Adiós, Manoelzinho
Alguns anos atrás participamos de um congresso de solidariedade em La Habana. Mais que companheiros e amigos daquele e por aquele momento, nos tornamos companheiros e amigos para sempre. Qualquer que tenha sido o rumo das nossas vidas privadas, profissionais e políticas, aquela viagem nos uniu para sempre.
Eu e Araceli resolvemos juntar nossas vidas para sempre mesmo, até que a morte nos una mais ainda.
Itajaí, Stefani, Marcos, Suely, Manoelzinho, eu e Araceli, fazíamos parte da delegação paraense.
Manoelzinho era um dos mais jovens e animados.
O tempo passou e cada um tomou seu rumo, mas a fraternidade e a lembrança daquele dias continua nos unindo.
Manoelzinho perdeu pelo e ganhou peso, o que fê-lo mais jovial ainda, com um jeitão de bebê que cresceu além da conta. Talvez por isso era tratado como um filho pela Araceli e pelos companheiros de militância mais velhos que ele. A alegria de viver e o bom humor permanente tornavam fácil conviver com ele, mesmo no ambiente difícil da política partidária. Quando o PT rachou e foi fundado o PSOL, ele foi para o PSOL com a mesma dedicação visionária que sempre o animou.
Dias atrás Manoelzinho adoeceu. A suspeita era a gripe suína, pois ele teve contato com um militante que teve a gripe e já sarou. Logo estava na UTI do Porto Dias, aqui em Belém. A suspeita de gripe suína não foi confirmada por exames no Evandro Chagas. Também por ter passado pelo Xingu suspeitou-se de infeção por Hantavírus. O exame foi negativo. Os dias passavam e o sofrimento de todos era compensado pela luta de Manoelzinho, dos médicos e de todos nós pela vida dele.
Em um certo momento, uma rede de médicos foi mobilizada presencialmente e pela Internet. Itajaí, por e-mail e por telefone, desde Brasília, solidário e fraterno, ajudava seus colegas daqui de Belém, com as últimas informações sobre a gripe; colegas de São Paulo interagiam com a equipe de intensivistas. Cada um tinha uma contribuição a dar, e efetivamente dava, generosamente, solidariamente, fraternalmente. Era emocionante ver aqueles esforços frenéticos movidos por pura solidariedade e sensibilidade. Agora era a luta pela vida que nos unia.
Lembrei-me de um filme que é o preferido de um médico que é crítico de cinema, Pedro Veriano. É o Se Todos os Homens do Mundo Fossem Iguais ao Deste Filme o Mundo Seria Bem Melhor. No filme os esforços para salvar uma tripulação de um navio que adoecera por comer alimento estragado (porco, por acaso) - só um negro muçulmano não adoeceu porque não comera porco - envolvia radioamadores e aviadores ao redor do mundo todo. Hoje, se alguém resolvesse fazer um remake desse filme, os radioamarores seriam substituídos por internautas.
Hoje, por volta das duas horas da madrugada, Manoelzinho nos deixou.
Mas ele também venceu a morte e viverá sempre em todos nós, amigos e companheiros, esposa, filhos (reais) e pais e mães (por escolha in pectore). Como aconteceu com Che, a lembrança que vai ficar para sempre será a de um jovem alegre e sempre disposto a lutar por um mundo melhor, sin perder la ternura jamás.
Adiós, Manoelzinho.
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As homenagens fúnebres estão sendo prestadas na Good Pax, na Travessa Lomas Valentinas, entre Avenidas 25 de Setembro e Duque de Caxias aqui em Belém. O sepultamento será às 16 horas de hoje, sábado, 8 de agosto de 2009.
Comentários
Agora é encurtar e luto e continuar a luta.
Jefferson Alves
Compartilho a dor que cada um esta sentido neste momento delicado. Mas, Deus é maravilhoso e permite que esta união abençoada pelo nosso Grande se torne cada vez mais forte e juntos superem a dor da separação com uma pessoa tão querida pra vocês. Lutar é preciso, viver mais ainda.
A força divina lhes conduzirão!!!
Um Forte Abraço.