Noticias do Caminho - de Bercianos del Real Camino a Mansilla de Las Mulas

4 de maio de 2010, terca-feira. Acordo melhor, mas nao curado. Consigo comer uma maca que me deu minha amiga e tomar um cha de frutas do bosque reanimador. Mas parto mais tarde que nos outros dias, para enfrentar frio e vento, que promete. Ha previsao de nevada para um pouco mais ao Norte. Sinto que tenho forcas para caminhar, mas o Caminho nao tem o mesmo gosto, o mesmo sabor. Antes das dez da manha estou em El Burgo Ranero, onde deveria ter pernoitado. No bar me reidrato com Aquarius, essa milagrosa bebida isotonica que a Coca-Cola inventou para uma das Olimpiadas e voltou ate o posto de gasolina para recarregar o celular Movistar.
Estou melhor o bastante para resolver encarar treze quilometros ate Reliegos, com vento forte e frio vindo do Norte, o que obriga a um esforco adicional e as vezes nos tira da trilha. A planura leonesa esta tomada de trigais e imensos campos de cevada, a perder de vista. Meu rendimento fisico nao foi muito afetado, mas o gosto sim. Como nao consigo caminhar no meu proprio ritmo, parece que nao produzo endorfinas em quantidades suficientes para gerar aquela sensacao de bem-estar e alegria. A sensibilidade e alterada. Depois do meio/dia passo pelo acesso a Villarmarcos e assim fico sabendo que ja fiz metade do percurso. Animador. Pouco depois de uma da tarde chego a Reliegos e para no bar La Torre, uma especie de Bodeguita del Medio do Caminho, coberta de grafitis por fora e por dentro. Nao poderia ter acontecido coisa melhor. Alongo enquanto o vento derruba cadeiras, mesas e guardassois. Uma simpaticissima figura tenta repor as coisas no lugar e atender os clientes. Em todas as linguas e com largos gestos. Quando nao consegue se fazer entender, vai mostrando as comidas ate compreender e ser compreendido. A musica que toca e cubana, Buena Vista Social Club. Nosso bem humorado personagem e Eusiginio - que nome - que vai preparando as tortillas ao gosto de cada fregues. Por conta dessa imensa habilidade em fazer comidas e encantar pessoas mereceu uma foto na ultima edicao do guia de Paco Nadal. Merecida. Seu contagiante bom-humor produz efeitos curativos sobre mim, ao que parece, pois agora assim descansado e animado resolvo encarar a ultima etapa que pretendo fazer hoje, ate Mansilla de Las Mulas.
Na saida sou alcancado por outro telefonema de minha amiga, que so agora chegou a El Burgo Ranero e sangra pelo nariz. Combinamos que ela vai de taxi para Leon e descansa ai o resto do dia, para nos reencontrarmos no dia seguinte. Agora estamos os tres peregrinos de Belem separados pelo vento, pelo frio e pelos limites pessoais de cada um de nos. No Caminho, querer nao e poder.
Enfrento bem os seis quilometros de andadero a margem da rodovia ate Mansilla de Las Mulas, onde pernoitarei tambem por razoes sentimentais. Foi no albergue municipal que Araceli foi muito bem cuidado por Laura - tem um post de abril de 2010 sobre esse tema - que continua aqui, cuidando do albergue dos peregrinos com energia, dedicacao e bom-humor. Chego no albergue depois das tres da tarde e Laura nao esta. Volta as cinco da tarde. Me instala, conforme as regras da casa e saio para comprar uma sopa de calabaza pronta - no saco promete um terco das necessidades diarias da dieta mediterranea - que e tudo que preciso para jantar e frutas para o cafe da manha. Quando Laura chega e sua companheira carimbo a credencial e pago o donativo. Vou para Internet o tempo suficiente para atualilzar os correios eletronicos e sofrer o assedio de um peregrino italiano que monopolizou a maquina com um falatorio interminavel ate a hora de dormir. Paciencia, atualizo o blog depois. Desculpe, Vera Paoloni. Desculpem, amigas e amigos que acompanham estas noticias.
Amanha estarei melhor e comecarei a caminhada mais cedo.

Comentários

Anônimo disse…
Alencar, maninho,

não precisa se desculpar. Imaginei que ou era o cansaço ou algum perrengue natural da vida. Senti falta. Eu e , com certeza, outros leitores teus.

Já vi que a postagem voltou à normalidade.

Fica na luz e uma boa caminhada.
Abraço,
Vera Paoloni

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