Sindicatos em Queda
Em pouco mais de 20 anos, os sindicatos no Brasil saíram de uma situação de protagonismo político e econômico para uma situação de quase falência. Hoje, muitas entidades sindicais lutam contra enxurradas de ações judiciais movidas por trabalhadores, que se recusam a aceitar o desconto de contribuições sindicais, o que tornou muitas entidades sindicais apêndices do Ministério do Trabalho quando o assunto é fiscalizar as relações de trabalho. A análise é de Rodrigo Servidone, diretor do Sindicato dos Trabalhadores em Transportes de Jaboticabal, em São Paulo, que em agosto estará no CONARH proferindo palestra sobre alternativas às demissões em situações de crise.
“Os sindicatos não perderam poder, perderam credibilidade. Esse cenário só vai mudar quando os sindicalistas voltarem a dar prioridade aos problemas essenciais de seus representados”, admite.
Comentários
Obviamente, estamos falando de sindicatos de empregados. Sob este prisma, você creditaria esta perda de credibilidade à eleição de um sindicalista para a Presidência da República?
Explico minha pergunta.
Com a eleição de Lula, os sindicatos e movimentos sociais passaram a ser privilegiados recebedores de benesses estatais, notadamente na forma de convênios para repasses de verbas federais. Isto teria afetado a cultura dos sindicatos que, com muito dinheiro, passaram a fazer política para manter estes benefícios?
Outra: hoje, todo sindicato quer ter seu representante parlamentar. Isto é, quer ter ingerência no processo político partidário. Isto direciona a atuação do sindicato para a política menor, de cunho pragmático, visando eleger seus candidatos, retirando assim o foco de que fala o Servidone?
Abraços.
Obrigado pelo pertinente comentário.
Na verdade o descenso do movimento sindical é um fenômeno mundial e está associado a uma mudança de paradigmas: estamos saindo de uma sociedade industrial para uma sociedade da informação na qual o trabalhador massificado está sendo substituído por outro tipo de trabalhador. O próprio trabalho está compartilhando centralidade com outras categorias de análise (meio ambiente, consumo etc).
No Brasil o descenso foi mascarado pelo ingresso dos servidores públicos que deu uma impressão de que aumentava a sindicalização aqui quando ela caía no resto do mundo.
Agora a coisa está estabilizada e a curva descendente está ficando visível.
Paradoxalmente, a chegada de um ex-operário e ex-sindicalista à Presidência agravou o problema porque atrelou o movimento sindical ao governo, definitivamente, contrariando um princípio básico, elementar, essencial, o da liberdade e autonomia dos sindicatos em relação ao Estado e ao Governo. Isso apenas acelerou o descenso.
Por último, mas não menos importante, há uma contribuição das lideranças atuais, que não percebem bem o que está acontecendo e contribuem mais ainda para a degradação, inclusive com comportamentos inaceitáveis sob todos os aspectos.
Hoje não tenho mais dúvidas que alguns sindicatos precisam ser extintos, por decisão judicial, por iniciativa do Ministério Público do Trabalho.