Notícias do Caminho - de O Cebreiro a Sarria

11 de maio de 2010, terça-feira. Saio mais cedo ainda, pronto para a chuva fina. Uso lanterna para encontrar o Caminho. As brumas tornam a visibilidade escassa. Liñares é uma fantasmagoria borrada que se torna um casario vista de perto. Hospital era o lugar onde pensamos em passar a noite. Por volta das sete e meia estamos no Alto de San Roque, com seu maciço monumento em homenagem aos peregrinos borrado no meio das brumas. Subo com força e esforço o Alto do Poio, com chuva fina e um confortável frio de uns onze graus. Oito horas estou no albergue As Reboleiras, em Fonfría, que nos abrigou em 2007. A mesma senhora me atende e serve chocolate com torta de Santiago. Sou muito grato também a este lugar que nos acolheu em uma tarde chuvosa como esta manha.
Inicio a descida para Triacastela, passando por Viduedo. Pouco antes do meio-dia já estou em Triacastela. Avalio o desempenho e as forças. Concluimos que dá para ir mesmo até Sarria. Principalmente depois de uma raçao de calamares e um suco de laranja, que dividimos com os italianos e a catala Isabel (hoje eles vao pernoitar en Pintin, antes de Sarria).
A paisagem é belíssima e a medida em que vamos baixando as brumas vao ficando para trás e para o alto. As cores das montanhas mudam conforme o sol aparece ou deixa de aparecer. Pouco apareceu. Vilarejos aparecem ao longe. E a Galícia rural, com cheiro de esterco e rumen, vai penetrando nossas narinas e nossas vistas. O Caminho agora é por corredoiras, por onde só passam peregrinos, vacas e vaqueiros. Chegamos aos lugares pelas suas intimidades, pelas suas hortas e estábulos. Esta encantadora Galícia rural nao é vendida como produto turístico e só peregrinos e trilheiros sabem dela. Esta é uma ótima razao para voltar ao Caminho. Cada passo vai deixando saudade imediata e voltade de voltar, sempre. Acho que, de minha parte, tel algo de ancestral. Acho que caminho pelos meus antepassados que saíram daqui um dia para ir colonizar Bragança. Parece que tenho uma ligaçao telúrica com o Caminho, com a Estrada de Ferro de Bragança e com o Caminho Inca. Por razoes distintas, mas sinto que tenho.
E assim vou passando por San Xil - nao vou por Samos - Alto do Riocabo, Furela e logo Calvor. Como tivemos forças para chegar até aqui, vamos adiante.
E logo entramos em Sarria, com saúde e força bastante para ir até mais adiante.
Mas nosso destino é aqui mesmo. Meu amigo fica com a última vaga no albergue da Xunta e eu vou para o Internacional. Quatro e meia da tarde estamos acomodados e pronto para atualizar o correio eletrônico e este blog.
O que faço no mesmo cybercafé de três anos atrás.
Agora vou atrás de um bom lugar para comer e descansar, pois amanha queremos chegar até Gonzar, como fizemos eu e Araceli em 2007.
Vamos conseguir.

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