Métricas Acadêmicas

Recebi de Flávio Nassar, Professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo e Coordenador do Fórum Landi da Universidade Federal do Pará - UFPA, um artigo em que propõe a refundação da nossa Alma Mater.
Em certa passagem, ele afirma que o  professor comprometido com as causas sociais e coletivas, que aliava atividade intelectual com uma práxis política, foi sendo substituído pelo atual do padrão MEC-Capes-CNPQ que, a despeito da grande especialização e títulos, é muitas vezes analfabeto político, como definiu Brecht. Correndo atrás dos índices de produtividade exigidos pelo modelo atual "publish or perish" (publicar ou perecer) - continua Flávio -  perde-se o compromisso crítico e exacerbam-se os egos e o individualismo. Neste universo  - arremata Flávio - a preservação do status quo é sempre uma tendência.
Respondi com uma mensagem despretensiosa, com cópia para os demais destinatários, e como recebi retorno positivo e incentivo de um deles, resolvi reescrevê-la e publicá-la aqui.
Começo dizendo que concordo com o programa proposto por Flávio Nassar para refundar a nossa Universidade.
Mas penso, ainda que provisoriamente, que o uso de indicadores de desempenho, por si só, não é algo malsão.
Talvez tenha que haver um aprimoramento das - e nas -  métricas, que é o grande problema delas todas. Quem adota métricas nunca está satisfeito com elas e sempre busca melhorá-las. O que é impossível é não tê-las.  Uma comunidade acadêmica é um bem de todos,  um enorme capital intelectual e tem que ser bem administrado. Tem que haver uma gestão do conhecimento acadêmico. Por isso tem que existir métricas. Quem não mede não administra.

Se o modelo MEC-CAPES-CNPQ não é o melhor, tem que ser aperfeiçoado, mas não podemos prescindir das métricas.

Pelo que pude perceber da crítica de Flávio Nassar, ele não se conforma com o foco - talvez excessivo e exclusivista - na publicação de trabalhos. Também tenho críticas a esses rituais de validação do saber acadêmico, que podem estar levando a um publicar por publicar e ao surgimento de curriolas acadêmicas. Na minha área - direito - se publica muita coisa ruim - e muita coisa boa também, é claro -  e os mecanismos de validação acadêmica deixam muito a desejar, pelos resultados que constato no nosso dia a dia forense. O direito é uma técnica relativamente decadente, quando comparada com outras técnicas em clara ascensão, mas os juristas não percebemos isso. E os circuitos de validações acadêmicas continuam produzindo estrelas e luminares que, na verdade, podem muito bem estar levando o direito para um buraco negro, com força gravitacional forte o bastante para não deixar que a luz saia dele. Técnicas bem mais jovens - administração e economia, para dar dois exemplos - passaram na frente do direito, bem mais antigo. Mas os juristas não percebemos isso e continuamos produzindo títulos e artigos indexados, que em boa parte servem para pouca coisa ou quase nada. Assim, o progresso da ciência e da humanidade prescindirá de nós,  juristas, da academia ou de fora dela, mas ainda assim fingimos estar dando uma contribuição relevante para uma e outra.

Imagino que algo parecido acontece em outros ramos do conhecimento.

Por isso tendo a concordar com Flávio Nassar, ainda que parcialmente. As métricas atuais estão produzindo distorções e por isso precisam ser aperfeiçoadas. Talvez para incorporar indicadores de desempenho dos acadêmicos vinculados ao resultado efetivo de seus artigos, dissertações, teses, monografias e ensaios. Por exemplo: qual o impacto de um artigo de um doutor em medicina sobre a taxa de mortalidade infantil? Qual o impacto de uma tese de direito penal sobre os índices de violência urbana? Qual o impacto de uma dissertação de mestrado de um agrônomo para o aumento da produção e produtividade agrícola regional?

Talvez assim a produção acadêmica passasse a ter uma direção e um centro que não fosse o próprio umbigo dos orientadores e orientandos.

Se o que estou dizendo está fora da realidade, por favor, desconsiderem tudo o que eu disse, pois estou fora da academia e posso estar simplesmente equivocado. E com direito, por isso mesmo, ao benefício da dúvida. Metódica inclusive.

Comentários

Anônimo disse…
Você mesmo reconhece que há deformações na formação jurídica. A minha hipótese é que universidade é crucial em toda e qualquer formação deste nível. Pois, pelo contrário, significa que essa profissão não carece de diploma de nível superior para ser exercido. Sendo assim, essa não contribui no que qualifica, como também pelo contrário. Antes isso pergunto:
1) que lição de direito deixa universidade em que o fatos relatados em www.portal.ufpa.br/docs/audin2002.pdf, acontecem e por isso tudo que vejo é gente rindo, até promovido?
2) Que lição de direito ensina uma universidade em que dois grupos que têm maioria de voto, pode decidir o que quiserem, como ocorreu para eleição para reitor, e ocorre em qualquer instância, sem que precisa observar qualquer lei, ética e moralidade pública? Com que direito, ante isso, um docente pode querer, por exemplo coibir que eles ¨votem¨ colar numa prova? Lembro que esses são maioria, no mínimo dois, os colegas irão se omitir e o docente é um só?

3) Que moral tem uma instituição quando ante qualquer queixa da parte do estudante contra docente irá formar comissão em que o docente fará parte e outros são outros que só ingressaram graças a este ter feito um concurso com carta marcadas só para esse ingressar? Que moral, antes tais coisas, tem para punir jovem que para se formar alegar precisar fraudar conceitos, por achar que é reprovado sistematicamente por perseguição?



4)Que lição de direito esnina uma univeridade em que o reitor preside o exetutiva (reitoria), preside os legislativos (Todos os Conselhores superiores) e o judiciário (nenhum sindidância pode ser aberta sem a anuência deste e nem a PF investigar sem a sua solicitação expressa). E ainda tem ap seu dispor serviço psiquiátrico, com poder de solicitar exame de sandidade mental em qualque um que ache conveniente, caso esse não se disponha calar-se ou pedir demissão.

Postagens mais visitadas