Notícias do Caminho - de Villadangos del Páramo a Astorga

6 de maio de 2010, quinta-feira. Cedo nos preparamos e sete horas já enfrentávamos o frio. Felizmente, sem vento.
Logo passamos por uma montanha de algo que pareciam pedras mas eram beterrabas (para fazer açucar).
O céu está limpo e faz uma bela alvorada.
San Martin del Camino continua do mesmo jeito, com seu albergue à sombra de um disco voador que parece uma caixa-dágua ou vice versa. Em 2007 eu e Araceli entramos aqui no final da tarde e nao gostamos, preferindo caminhar até a próxima cidade, a fantástica Puente y Hospital de Órbigo, famosa porque o cavaleiro Don Suero de Quiñones desafiou durante dias todos os outros cavaleiros que passarem por aqui, daí o nome de Paso Honroso. Até hoje, no segundo final de semana de junho, é repetido aqui um torneio medieval (o dono do restaurante me diz que é seguro). A ponte está sendo restaurada e o operário se oferece para fazer uma foto minha. Reencontro Raul, sua cadela e sua patota. Dividimos o lanche e sigo adiante, passando bem em frente ao belo albergue em que fiquei com Araceli em 2007 quando os hospitaleros - um portugues e um espanhol - dele saiam. Cumprimento-os como se fossem velhos amigos a retribuiçao é calorosa tambem. Nos indicam a saída da direita, pelo campo, que aumenta um quilômetro mas nos livra do barulho da rodovia. Era exatamente esse nosso plano.
Agora a paisagem é outra, o vento diminuiu e o sol produziu ótimos efeitos sobre minhas dores. Com frio sofro dores reflexas dos meus bicos-de-papagaio. Até Villares de Órbigo e Santibañez de Valdeiglesias vou bem, entre pomares, trigais, plantaçoes de feno e estábulos. Em um deles dois bezerrinhos levavam vida mansa em uma casinha coberta só para eles. Em Santibañez um ônibus belga sugere que temos peregrinos diferentes mais adiante. Dito e feito.
Em uma curva dá para ver que ainda tem muita neve no cume das montanhas em nossa frente, mas nao no nosso caminho. Depois do meio dia passamos por um desses lugares que começam do nada, oferecendo frutas e bebidas a troco de donativo e logo se tornam referência. Este promete ser o mesmo. Até livro de visitas no charanguito já tem. Astorga já se vê ao longe, mas ainda vamos dar um bom volteio para chegar lá. Como já caminhamos mais de 20 km sem alongar, na área de descanso de San Justo de la Vega fazemos isso e iniciamos uma penosa descida encosta abaixo, por uma calçada muito bem feita. Mas o cansaço é maior que nos demais dias. A alimentaçao deficiente já faz seus efeitos.
Encontramos mais um cao peregrino, o spaniel Coco. Começou em León.
Mais torres, mais cegonhas.
E mais uma bela ponte.
Na rótula na entrada da cidade - depois de vencer uma aborrecida travessia que inclui uma nova passarela sobre a ferrovia - cuida-se de deixar claro que esta é a mais romana das cidades do Caminho, a Astvrica Avgvsta, escrita assim mesmo. Depois de uma penosa subida chegamos ao belo albergue público Siervas de Maria.
O hospitalero, enquanto atende um peregrino, me reconhece e me chama pelo nome. Fico impressionado, pois nao me lembro dele. Ele faz mistério e diz que é dado a bruxarias. Eu digo que nao acredito em bruxos, mas que los hay, hay. Ele simplesmente é Alfredo Manuel, nascido em Viseu, Portugal, vivendo há trinta anos na Espanha e agora é hospitalero voluntário aqui até cansar. Ele simplesmente é um dos membros da lista da Associaçao dos Amigos do Caminho de Santiago e vem seguindo este blog há dias, e por esses milagres do Caminho me reconheceu sem que eu desse uma só palavra. Impressionante.
Já fiquei melhor só com essa acolhida. Daí em diante o atendimento foi acelerado, recolhendo as credenciais e nos destinando camas. Me fez recomendaçoes sobre saúde, que segui a risca. Fui atrás de comidas leves, com algum carboidrato. Encontreio no Bar Cubasol.
O passeio por Astorga é simplesmente o melhor tônico para um peregrino cansado e já sem forças. É uma cidade com 2024 anos que parece mágica, como mágico é o Palácio Gaudí, filho ilustre. Aqui é a capital da maragateria, mas ainda nao vai ser desta vez que vou encarar o cocido maragato. Voltarei outras vezes ao Caminho e o cocido pode esperar.
Agora vou sair para passear e jantar, pois já garantimos o desjejum.
Já estou melhor e amanha espero estar melhor ainda para chegar quando nada seja a Rabanal del Camino.

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