Notícias do Caminho - de Ponferrada a Pereje

9 de maio de 2010, domingo. Sei que é Dia das Mães e vou caminhar por elas: a minha, a da Araceli, a das nossas netas, e Josefina, que é minha mãe também. Mas vou caminhar por todas.
Deixo cedinho o excelente albergue de Ponferrada pronto para o frio e a chuva fina. Passo pelo castelo dos Templários, todo restaurado, que neste amanhecer parece ter saído diretamente de um conto medieval. A labiríntica saída me faz ziguezaguear por ruelas com suas luzes todas acesas e bairros modernos de classe média. Há até uma incrível passagem por dentro de um prédio. Columbrianos é conurbada com Ponferrada, mal dá para notar que saí dela. E já são oito da manhã. Um pouco mais adiante passo por Fuentes Nuevas, onde paro para tomar o café da manhã. Rapidinho passo por Camponaraya e me encaminho para Cacabelos. As nuvens cobrem o vale e assim consigo finalmente perceber o Bierzo em toda dua extensão.
Cacabelos é a sede do Conselho Regulador da Denominação de Origem Controlada Bierzo. Uma bela e moderna sede. A aposta é, como registrei três anos atrás, no botillo, no vinho, na maçã e na pera. Eu também faço a mesma aposta. Mas gostaria mesmo que os produtores do Pará apostassem em coisas assim. Nossos produtos com Indicação Geográfica Protegida, Denominação de Origem Controlada (D.O.C.) ou pelo menos qualificada. Quem quiser saber como basta vir dar uma voltinha aqui em Cacabelos.
Sigo para Villafranca del Bierzo, onde chego depois do meio-dia. Vou direto para o albergue Ave Fenix, de Jesus Jato, o bruxo boa praça que cuidou de Araceli em 2007. Quero agradecer pessoalmente. Não deu. Ele saíra para levar as mochilas ao Cebreiro e eu tive que iniciar a subida até Pereje, onde vou pernoitar. Chego depois das duas da tarde e me instalo, juntamente com outros peregrinos. O albergue é ótimo e é da Junta Vecinal de Pereje. O hospitalero chega depois. É o mais rabugento dos hospitaleros do Caminho. Jovem ainda, mas conta horrores que aconteceram neste albergue. A Internet não mais existe porque turistas disfarçados de peregrinos destruiram cinco computadores. A TV idem. Um dia ele chegou e tinham colocado o aparelho na rua para assistirem alguma coisa. O vidro da lareira foi quebrado. E ontem mesmo furtaram dois lençóis. Um horror, segundo ele. É a tal picaresca do Caminho. Ele deitou falação tarde e noite adentro, para qualquer um que se dispusesse a alugar-lhe os ouvidos. Os temas eram variados, de filosofia a política. Uma figura. Mas a verdade é que mesmo assim é um excelente albergue, muito bem instalado.
E nele passei uma boa noite. Noite do Dia das Mães.

Comentários

Postagens mais visitadas