesperado de todos em favor da manutenção da Zona Franca e a aposta na Copa do Mundo, da qual resultaria, acredita-se, um impulso definitivo para o turismo - que está alguns furos acima do Pará - o que seria uma alternativa para a dependência excessiva do Polo Industrial. Manaus pretende seguir os passos de Barcelona e fazer o seu próprio revival, como nos bons e áureos tempos da borracha, a bonanza cauchera que deixou suas marcas em Iquitos, Manaus e Belém.
Com poder político, Manaus é, efetivamente, uma capital, de população já maior que Belém (1,7 milhão daquela contra 1,5 desta). Capital deriva de caput, capitis (terceira declinação). Caput quer dizer a extremidade superior ou mais importante de alguma coisa. Assim, capital é uma cidade superior ou mais importante dentre outras, com capacidade de liderar, dirigir, conduzir, apontar rumos, pensar. Manaus tem essa capacidade. Belém tinha, mas está perdendo, tornando-se uma cidade sem cabeça, descabeçada, desmiolada mesmo, e os exemplos disso são cotidianos, estão à vista de qualquer um que tenha olhos para ver e não se dê à demagogia ou ao populismo. Não espanta, pois, que sua liderança seja contestada a Sul e a Oeste do Estado, não sem razão. Manaus é hegemônica e sua liderença não sofre contestações ou impugnações. Por isso mesmo enquanto o Pará enfrenta dois movimentos secessionistas no Amazonas isso simplesmente não é tema que ocupe ou preocupe ninguém.
Outra comparação útil diz respeito às finanças públicas dos dois estados.
Mas é tema para outro post.

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