Notícias de Cuzco
Saí ao amanhecer de ontem de Puno para visitar as ruínas de Sillustani, basicamente chulpas, torres sepulcrais circulares construídas pelos collas para sepultar seus nobres. Os collas eram muito habilidosos para lavrar as pedras, que transportavam sobre toras desde uma pedreira perto, na margem do Lago Titicaca. O sítio arqueológico fica entre a laguna Umayo e o Titicaca. A laguna é ponto de encontro de aves migratórias e residentes. Ontem dava para avistar flamingos e patos andinos. O lago estava mais uma vez lindísssimo, o azul tranquilo infundindo calma e uma sensaçao de paz (fui o primeiro visitante do dia, mas logo chegaram estudantes que nesta época do ano inundam os museus e sítios arqueológicos, uma boa prática que merece ser copiada pelas escolas do Pará e de Belém em particular). Em frente ao sítio existe uma ilha que é uma reserva de vicunhas, o animal símbolo nacional, protegido pelo Estado, que tem o monopólio da extraçao e comercializacao da la, que é muito cara e rara.
Passei em seguida na casa de um quechua (Conceiçao é o nome dele) que graças ao turismo melhorou seus ingressos, embora continue praticando a agricultura. Ele me apresentou seus filhinhos e sua esposa, que mostrou-me suas comidas (batatas, cereais, queijo andino e... argila salgada). Experimentei todos, inclusive batata com argila salgada. Gostei. Por enquanto nao senti nada de errado com essa dieta esquisita (no sentido português do termo). Mostrou-me sua criaçao de cuys - preás ou porquinhos da Índia - que aqui nesta regiao fica fora da casa, em umas casinhas de adobe de dois andares. Mostrou-me também seus fornos, suas ferramentas agrícolas - um ferro de cova e um enxadao - e como lavra a terra com elas.
De volta à rodovia tomei o ônibus turístico rumo a Cuzco. Os ônibus turísticos já nao sao mais majoritariamente brasileiros, como vinte anos atrás. Agora o mercado peruano é dominado por uma empresa espanhola, a Irizar, que é controlada por uma megacooperativa basca, a Mondragon, segundo me informa Jon, o basco que reencontrei no ônibus. A propósito, a televisao noticiou hoje que o caos do transporte público de Lima chegou a um ponto tal que vai ser enfrentado pelo Ministério de Transporte. O ministro entrou ao vivo para explicar como vai funcionar um consórcio formado por mais de uma centena de pequenas empresas de transporte, em regime de concessao. Esse consórcio vai receber financiamento bancário para renovar a frota e já começa com um sistema novo, pré-pago, com base em um cartao magnético que vai dispensar cobrador. Essa mudança coincide com uma manifestaçao de perueiros aí em Belém. Antes de ceder a pressao dos perueiros, é bom que as autoridades municipais de Belém se informem do que aconteceu aqui sob o neoliberalismo tosco de Fujimori que, aplicando tais preceitos no transporte público de Lima, simplesmente destroçou o sistema até entao existente, que agora vai ser retomado, com concessoes de dez anos.
Outra liçao para aprender com peruanos é como destruir um sistema de transporte público de passageiros universalizando a peruagem.
E também como obrigar mototaxista a usar triciclos cobertos para duas pessoas e com um lugar para pequenas cargas na trazeira.
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