Indicação Geográfica Protegida

Na União Européia existem produtos com Indicação Geográfica Protegida -  IGP.
Normalmente são produtos gastronômicos que recebem um selo IGP pelo fato de serem produzidos em uma dada região geográfica  segundo normas padronizadas originárias da tradição local, com  a qualidade que os tornou conhecidos (e reconhecidos). É um degrau abaixo da Denominação de Origem Controlada - DOC (a Appelation d´Origine Contrôlée - AOC dos franceses)  que já distingue muitos produtos gastronômicos europeus (de vinhos a pizzas).
Isso garante qualidade para quem consome e valor agregado para quem vende.  Em termos puramente econômicos, agrega-se valor ao produto pelo simples fato de adicionar-lhe uma idéia (cultura e qualidade).
Em Santiago de Compostela, depois de caminhar 800 quilômetros, provamos - eu e Araceli -  a deliciosa  Tarta de Santiago. A receita é centenária: 33% de amêndoas de variedades mediterrâneas, 33% de açúcar, 25% de ovo e, em quantidades determinadas segundo a arte culinária regional, raspa de limão, vinho doce, brandy, aguardente e açúcar glaceado. Quando a torta for forrada, o forro deve ter no máximo 25% e poderá levar farinha de trigo, manteiga, açúcar, ovo, leite, água e sal. Desde 1924 a ela foi incorporada uma Cruz de Santiago em açúcar, por artes de José Mora Soto, o fundador da Casa Mora, no que foi seguido por todos que fazem a afamada sobremesa.
Todo esse nariz de cera aí é para dizer que os galegos esperam que até o verão deste ano a União Européia outorgue o selo IGP à Tarta de Santiago (essas coisas são resolvidas em Bruxelas). Quando isso acontecer só a Tarta de Santiago feita nessa região geográfica da Espanha poderá ostentar esse nome. E quem comprar uma delas estará comprando um produto garantido. 
Não sei porque, mas esses produtos gastronômicos tem mais gosto quando os comemos no local de origem. Por mais que se esforcem em fazer igual fora da região de origem, não é a mesma coisa. Nosso açaí fora daqui não é tão bom quanto aqui. Aliás, é até outra coisa.
Há tempos venho dizendo que já está passando da hora de fazer isso - IGP -  com nossos produtos gastronômicos, a começar pelo açaí, mas passando logo em seguida pelo tacacá, pelo pato no tucupi, pela maniçoba, pelos sorvetes de nossas frutas regionais (bacuri, cupuaçu, açaí, buriti, murici, da Cairu, por supuesto), pelo chocolate (cupulate, se for de cupuaçu) e por aí afora.
Até chegar no açaí DOC (ou AOC, quando exportado para a França).
Como os vinhos Bordeaux, Beaujolais, Champagne e Porto.
Felizmente temos pessoas cuidando disso no serviço público (já dei essa boa notícia aqui mesmo). Mas falta ânimo da iniciativa privada.
Na Europa quem empurra esse assunto para a frente são os produtores, para proteger seus produtos e, claro, ganhar dinheiro. E, para não variar, reclamam dos burocratas de Bruxelas.
Aqui parece que nossos produtores não  sabem ganhar dinheiro com idéias, agregando esse valor intangível aos produtos.
Depois reclamamos quando os japoneses pulam na frente e registram nossas denominações tradicionais.
Morrerei de vergonha se um dia levarem semente de açaí para plantar na Ásia e depois venderem como mais uma commodity   para o resto do mundo. E com a marca Assaih, para ficar mais globalizada.
Tem precedente.

Comentários

Martha Parry disse…
Alencar,

Realmente a Indicação Geográfica significa qualidade, qualidade esta concretizada através de um selo que vem sendo cada vez mais exigido pelo consumidor europeu. Na União Européia já existem mais de 3.000 IGs (vinhos, queijos, azeite, etc...). No Brasil esta pratica é relativamente recente, mas já contamos com 4 IGs, sendo 2 no RS (Carne do Pampa Meridional e Vale dos Vinhedos, uma em MG (café do cerrado) e uma no RJ cachaça de Paraty). Você já deve ter notado que determinadas garrafas de vinho nacional tem um selo “vale dos vinhedos” que nada mais é do que a concretização da IG Vale dos Vinhedos.
Algumas entidades governamentais tipo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e o Ministério do Desenvolvimento Agrário vêm fomentando esta prática e alguns resultados mostram que além de ser um instrumento de agregação de valor ao produto a IG é uma política de desenvolvimento regional.
Em um país como o nosso, e em especial na tão cobiçada Amazônia, com toda sua diversidade cultural e biológica, o potencial é ilimitado. Em 2009 deveremos estar trabalhando juntamente com alguns parceiros a IG do açaí de Igarapé Miri, a IG do cacau da Transamazônica e a IG da farinha de tapioca de Americano. Infelizmente não temos pernas suficientes para incentivarmos neste momento como gostaríamos, IG para grande parte de nossos produtos, principalmente para os produtos processados da agropecuária paraense que fazem parte da rica gastronomia de nosso Estado, reconhecida em todo o Brasil, mas estamos na Superintendência Federal de Agricultura à disposição do produtor paraense e de entidades locais para orientar sobre os primeiros passos em direção ao reconhecimento e à valorização, através de IG, de nossas riquezas culturais e biológicas.

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