Notícias de Cuzco (2)

A caminho de Cuzco ontem, para abrir o apetite, visitei Pukara (3.810 m sobre o nível do mar), La Raya (4.335 m sobre o nível do mar, marca o fim do altiplano e o início do vale do Vilcanota/Urubamba, afluente do Rio Amazonas), Raqchi (3.475 m sobre o nível do mar, com seu impressionante templo de Vilcanota) e Andahualillas (onde a Igreja de Sao Pedro está sendo meticulosamente restaurada). No final da tarde cheguei a Cuzco.
Cuzco mudou muito nos últimos vinte anos. Para melhor. Muito melhor.
Vinte anos atrás cheguei aqui por via aérea, no dia de um paro armado determinado pelo Sendero Luminoso. No caminho para o hotel o motorista teve que fazer uma imensa volta para se livrar das áreas mais conflagradas. Aqui o Sendero Luminoso nao deixou saudades, pelo que me dizem as pessoas com quem falei ontem e hoje. Dizem que o terrorismo afugentava os turistas.
Cuzco tornou-se cosmopolita, uma esquina do mundo, como Veneza, Paris, Rio de Janeiro, Cartagena, San Miguel de Allende e La Habana, respeitadas as devidas proporçoes, claro).
O turismo fez bem à cidade. Hotéis excelentes e uma boa oferta de hostais e albergues classudos atendem do turista endinheirado ao mochileiro. Todas as melhores grifes, preferidas dos trilheiros, ciclistas e andinistas, estao aqui. Trilheiro de primeira viagem, fui surpreendido com marcas desconhecidas no Brasil (Marmot, Mamut e outros bichos), todas excelentes.
Lugares onde antes ficavam simpáticas espeluncas agora sao charmosos e bem cuidados restaurantes. Ao lado da excelente gastronomia autóctone, surgiu uma cozinha neoandina que faz bonito (e gostoso). E a cozinha internacional nao faz feio também (italiana, francesa, indiana, tailandesa, coreana, mexicana e por aí afora). Todos os lugares visitados pelos turistas passaram por restauraçoes e a infraestrutura melhorou muito, mas muito mesmo. Em Sacsayhuaman tem ate serviço médico para os visitantes. Os guias agora sao profissionais com nivel superior que gostam do que fazem. O curso de turismo forma profissionais para toda a indçustria hoteleira, do guia ao gerente de hotel.
Cuzco é dessas cidades que vale a pena se perder só para descobrir aqueles cantos escondidos que nao estao nos guias e depois se reencontrar. É uma cidade para flanar que com certeza faria a delícia de nossos flaneuses do Flanar.
O boleto turístico que dá acesso a todas as principais atraçoes controladas pelo estado financia a manutençao e a restauraçao delas. É um preço bem pago. Nas igrejas o papo é outro, e o dinheiro dos ingressos vai todo para a Santa Madre que, a bem da verdade, está cuidando do patrimonio. Minha guia, Gabriela, com cuidado para ver onde pisava, soltou a língua para dizer que abandonou o catolicismo e passou a praticar a religiao andina, que já tem bastante adeptos. Disse também que o arcebispo de Cuzco é ligado a Opus Dei. Pelas contas dela o Arcebispado de Cuzco arrecada 4 milhoes de dolares por ano com os ingressos da Catedral, que também está bem cuidada, justiça se lhe faça.
Depois de visitar a Igreja de Santo Domingo, construída sobre o Qoricancha, o imponente templo inca, visitei a Catedral e os sítios de Sacsayhuaman, Tambomachay, Puka Pukara e Qenko, o aperitivo de todos que passam por aqui a caminho do Vale Sagrado e de Machu Picchu.
Se Belém quiser se tornar mesmo um destino turístico, vai ter que aprender umas liçoes com Cuzco.

Comentários

Estou planejando para Julho ir a Machu Pichu.
Por favor, anote alguma sugestão de hostel de bom conforto, ou mesmo hotelzinho barato. Quarto de casal e banheiro privativo, é só o que desejamos.

Abs
Ataualpha e Oasca ainda vivem nessa gente.
Andalhe, hombre!


p.s. May you can rest in California, next time.Why not?
JOSE MARIA disse…
Meu caro Romolo.

Obrigado pela leitura e pelo comentário.
Os povos tradicionais dos Andes peruanos sao peruanos por uma criaçao arbitrária do colonizador, que se manteve até agora. Mas eles sao mesmo quechuas, aimaras e uros. De corpo e alma.
E o bom da coisa é que o turismo massivo reforçou a andinidade desses povos, com os quais temos muito que aprender.
A Espanha e os espanhóis devem um pedido de desculpas aos povos andinos e até mesmo uma baita indenizaçao, por todas as desgraças que eles impuseram desde a chegada de Pizarro aqui.

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